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AGRURAS PAULISTANAS
Acadêmico: José Renato Nalini
São agruras paulistanas que afugentam os cidadãos, deixando espaço para a delinquência. Não se pode conviver placidamente com isso.

Agruras paulistanas

Tenho defendido a revitalização do centro e acredito que só com a utilização mista - moradia, comércio, lazer e serviços - ele poderá a voltar a ser como era. Ou até melhor, já que se deve acreditar na evolução da humanidade. Mas os tempos não são fáceis.

Quinta-feira, véspera de feriado, participei de um belíssimo evento. Um concerto na Sala São Paulo, com a Orquestra Sinfônica do Estado e músicos da Orquestra do Ntional Centre for the Performing Arts - NCPA. O simpático maestro Kevin John Edusei como regente e o violinista Ning Feng, um dos melhores do mundo. Quatro peças memoráveis: de Li Huanzhi, a Abertura Festival da Primavera, o concerto para violino em ré maior, opus 61, o Concerto Romeno de György Ligeti e a Sinfonietta de Leos Janácek. Um sonho, antecedido pela magnífica recepção oferecida pela Cônsul Geral da China, Dra. Chen Peijie, incansável no engenho e arte de bem representar seu maravilhoso país em nosso Estado, ao lado de seus zelosos Gabriel Liu e Lucas, além da presença da Secretária da Cultura Marília Marton.

Acontece que, ao deixar a Sala São Paulo, ao tentar chamar um Uber, um ciclista me arrebata o celular das mãos e praticamente quer me arremessar ao solo, com o violento choque. Lá se foi um instrumento de trabalho, com valioso acervo não só necessário e útil, como afetivo. Fotos da família. Agenda. E, pior ainda, todos os dados bancários.

Em trinta minutos, os criminosos fizeram quatro saques na minha conta-corrente. Desativaram todo o sistema protetivo - frágil e amador - constante do celular.

Sei que contribuí. Não é de hoje que sabemos dessa prática lucrativa para os marginais. Todo o centro de São Paulo é palco dessas ocorrências. Mas a gente pensa que o próprio dia de provação nunca chegará.

Algumas observações precisam ser feitas. Quando se pretende a devolução do centro paulistano à população não criminosa, seria oportuno manter ao menos uma viatura da PM no encerramento de atividades na Sala São Paulo, no Teatro Municipal, nos prédios do SESC, pois não é difícil monitorar eventos que atrairão grande frequência.

Há pouco, assistimos a episódios na Pinacoteca e muitos potenciais frequentadores se manifestaram no sentido de que não iriam participar de atividades nesses locais, pois o perigo é grande.

Uma viatura inibiria a ação desses delinquentes que bem sabem aquilatar o nível de quem se dispõe a ouvir música erudita. Na maioria, pessoas adultas e muitos idosos, como eu. Público vulnerável, portanto.

Outra reflexão: os Bancos precisam ter esquemas de controle mais rigorosos. Nunca fui de fazer seguidos saques de grandes quantias, principalmente às vinte e três horas! Como é possível facilitar tais transferências?

Mais uma coisa: tentei fazer o boletim eletrônico de ocorrência. Extremamente minucioso. Leva um bom tempo. Quase chegando ao final, pedem o número de identificação do celular. Diz que figura na caixa em que ele vem acondicionado, quando da compra. Ou da nota fiscal. Antigamente eu guardava todas as notas fiscais. Hoje não guardo mais. E o tal número de identificação ficou gravado exatamente ...no celular!

Não se consegue ultimar a elaboração do boletim eletrônico de ocorrência. Mas soube por amigos que, depois disso, ainda se deve comparecer à delegacia de polícia. Então, qual a vantagem?

Também algo que deveria ser aperfeiçoado. Quando se solicita à Vivo o bloqueio da linha, recebe-se a notícia de que o sistema está "fora do ar" ou temporariamente desativado. Qual a responsabilidade da empresa se o ladrão de celular conseguir outros usos ilícitos durante esse período de "desativação do sistema"?

Enfim, tudo isso merece um pouco de empenho e apuro de todos os envolvidos. Prefeitura Municipal, Governo do Estado, responsável pela maior parcela dos esquemas de Segurança Pública, sistema bancário e operadoras de celular.

A tendência é culpar a vítima: por que ficou com o celular à mostra? Eu estava à porta da Sala São Paulo. Juntamente com muitas outras pessoas. Talvez tenha sido alvo em virtude da idade, mas penso que nenhum cidadão precisa estar à mercê dessas quadrilhas. E como anda o controle dos receptadores? Se existe demanda, é porque existe mercado. Quem vive da mercancia de celulares roubados e furtados em São Paulo?

São agruras paulistanas que afugentam os cidadãos, deixando espaço para a delinquência. Não se pode conviver placidamente com isso.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, 26 de abril de 2023.



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