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Acadêmico: José Renato Nalini Há bons exemplos de ingratidão, mas existem alguns outros que fazem reforçar a crença nos humanos, e Firmino Rodrigues da Silva é um deles.
Gratidão & talento Virtude humilde, o que a faz tão repudiada, a gratidão é sinônimo de bom caráter. O ingrato é sempre um ser inferior, incapaz de um gesto de grandeza. Talvez a circunstância de haver recebido um benefício o faça recordar de sua pequenez. Daí evitar o mínimo contato com quem se mostrou superior e capaz de ajudar quem necessitava. Há bons exemplos de ingratidão, mas também existem alguns outros que fazem reforçar a crença nos humanos. Um destes é a de Firmino Rodrigues da Silva, fluminense de Niterói, onde nasceu em 1815. Foi discípulo dileto de Francisco Bernardino Ribeiro, que o orientou para os estudos e, quando estava no quinto ano da São Francisco, perdeu o líder e amigo. Tão dilacerado o seu coração, que compôs uma "Nênia" a Francisco Bernardino. Paulo do Vale, em seu "Parnaso Acadêmico", afirma: "Com este cântico, Firmino Silva batizou-se poeta, e nada mais produziu em poesia. Mas, de fato, podia quebrar as cordas de sua lira de ouro que, como ele, abriu com uma composição lírica, mimosíssima na forma e corretíssima na linguagem, a nova escola nacional, que Frei Francisco de São Carlos e Santa Rita Durão haviam traçado nos admiráveis épicos, "Assunção" e "Caramuru". Na verdade, ele continuou a produzir textos de elevada qualidade, mas, na poesia, seu pranto se esgotou ao homenagear quem o fizera trilhar com brilho e eficácia os caminhos que o levaram a ser profundo cultor da ciência jurídica. Assim, escreveu "Brasil", participou de inúmeras publicações periódicas, inclusive os jornais "Constitucional" e "Correio Mercantil". É considerado um dos maiores jornalistas brasileiros, ombreando-se com Evaristo da Veiga, Justiniano Rocha, Otaviano, José Maria do Amaral, Quintino Bocaiúva, Luís de Castro, Alcindo Guanabara, Salamonde, José do Patrocínio e outros. Foi nomeado Juiz de Direito de Ouro Preto em 1841 e em 1842 chamaram-no a assumir o espinhoso cargo de Chefe de Polícia da Província das Minas Gerais, o equivalente a Secretário da Segurança Pública. Os mineiros ainda o fizeram Deputado à Assembleia Geral. Casou-se em Minas, onde nasceram seus primogênitos e adotou Minas como sua província natal, tanto que os mineiros o apresentaram, por três vezes, para que o Imperador o escolhesse Senador. Na primeira vez, em 1857, figurou em lista sêxtupla, ao lado de Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, Ministro da Justiça, Luís Antonio Barbosa, Manuel Teixeira de Sousa, depois Barão de Camargos, Antônio Tomás de Godoy e José Pedro Dias de Carvalho. Foram nomeados senadores o primeiro e o último. Na segunda eleição, em abril de 1860, figuraram em lista Teófilo Benedito Otoni, Manuel Teixeira de Sousa, o Barão de Camargos e Firmino. Este foi preterido, pois o Imperador nomeou o Barão de Camargos. Pela terceira vez, em março de 1861, ele encabeçou a lista, seguido por Teófilo Otoni e Luís Carlos da Fonseca. Foi, então, o escolhido. Uma peculiaridade: ele se esquivava da tribuna. Dizia que era melhor escrevendo do que falando. Mas uma ocasião, no Senado, Zacarias de Góes acusava Caxias, de quem Firmino era amigo. Este aparteava dizendo: - "Discordo!". Então Zacarias reagiu: -"Ora! O nobre senador a interromper-me tão amiúde!...Por que não pede a palavra e não vem contestar-me na tribuna?". Impulsivamente, Firmino exclamou: - "Peço a palavra!". Arrependeu-se, mas era tarde. Foi à tribuna. Proferiu esplêndida oração. A mais completa e a mais cabal glorificação dos feitos de Caxias na Campanha do Paraguai. Isso ocorreu na sessão legislativa de 1873. Chegou a ser desembargador da Relação da Corte, onde se aposentou em 1878. Era amigo íntimo do Dr. Inácio Azevedo, pai do poeta Álvares de Azevedo, um apaixonado por suas causas. Muitas vezes, ambos jantando juntos em casa de cada qual, o Dr. Firmino dizia: - "Inácio, reveste-te de coragem para receberes uma notícia má...- "O que é?". - "Proferi sentença contra o teu cliente naquela causa...". - "Que estás dizendo?". - "A verdade. Tu não tens razão...". "É isto" Tu não estudaste... Juiz que não estuda!...Sacrificaste o direito!". Zangava-se e vociferava. Mas, passados cinco minutos, continuavam amigos íntimos. Essa relação de amizade entre Juiz e Advogado, quando almas superiores, em nada agasta a idoneidade da Justiça. Firmino Rodrigues Silva faleceu em Paris, em 4 de julho de 1879. Era um homem que levou a sério a gratidão. Tanto que seu primeiro filho se chamou Francisco Bernardino Rodrigues Silva, em homenagem a seu protetor e amigo. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 14 06 2023 voltar |
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