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CHEGARÁ O DIA
Acadêmico: José Renato Nalini
Chegará o dia em que isso - semana de 4 dias ou trabalho remoto - será obrigatório até para os mais atrasados. O tempo dirá.

Chegará o dia

Tudo o que se puder fazer para reduzir a necessidade de locomoção e, portanto, impactar positivamente o transtorno do trânsito, precisará ser feito. Se não for agora, por discricionariedade daqueles que decidem, será mais tarde e de forma traumática. As cidades não resistirão muito aos efeitos nefastos da mudança climática. Quando os dias forem enfumaçados, pelas queimadas criminosas, quando as pessoas não conseguirem respirar, então talvez os patrões, os chefes, as autoridades renitentes concluam que é melhor deixar o funcionário em sua casa, embora dele exigindo produtividade.

O Judiciário comprovou durante a pandemia, que as audiências online solucionaram múltiplas questões. A dificuldade de localização de vítimas e testemunhas. A realização de acordos considerados impossíveis. O aumento das respostas jurisdicionais que impediam o processo de chegar ao fim. E o bem intangível, mas considerável, do bem-estar de quem não precisou se paramentar, tomar condução, perder tempo no trânsito. Todos trabalharam satisfeitos.

Somente um obscurantismo que costuma acometer os chefetes, os que se revestem de uma autoridade simbólica démodé, é que exige presença contínua no ambiente de trabalho. Ninguém segura o desenvolvimento científico e tecnológico por vontade humana impotente. Dia virá em que isso será a única resposta possível.

Enquanto isso, é importante pensar em modalidades de racionalização dos serviços, como a redução da jornada de trabalho, permanentemente, para quatro dias.

É medida que diminui as emissões de gases causadores do efeito-estufa, esses mesmos que vão abreviar nossa vida e talvez cessar a experiência da vida humana sobre este maltratado planeta. Já existe uma entidade, a 4Day Week Global, que estimula os trabalhadores a discutirem o tema com suas empresas. O móvel é o impacto dessa medida na diminuição das causas do aquecimento global.

O mundo não está cumprindo o compromisso de reduzir as emissões, para impedir o aumento da temperatura. Precisa pensar com urgência em alternativas. Uma delas é a semana de quatro dias, o que representa menos deslocamentos, gasto de energia, combustíveis fósseis e potenciais mudanças de hábito.

Não é achismo, ou tentativa de proteger o lado mais fraco - o empregado, o funcionário, o subalterno - da tirania dos patrões, dos chefes, das autoridades. É conclusão de pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Reading, na Inglaterra. A conclusão foi a de que se todas as empresas e organizações do Reino Unido passassem a adotar a semana de quatro dias, os deslocamentos para o trabalho diminuiriam em mais de um bilhão de quilômetros por semana.

Além disso, as empresas economizariam 2,2 do faturamento total por reterem talentos e veriam sua produtividade substancialmente aumentada. Um subproduto bem interessante - e urgente - é o de que a mudança para a jornada de quatro dias, sem perda de salário, diminuiria a pegada de carbono da Inglaterra em cento e vinte e sete milhões de toneladas até 2025, que já está ali. Uma redução de 21,3, é mais do que toda a pegada de carbono da Suíça. Importante: equivale a retirar das ruas vinte e sete milhões de carros: quase a totalidade da frota de veículos particulares do país.

Empresários inteligentes já fazem isso em São Paulo. A primeira empresa a se afiliar à 4Day Week Global segue o padrão proposto: escalona o dia a mais de descanso às sextas e às segundas. Dessa forma, o trabalhador tem sempre quatro dias de trabalho e três de folga seguidos. E a empresa não interrompe suas atividades sequer por um dia.

É óbvio que a coragem para esse passo é mais fácil em países desenvolvidos, como Holanda, Nova Zelândia, Irlanda, Noruega e Emirados Árabes. Estas, ao lado do Reino Unido, já adotam o sistema.

O governo brasileiro, em todos os níveis, precisaria implementar tal sistemática. Tem-se notícia de que em todas as repartições existem momentos de pico e momentos ociosos. Sem falar no excesso de pessoas contratadas para dar a impressão de que existe serviço invencível. Confiar no funcionário e permitir que ele tenha jornadas à distância é algo impensável para a carcomida burocracia tupiniquim. Mas a necessidade obrigará a conversão dos retardados, que querem os subordinados a seus pés e sob seus chicotes.

Chegará o dia em que isso - semana de 4 dias ou trabalho remoto - será obrigatório até para os mais atrasados. O tempo dirá.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 07 07 2023



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