|
||||
| ||||
Acadêmico: José Renato Nalini A nova economia gera um potencial imenso de ganhos. Todavia, disso o Brasil ainda não se deu conta.
Descarbonização é negócio Está na ordem do dia, para os que pensam no amanhã, planejar equações existenciais que partam de uma constatação evidente e singela: o planeta não suportará mais a insanidade humana, responsável pelo fim da História. É urgente repensar a fórmula até então vigente. Não é impossível inverter a lógica inclemente do sacrifício insensato do patrimônio natural. É preciso pensar verde! A nova economia gera um potencial imenso de ganhos. Todavia, disso o Brasil ainda não se deu conta. Estamos ainda longe de sermos provedores de soluções, como afirma o otimismo simplório. Mas nos foi ofertado, gratuitamente, um patrimônio a ser explorado: nossas reservas florestais. Pense-se sob a ótica do imediatismo predominante: a ótica do cifrão. Agora, preservar é dever econômico, não meramente ecológico. Fóruns de negócio discutem hoje a descarbonização, com o interesse na maximização de lucros, já que descarbonização não é só tema exclusivamente ambiental. A pauta ecológica, transformada em tema econômico, avançou muito. Quando ideologizada, ela empaca. A Europa, sempre à frente dos colonizados por ela, tem um novo ajuste: o "New Deal Green", que une todos em torno à descarbonização, mas como business, não como assunto ecológico. A participação da empresa privada em Fóruns é excelente, mas com uma agenda sólida e planejada, com uma proposta passível de concretização. Chega de turismo de monoglotas que aproveitam se aproveitam dos encontros para passear e não participam com qualquer contribuição efetiva, por mínima que seja. Nesse tema não cabe improviso. Hoje, o combustível fóssil é mais caro do que o combustível sem emissão de carbono. Priorizar, através do diálogo, as opções naturais. Demonstrar que o reflorestamento pode ser mais lucrativo do que uma pecuária retrógrada. O Brasil tem de saber dizer a que veio. Organizar o jogo. Estado e sociedade civil têm de se dar as mãos. As transições energéticas têm de superar a falta de diálogo entre as empresas que se consideram prejudicadas. O tema está em pauta em alguns lugares, com planos estadual e municipal de energia. Quando um projeto é bem feito, há mobilização de capital. É preciso ocupar espaço. Levar as políticas públicas estruturadas, planejadas com solidez e consistência. Não se deve esperar a iniciativa internacional. Se houver foco em previsibilidade, segurança jurídica, visão técnica, surge interesse no investimento estrangeiro no Brasil. Principalmente os de longo prazo, que perpassem governos. Estes devem estar atrelados ao interesse maior que é a preservação da vida no planeta. A criatividade é prover soluções em tecnologias, seja por desempenho, na busca de eficiência. Chega de despreparo e maus exemplos. Faltou resiliência e macrodrenagem, que teriam evitado tragédias como as do litoral norte. E estas não estão distantes, pois o fenômeno "El Ninho" garantirá elevação de temperatura nos próximos anos. O que se está fazendo em concreto para que não haja mais mortes nos deslizamentos de terra? Urge passar por cima de diferenças ideológicas. Há coisas que são inconciliáveis. Há coisas que obtêm concordância. Outras, são obrigatórias. Uma dessas coisas inevitáveis e insuscetíveis de transigência é a questão climática. O Brasil não está muito bem no cenário externo: adulterou dados na ONU, as pedaladas do carbono. Isso não pode mais acontecer. Quando o Estado claudica - e é o que ele mais faz - a cidadania tem de assumir as rédeas. Esquecer as diferenças. Há naturais diversidades, pois o pluralismo é um valor explicitado na ordem fundante. Estabelecer uma relação de confiança com o mundo. Por exemplo, participar mais de fóruns mundiais, exigir compostura do governo, estabelecer ambientes de diálogo, em torno à negociação, motivar os influencers, para que assuma consciência o restante da população. Se o mundo se conecta em torno ao assunto mais urgente, ao perigo mais concreto, por que não o Brasil? É preciso uma proposta concreta para os três grandes encontros próximos: a reunião de cúpula da Amazônia, a COP-25 e o Acordo Paris mais dez. O Brasil está de volta ao mundo. Há um grande otimismo pragmático. O Brasil precisa construir de fato, conciliando o interesse dos poderosos com o daquele que é excluído. Água é recurso biológico. Se algo se praticou contra a segurança hídrica, algo que o Parlamento brasileiro fez recentemente, entregando a água para a Agricultura e não para o Meio Ambiente, isso é demonstração de desconexão. Não cabe achismo ambiental, achismo climático, achismo ecológico. A hora é de ter muito juízo. Provar aos primatas que descarbonização não é conversa de ecochato, mas é assunto que afeta o bolso deles. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 25 06 2023 voltar |
||||
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562. |