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HÁ GOVERNO? SOU A FAVOR
Acadêmico: José Renato Nalini
Empresários sensíveis e inteligentes sabem que governo é servo da população e não o contrário.

Há governo? Sou a favor

O negócio da empresa é o lucro. Regra válida e legítima. Porém, há de ser encarada com moderação. A agenda ESG se propõe a equacionar a busca desenfreada com as necessidades da Terra e da humanidade. Os maus tratos em relação à natureza são causados por ignorância e ganância. Rima eloquente. E governos cooptados por mercado egoísta e propagador da matriz da separação cruel entre incluídos e excluídos podem ser parceiros da perversidade.

A História pode comprovar que isso não é novidade. Leia-se o livro "Bilionários Nazistas", de David De Jong. Ele mostra que bilionários alemães ligados a marcas famosas e tradicionais progrediram com o regime nazista. Nem sempre eram nazistas de carteirinha. Apenas apoiaram um governo que cumpriu o que prometia.

Houve uma reunião singular entre o alto empresariado alemão e a hierarquia superior do Partido Nazista, em 20 de fevereiro de 1933. Foram os empresários comunicados pelo próprio Hitler, de que planejava acabar com a democracia alemã por meio da última eleição da história do partido. Este iria reinar por mais de um século.

Hitler então profetizou: "A empresa privada não pode ser mantida na era da democracia. Ela só é concebível se o povo tiver uma ideia sólida de autoridade e de personalidade". Para proteger os direitos das empresas, Hitler pediu que os seus donos doassem para a campanha do Partido Nazista. Aceitaram a proposta de oferecer três milhões de marcos, ou seja, cerca de vinte milhões de dólares, ao fundo eleitoral da coalização liderada por Hitler.

Em contrapartida, todos receberam a confirmação de generosos contratos de fornecimento para o governo, durante o processo de rearmamento da Alemanha. Foi o que ajudou a deflagrar a Segunda Guerra Mundial - 1939-1945.

Mais do que isso, os bilionários pró-Hitler se beneficiaram e se tornaram ainda mais ricos e poderosos, com o processo de arianização das empresas. Leis antissemitas impostas pelo ditador fizeram com que empresários judeus vendessem suas companhias ou ações a preço vil. Evidentemente, os compradores eram alemães não-judeus. Muitos dos proprietários assim forçados sequer chegassem a receber a ínfima paga da alienação de seus projetos de vida.

Um deles, citado no livro de David De Jong, foi Adolf Rosenberger, fundador da Porsche, cuja parte da empresa foi transferida para a família de seu colega Ferdinand Porsche. Quando recorreu aos novos donos para que o ajudassem a fugir de Hitler e do Holocausto, recebeu firme rejeição.

Isso aconteceu com inúmeros outros empresários judeus sacrificados durante o extermínio de cerca de seis milhões de seres humanos.

Os judeus e os povos da Polônia e da União Soviética foram requisitados para trabalhar na condição de escravos, durante o período de sustento e preparo da Alemanha para, ao lado da Itália e do Japão, hostilizar o restante do mundo. Para o autor de "Bilionários Nazistas", esse era um processo de destruição populacional por meio do trabalho. A intenção de Hitler e de sua gangue era explorar tais pessoas ao máximo possível, até que, extenuadas, tirassem a própria vida ou perecessem como consequência dessa verdadeira escravização.

Cumpre observar que existe um preocupante e aterrador paralelo entre o regime nazista e situações recentes de colaboração de empresários com ditaduras. Se prevalecer o lema "o negócio da empresa é o lucro e exclusivamente o lucro", assistir-se-á a espetáculo já experimentado há pouco tempo, eis que ainda não decorreu um século da explosão do segundo grande conflito mundial. "O capitalismo é amoral na sua essência. O importante é o lucro. O que vemos nesses regimes é que os homens de negócio acabam seguindo a linha do governo", diz David Jong.

Essa adesão incondicional é perniciosa à Democracia. Por isso é que a pauta ESG é também uma via democratizante, com vistas à tutela ecológica, redução das desigualdades e gestão inteligente das políticas estatais, cuja conciliação impedirá a rendição incondicional do mercado à volúpia autoritária de tiranetes que surgem como cogumelos nestes plúmbeos tempos.

Empresários sensíveis e inteligentes sabem que governo é servo da população e não o contrário. Fazer com que o governante atenda ao bem da cidadania e não aspire totalitarismos que signifiquem retrocesso atroz na escalada civilizacional da humanidade.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 06 07 2023



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