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O VERDE TEM PRESSA
Acadêmico: José Renato Nalini
É preciso mais diálogo e com urgência. O verde tem pressa. Se não merecer nossa atenção, o caos não é ameaça remota.

O verde tem pressa

Dá gosto ouvir a ex-Ministra Isabel Teixeira, que esteve em recente encontro na FIESP, para celebrar a Semana do Meio Ambiente. Ela enfatizou o discurso a que poucos brasileiros prestam a devida atenção. O mundo está ameaçado com o avanço da crise climática. Tudo está a exigir se deixe uma posição acanhada, como tem sido a do Brasil, para ser um país mais assertivo, mais dinâmico. O Brasil é um país provedor de soluções. Um país com singularidades, como a Amazônia e o Atlântico Sul, com capacidade de dialogar com o Pacífico e com o Índico.

Faz parte de um seleto grupo de apenas quinze nações, que tem relações diplomáticas com todos os países do mundo. Que vive em paz com os seus vizinhos. A guerra da Ucrânia já gastou quase duzentos bilhões de euros. 15 de todos os recursos disponíveis do mundo, estão comprometidos com a guerra.

O Brasil tem responsabilidade de ser mais ambicioso. O retrocesso ambiental é um retrocesso não para o governo, mas para o país. Um século marcado por crises: o 11 de setembro e o ingresso da China na OMC. Hoje, evidente a polarização China x Estados Unidos, o impacto inimaginável de uma guerra na Europa. Depois de dois Grandes conflitos mundiais, um terceiro seria inimaginável. Mas aconteceu Em Glasgow se pensava em salvar o mundo da crise climática. Três meses depois, estoura a guerra. Convencional, e não digital. Com o uso de instrumentos letais terríveis e que deveriam ter sido banidos da História.

O Brasil tem alternativas. Está na hora de termos audácia e de chamar o setor privado, para explicar qual será essa nova indústria, presente nos discursos. É algo que tem de sair de São Paulo. A sociedade não tem agenda ambiental e nem o Congresso entende bem o que acontece. Ele considera a questão ecológica um assunto comunista. A crise climática está muito longe do imaginário político. E se não fizer sentido para a população, não haverá desenvolvimento. O tema é essencialmente geopolítico.

Todas as discussões estratégicas têm o clima como assunto. Há uma espécie de ansiedade pela descarbonização e um grande desconhecimento sobre o assunto. Precisa-se de discussão estratégica sobre o uso do gás natural. É urgente mudar a mentalidade lá e aqui. É uma agenda que impacta a nossa vida. Como estaremos daqui a vinte anos?

Quais as pactuações que temos de fazer para podermos ter confiança no futuro? As empresas internacionais já consolidaram essa consciência ecológica que aqui ainda é ignorada. Se é "greendoing" ou se será "greenwashing", é outra história. Mas depende de nós. De quem tem lucidez. De quem se preocupa com o amanhã.

Como estruturar o risco climático no mundo dos negócios? Somos reféns do debate sobre o desmatamento. O crime organizado está na Amazônia, na Mata Atlântica, no Rio de Janeiro. A ilegalidade contamina a nossa perspectiva de futuro. A questão climática é de fato um driving de desenvolvimento. Precisaríamos equacionar essa agenda, incluindo clima e sua vinculação íntima com a democracia. A litigância climática é realidade política e econômica. Quando se pensou que precisaríamos de uma Justiça climática?

Tudo fica numa superficialidade exasperante. Quem está engajado na cúpula da ODS? Todos citam os ODS, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Se o Brasil não ocupar o seu lugar, não for visível, esse vácuo será ocupado por outros atores.

Para estar no imaginário político, tem de sair do tom da tragédia. Ninguém aguenta mais tragédia. E a política partidária profissional vive num palanque. Elaborar boas histórias para o futuro, a partir das potenciais soluções que o Brasil oferece. A ousadia não virá dos governos. Virá das sociedades. Da academia, da cidadania e do empresariado. E o setor privado poderá estruturar melhor esse diálogo e levar pronto para Brasília. Impor como pauta inadiável para o Parlamento e para o Governo. A iniciativa privada tem de funcionar com a ressonância do Brasil. O Presidente da República pode pouco. O Parlamento brasileiro deveria estar melhor aparelhado para conversar com outros Parlamentos dos países mais adiantados. Perde-se em discussões estéreis.

A nova geração já sabe ocupar esse espaço. As autoridades não sabem dialogar e vão navegando sem GPS. Precisam se engajar.

O Brasil pode e deve operar como uma ponte entre o novo e o velho. Uma era de convergência da biodiversidade e do uso das tecnologias. Há uma crise da oferta de recursos naturais no mundo. Ou cuidamos disso com amor, deixando de lado a crise de criatividade no Brasil, ou continuaremos a ser atropelados. Há uma discussão de mentalidade analógica no Parlamento, enquanto a sociedade discute a mentalidade digital. Há uma fragmentação nociva. Mundos que não dialogam.

É preciso mais diálogo e com urgência. O verde tem pressa. Se não merecer nossa atenção, o caos não é ameaça remota.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 24 06 2023



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