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Acadêmico: José Renato Nalini Ler o livro "Luísa (quase uma história de amor)", de Maria Adelaide Amaral, é mergulhar num labirinto de emoções atemporais
As Luísas da Adelaide Ler o livro "Luísa (quase uma história de amor)", de Maria Adelaide Amaral, é mergulhar num labirinto de emoções atemporais. Embora datado, pois escrito na década de setenta, ele contém a permanência do amor, das decepções causadas pelos desencontros, a eterna busca por uma segurança afetiva impossível. Quem amou sabe disso. Impossível deixar de reconhecer algumas condutas típicas de uma era de rebeldia e questionamentos. Amores não correspondidos, e que ficam, todavia mais fortes, exatamente porque não consumados. A necessidade de um afeto irrestrito, na eterna busca nunca integralmente satisfeita. Em torno a isso, as discussões eruditas, com os autores da moda. As minúsculas agressões, na ironia, no sarcasmo, na crueldade cáustica reservada aos que convivem conosco e sabem como nos atingir, pois conhecedores de nossas dores e de nossos dramas. Minúsculos, ingênuos e pueris. Porém são nossos e nós é que os superdimensionamos. Apreende-se a personagem que inspirou a autora, sob a ótica de cinco observadores íntimos. Cada qual a delinear um perfil personalíssimo, cujo conjunto evidencia ser inviável chegar à identidade única de uma Luísa que são muitas. Depende do ângulo em que é analisada. Quem viveu a época do autoritarismo tem noção de que a busca desenfreada de relacionamentos, o entusiasmo pela produção musical e pela quebra de paradigmas era uma espécie de sublimação pelo obscurantismo reinante. É muito familiar reencontrar a tribo de Maria Adelaide, que Caio Fernando Abreu tão bem descreve: "Inocentes, (in)úteis, doces canalhas, burgueses atormentados, românticos incuráveis - suas personagens têm dose de vida própria suficiente para pairar sobre o julgamento da autora. Autossuficientes, movimentam-se pelo texto, às vezes pateticamente, como vítimas da sociedade ou de seus próprios autoenganos - mas sempre como seres extremamente parecidos com tantos outros que conhecemos quando olhamos ao nosso redor". Perscrutadora dos recônditos d'alma, Adelaide faz com que o leitor integre a trama, tente penetrar no íntimo de cada personagem e pretenda colaborar com a sucessão dialogal. É forte a vontade de prosseguir o encadeamento das mensagens que reclamam conclusões, ainda que parciais. Esse o segredo do talento. Fazer com que o destinatário da obra se sinta conclamado a complementá-la, a dar certas sequências e alguns finais. Pois a leitura sugere um caleidoscópio de possibilidades, todas viáveis no curso exploratório de seres humanos concretos, tangíveis e que nos parecem demasiadamente próximos. Adivinha-se o que viria em seguida. Mas Maria Adelaide entrega a cada um de nós essa incumbência. - Continue a dissecar os personagens. A fixação num dos amores passado é um sentimento comum a muitos. Não conheço quem tenha deixado de experimentar uma desilusão. Os mais sensíveis conferem colorido que nem sempre existiu na convivência, mas que se tornam apetitosos quando já se não pode desfrutar da companhia desejada. Dentre todos os partícipes do "quase-romance", identifico-me - nesse particular - com Sérgio. Como ele, tive a mulher que "continuou habitando tão obsessivamente a minha vida, que muitas vezes cheguei a pensar se a sua perda não teria se transformado naquele estímulo real de que precisava". Aqui me distancio dele: ele fala em morte; eu falo em vida. Senti-me estimulado a "vencer" na luta pela subsistência. Tudo fazia para que ela soubesse que eu enfrentei desafios e, gradualmente, alcancei aquelas etapas sonhadas por nós ambos em nossa feliz adolescência. Como Sérgio, também me perguntei, muitas vezes, se eu seria "capaz de me apaixonar outra vez da mesma forma e com a mesma intensidade". E consegui, embora o sonho daquela fase tão especial nunca se tenha desvanecido. Anima-me a esperança de que Maria Adelaide Amaral prossiga nesse instigante e intrincado tema. Meio século depois dos setenta, como estarão os cinco examinadores de Luísa? O que teria acontecido com eles? E com a própria Luísa. Sei que ela se inspirou em tipos reais para escrever quase-ficção. Será que histórias de amor se concretizaram, ou tudo permaneceu no "quase"? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 03 06 2023 voltar |
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