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A SAÚDE E A EDUCAÇÃO PAULISTANA
Acadêmico: José Renato Nalini
Saúde e educação precisam andar juntas! Mas caminham separadas!

A saúde e a educação paulistana

A preocupação com a saúde é permanente. Hoje, como ontem e como sempre. Deve-se reconhecer o empenho da gestão pública em propiciar vacinação para todas as pessoas, serviço que funciona. Talvez ainda falte um compromisso mais consistente com o aspecto preventivo. Um pouco de atenção para com as atividades físicas permanentes aliviaria o fardo da saúde pública. Assim como o incentivo ao esporte, em todas as suas modalidades, mas abertas à participação de todos em caráter contínuo.

Países mais desenvolvidos reconhecem ainda melhor do que nós, a importância da precaução e da prevenção. Até porque é muito mais dispendioso cuidar das consequências da falta de atenção para com ambas. Prevenir é sempre melhor do que remediar, já dizia a sabedoria popular. Saúde e educação precisam andar juntas! Mas caminham separadas!

Um destaque na saúde paulistana é a Santa Casa de Misericórdia, fundada no século XVIII e que encontra abnegados como Antonio Penteado Mendonça, que assumiu a sua provedoria em tempos singularmente difíceis.

Cabe lembrar que a Santa Casa é o sustentáculo da pobreza desamparada. Continua a sê-lo, pois essa a missão assumida desde a sua fundação. Mereceu em 1836 nova sede e pouca gente sabe que ela resultou da doação de Toledo Rendon de quatro anos de seus vencimentos como diretor da Academia de Direito, as Arcadas de São Francisco. Foi uma notícia do "Correio Paulistano" de 6 de julho de 1832.

O mecenato nunca foi um forte para os brasileiros e os paulistas não fogem a essa regra. Durante algumas campanhas, respondem ao desafio. Foi o que se verificou durante a pandemia da Covid19.

Mas a luta é grande. Convencer o capital de que é lucrativo excluir a possibilidade de perdas derivadas da falta de saúde da população não é tarefa fácil. E sempre foi assim. Atividades subsidiárias da Santa Casa enfrentaram tais dificuldades. Na primeira metade do século XVIII, ela cuidava de um leprosário. A maioria dos leprosos era ainda formada por escravos. Mal cuidados e condenados à morte.

Entre 1825 e 1831, dos cento e nove enjeitados que apareceram na então "nova roda" dos expostos, sessenta pereceram, em grande parte devido à negligência das amas às quais foram confiados. Também era incumbência da Santa Casa cuidar dos presos e segregar os dementes.

Mas São Paulo era outra. A ausência de cemitérios era uma causa deficiente na propagação de moléstias. Em 1829, a Câmara confiou a D.P. Müller o projeto de um cemitério que ficasse distante de qualquer residência. Por essa época, um deputado provincial solicitou à Assembleia que pusesse fim à "prática supersticiosa e ofensiva" do sepultamento em igrejas. Era necessário criar cemitérios públicos em todas as cidades, para que os corpos fossem enterrados a sete palmos de profundidade com pelo menos um palmo e meio de separação. Só que a comissão encarregada de estudar o assunto culminou por não existirem meios praticáveis de burlar esse costume, tutelado por uma lei nacional.

Por isso a prática prevaleceu. O cadáver era trazido para a sua igreja. Levantavam-se as tábuas do soalho. Cavava-se uma rasa sepultura e o recém-chegado, geralmente desprovido de esquife, restava misturado aos ossos dos antepassados e à terra úmida. Revolvida a terra e recolocadas as tábuas, as mulheres piedosas retornavam às suas longas horas de orações, ajoelhadas por sobre esse soalho.

Eram tempos em que a cidade prezava os mortos e negligenciava a juventude viva. A educação tivera projetos irrealizados. Martim Francisco, irmão de José Bonifácio, elaborara a "Memória sobre a reforma dos estudos na Capitania de São Paulo", em 1816 e apresentada à Assembleia Nacional Constituinte em 1823. Era um documento parcialmente plagiado de Condorcet, o francês Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, Marquês de Condorcet (1743-1794), filósofo e matemático, autor de obra muito lida à época.

A proposta era a substituição da educação verbalista, latinizada, teológica e de cunho jesuítico de uma elite, por sistemas de escolas primárias e secundárias livres e abertas a todos. O currículo teria caráter utilitário, com o desenvolvimento das aptidões individuais e ensino vocacional básico. As escolas deveriam banir o castigo corporal. Métodos e material de ensino adequado à realidade brasileira. Nada obstante o educando devesse receber princípios de conduta moral, a instrução religiosa era dever da Igreja e da família.

Há mais de duzentos anos já se afirmava isso. Nada se concretizou até agora. Esperar mais? Até quando?

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 30 04 2023



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