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Acadêmico: José Renato Nalini Nunca se saberá quem foi o mandante do frustrado homicídio de Prudente de Morais.
Aqui também se tentou É comum a certos brasileiros mencionarem que os Estados Unidos já assassinaram quatro presidentes da República, enquanto no Brasil isso não acontece. Apesar das teorias conspiratórias que envolvem a morte de Getúlio, Juscelino, Jango, Castelo Branco, Costa e Silva e Tancredo, o nosso país não registrou homicídio presidencial. Todavia, já se tentou matar Presidente da República. É bem conhecido o episódio ocorrido em 5 de novembro de 1897, quando o Presidente Prudente de Morais, juntamente com o Ministro da Guerra, Marechal caros Machado de Bittencourt, foram cumprimentar as tropas que haviam participado da Campanha de Canudos. Ao retornarem, um anspeçada - posto militar inferior à patente de cabo - alagoano, chamado Marcelino Bispo de Melo, apontou sua garrucha contra o Presidente. A arma falhou. O Marechal Bittencourt cobriu com o seu corpo o do Presidente ameaçado e, junto com os demais oficiais, quis dominar o agressor. Este largou a garrucha e armou-se de um punhal, com que passou a desferir golpes. Rasgou a farda do Coronel Mendes de Morais, chefe da Casa Militar da Presidência e deu quatro punhaladas no Marechal Bittencourt, que caiu morto. A muito custo outros militares conseguiram imobilizar o alagoano, que foi recolhido ao prédio do arsenal da Guerra. Enquanto isso, chegava o vice-presidente da República, Manuel Vitorino, acompanhado de sua equipe, todos certos de que Prudente de Morais estava morto. Ao tomar conhecimento de que o chefe da Nação se salvara, mas que morrera o Ministro da Guerra, o vice-presidente foi embora, sem ao menos se interessar pela sorte do marechal ainda lançado ao chão. Esse acontecimento mostra a reação de certa parte do governo contra o piracicabano Prudente de Morais. Ele fora o primeiro civil a assumir a presidência, depois da gestão autocrática do "Marechal de ferro", Floriano Peixoto. A boataria atribuía a Prudente a pecha de inimigo dos militares, os quais lançara na aventura de Canudos para enfraquecê-los. Os florianistas espalhavam que se preparava o retorno à monarquia e com isso incitavam a ralé, que matou o Coronel Gentil de Castro, sob a suspeita de ser líder da reação monarquista. Prudente de Morais fazia jus ao seu nome. Era sereno, equilibrado, aos poucos recompunha a ordem no país. Isso enfurecia os jacobinos florianistas, que tramavam a sua morte. Marcelino Bispo não admitiu atender ordens de qualquer pessoa, ao pretender assassinar o Presidente. Invocava um juramento que não poderia quebrar. Apurou-se uma vinculação com um capitão honorário de nome Deocleciano Mártir. Interrogado, este não admitiu qualquer ligação com a tentativa criminosa. Só que a polícia conseguiu elementos comprobatórios de um complô que unia diversos líderes oposicionistas, como o Capitão Moreira, os deputados Torquato Moreira, Barbosa Lima e Irineu Machado, os senadores Francisco Glicério e João Cordeiro e, a final, o próprio vice-presidente da República, Manuel Vitorino. Comprovou-se que Deocleciano queimava cartas comprometedoras de Glicério e Irineu Machado que tinha em seu poder. Funcionários da Câmara afirmaram que muitas vezes Barbosa Lima confabulara com Deocleciano Mártir e que este admitira, sem rodeios, de que a morte de Prudente de Morais era a única fórmula para que à presidência do Brasil chegasse Júlio de Castilhos. Como acontece em hipóteses semelhantes, - e isso acontece até hoje, pois é próprio da natureza humana - houve explicações evasivas e fuga a qualquer responsabilidade. Constatou-se também que em correspondência de Manuel Vitorino mantida com amigos na Europa, o vice-presidente afirmara que ele estava à espera, no Rio de Janeiro, de "fatos extraordinários". Enfim, um grupo grande de pessoas unidas pela postura antagônica à de Prudente de Morais poderia ter sido responsabilizado pelo atentado. Para a polícia, todas as oitivas conduziam à convicção de que os envolvidos mereceriam se submeter às agruras de um processo criminal. Segundo a polícia, Marcelino Bispo era mero agente de um movimento bem planejado e construído com a participação de inúmeros interessados na morte do Presidente. Embora o inquérito policial tenha terminado já em 10 de janeiro de 1898, o processo-crime não teve andamento regular. O tempo foi passando e os fatos relegados ao olvido. Quanto a Marcelino, dias depois do seu interrogatório, veio a falecer. A imprensa noticiou suicídio. Enforcara-se com lençol amarrado às grades da prisão. Um fotógrafo que retratou o suicida de frente e de costas, passou a afirmar que ele nunca poderia ter praticado suicídio. Mas foi a versão que prevaleceu. Nunca se saberá quem foi o mandante do frustrado homicídio de Prudente de Morais. Publicado no Blog do Fausto Maceedo/Estadão Em 01 04 2023 voltar |
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