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Acadêmico: José Renato Nalini O segredo da educação é fazer com que o alunado tenha vontade de permanecer mais dentro da escola.
Profissão? Estudante O tempo reservado ao estudo costuma ser o mais feliz da vida, afirmam os que tiveram bons professores e, desde cedo, acordaram para a importância do aprender. Isso é reafirmado pelo profissional que obteve um diploma que lhe abriu as portas do trabalho digno, decente e compensador. Respeitar a escola é um dos orgulhos de quem conseguiu cursar aquilo que tinha vontade. Incrível como, para certas pessoas, estudar é um sacrifício, um ônus pesado, uma chatice. É o que explica a evasão e o parco aproveitamento de horas que ninguém reporá. O tempo é implacável. Ninguém consegue recobrá-lo. O segredo da educação é fazer com que o alunado tenha vontade de permanecer mais dentro da escola e se entedie com as férias. Algo que tem sido negligenciado em nossa era, caracterizada pelo desapego às aulas, aos professores e aos próprios colegas. Entretanto, quem se devota a estudar biografias, poderá constatar que houve estudantes tão seduzidos pelo ambiente escolar, que dele não queriam sair. É o que explica o fato de um curso de quatro anos levar seis ou sete até o diploma, ou um bacharelado de cinco só se completar em oito ou mais. Um desses exemplos é o de José Joaquim Ferreira da Veiga, do Rio, onde nasceu em 1812. Folgazão, impulsivo, durante seu curso na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco merecia o cetro da realeza da boemia. E sua estada nas Arcadas levou oito anos: matriculou-se em 1829 e formou-se em 1836. Reprovado no primeiro ano, por ter dado mais de quarenta faltas. Repetiu o ano em 1830. Em 1831, não se apresentou para o segundo ano. Repetiu-o em 1832 e foi reprovado. Seu diploma foi arrancado a fórceps. Sua vida, diz Xavier da Veiga, em "Efemérides Mineiras", "foi uma cadeia nunca interrompida de contrariedades, reveses e dificuldades: a tudo opunha ele o forte baluarte do seu humor inalterável". Pelo seu físico e força, era apelidado "o Boi". Era bom capoeirista, irrequieto, sempre exaltado. Por isso, o diretor da Academia denunciava ao Ministro do Império que, "em uma noite das festas de Páscoa, com um estudante chamado "O Boi", por alcunha, e alguns outros, acompanhados de cativos e libertos, inquietaram toda a cidade com "vivas" e "morras", de modo que até aterraram o juiz de paz, e haveria mais consequências se a atividade do presidente não obstasse". Quase duzentos anos depois, eis que isso aconteceu em 1831, pode-se concluir que a arruaça poderia ser a represália do entusiasmo popular contra a postura dos portugueses e dos partidários do Imperador Pedro I, que havia acabado de renunciar. Tanto assim, que outro episódio em que o "Boi" esteve em cena, é bem conhecido pelas tradições acadêmicas. Era uma passeata popular, com banda de música e queima de fogos, que desfilava pela rua do Comércio. Nisso um negociante português, conhecido por sua hostilidade em relação à Independência, faz uma trova ofensiva ao Brasil. A multidão prorrompeu em gritos: - "Mata o galego! Morra o pé de chumbo!". Se o português não se esconde rapidamente, teria sido linchado pela multidão. Mesmo assim, houve vidraças quebradas, portas arrombadas e saque parcial de sua residência. O "Boi" estava na liderança da turba, compartida com outros entusiastas. Mas ele não era obtuso. Talentoso, aventurava-se na poesia satírica. Também trabalhava durante o curso, que fez de forma tão relapsa. Foi solicitador, escrivão de órfãos e ausentes da capital e, logo que formado, foi morar em Minas Gerais, na cidade de Pitangui. Aqui, como não poderia deixar de ser, envolveu-se em política. Foi eleito deputado à Assembleia Provincial de Ouro Preto, entre 1848 e 1855. Como o tempo a tudo remedia, o "Boi" das algazarras paulistanas converte-se em conservador que foi um homem público moderado, sempre com vistas ao bem da comunidade. Continuou, contudo, a compor suas poesias provocadoras. Em virtude disso, conta um de seus biógrafos, Couto de Magalhães: "Seu humor sarcástico levou-o a, quando estava em Ouro Preto como deputado (1851), fazer uma longa sátira em que ridicularizava alguns colegas. Um dos satirizados desfechou-lhe um tiro de pistola, que, felizmente, não teve resultado". Durante uma viagem de Ouro Preto a Cachoeira do Campo, em 11 de agosto de 1855, dia da Justiça, sucumbiu a um AVC. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 12 06 2023 voltar |
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