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Acadêmico: José Renato Nalini É isso o que precisamos para ontem: convertermo-nos. Acreditar na ciência. Adotar outros hábitos.
Revisitemos nosso interior Mudar é traumático. Acomodar-se é a tendência natural. Moldamo-nos de acordo com a nossa origem, nossos hábitos familiares, nosso estilo de vida. E, de repente, tudo sofre um baque. O planeta mostra sua exaustão, mandando-nos eventos extremos. A fome volta para as ruas e para os lares. Entre os mais de trinta e três milhões de brasileiros famintos, não são todos os que ocupam espaço de uso comum do povo para morar. Muitos têm um teto. Mesmo assim, suas mesas estão vazias. A criminalidade organizada atua com desenvoltura. No mundo macro, a destruir todos os biomas, a ocupar terras indígenas, a explorar minério e a deixar a morte por onde passa, a grilar terras que são de todos os brasileiros. No mundo micro, impulsionando o roubo e o furto de celulares, as gangues que amedrontam os incautos, a deixar o centro das cidades abandonado e sujo. Enquanto isso, a política profissional cuidando de seus próprios egoísticos e cruéis interesses. Não se leva a sério a educação, não se oferece perspectiva a uma juventude entregue à droga - sejam as substâncias entorpecentes, seja a droga do mundo web, que anestesiou milhões de consciências. Uma tábua de salvação está na cultura ESG. Não é modismo. Hoje, a preocupação com os impactos ambientais é obrigatória. O negócio da empresa não pode ser apenas o próprio negócio. Ela tem responsabilidade com uma cadeia enorme e sempre crescente de interessados. Pensar simultaneamente em meio ambiente, em reduzir as desigualdades sociais e em governança é uma alternativa ao caos que se avizinha se nada mudar. Os desafios são diários. Se ninguém pensava nisso ontem, hoje e amanhã essa conduta deve merecer uma direção condizente com as urgências postas por uma sociedade narcisista, imediatista e consumista. Não se pode esperar tudo do governo. Aliás, quase nada. Há um discurso edificante, muitas promessas, muitos compromissos. Mas uma série de circunstâncias torna esses gestos algo quase inútil. Verdade que o sistema Justiça impede o governo de fazer muita coisa boa. Sistema intrincado, com quatro instâncias e múltiplas oportunidades de reapreciação do mesmo tema, graças a uma estrutura recursal caótica. Mas aquilo que poderia ser feito sem injunções do Ministério Público e do Judiciário também não se faz. Por isso, a iniciativa privada é a bola da vez. Sobreviveu às intempéries - que não são poucas. O governo parece ter ojeriza pelo lucro. Prefere manter tentáculos que sugam os minguados recursos de uma sociedade sacrificada, a pagar os maiores tributos do mundo para obter serviços de péssima qualidade. De qualquer forma, o empresário é um herói e um vencedor. Ele é que precisa agarrar com força a agenda ESG e começar a 1) replantar; 2) incentivar a formação de viveiros; 3) estimular a juventude a encarar o trabalho no campo como alternativa mais digna do que estudar para cursos que prometem e não cumprem; 4) criar cursos dos quais o Brasil precisa, como o de cultivo de espécies nativas, restauração de espaços degradados, renascimento de nascentes, agregação de valores às comodities. Na área social, propiciar 1) alfabetização de analfabetos totais e de redução do analfabetismo funcional; 2) ensinar a mulher a administrar a economia doméstica e a prevenir problemas de saúde da prole; 3) capacitar os desprovidos de qualificação, para a obtenção de trabalho digno. No aspecto governança, pensar sistemicamente: estou contribuindo para melhorar o meio ambiente, cuido da natureza e de repor suas perdas, estou redimindo meus semelhantes dessa carga excessiva de carências que acometem justamente os menos favorecidos? Essa filosofia serve para o grande empresariado, mas serve também para pessoa física. Se não mudarmos com urgência o nosso paradigma existencial, seremos parte do agravamento do problema. Tudo o mais se tornou supérfluo, diante do maior perigo que ronda a humanidade: a mudança climática, resultado de nossa insensatez. Ou nos convertemos agora, ou pereceremos todos. É isso o que precisamos para ontem: convertermo-nos. Acreditar na ciência. Adotar outros hábitos. Pensar no amanhã e em nossa responsabilidade moral e jurídica em relação aos que ainda não nasceram. Foi isso o que o constituinte de 1988, em nosso nome, colocou no artigo 225 da Constituição Cidadã, que já foi chamada de Constituição Ecológica e considerada um notável marco na história do constitucionalismo universal. Revisitemos o nosso interior e flexibilizemos nossa consciência empedernida, que nos faz pensar que não temos nada com isso e que tais questões são problema exclusivo dos maus governos que elegemos. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 13 05 2023 voltar |
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