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Acadêmico: José Renato Nalini Quem é que hoje se lembra de visitar Líbero Badaró em seu repouso derradeiro?
Quem visita Líbero Badaró? Não estou falando da rua Líbero Badaró, tão conhecida no centro histórico da capital bandeirante. Falo do próprio João Batista Líbero Badaró, nascido em 1798 na cidade de Laigueglia, na Itália, hoje sepultado num túmulo de mármore no Cemitério da Consolação. Quem se lembra dele hoje? Médico filho de médico, estudioso, aos vinte e oito anos de idade veio para o Brasil. Aqui chegou quatro anos após a independência, atraído tanto pela flora, como pelo clima revolucionário que animava o novel Império. Seu primeiro destino foi a Corte. No Rio de Janeiro extasiou-se com a variedade vegetal e escreveu monografia sobre trepadeiras e fetos. Como em 1827 instalavam-se os Cursos Jurídicos em Olinda e São Paulo, Líbero interessou-se pela formação dos jovens brasileiros que não precisavam mais ir a Coimbra para colar grau em Ciências Jurídicas e Sociais. Oferece-se e é aceito para ensinar gratuitamente Geometria, uma das disciplinas da Faculdade do Largo de São Francisco, já em 1828. No ano seguinte, lança um jornal político - "O Observador Constitucional" - em que criticava autoridades e causou natural ressentimento entre os detentores de poder. Em 1830, exercia a Presidência interina da Província o Bispo Diocesano D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, que oficiou ao Governo Imperial dando conta da animosidade gerada pelo jornal de Líbero Badaró. Este não era também pessoa querida do Ouvidor e Desembargador Cândido Ladislau Japiaçu, que foi criticado por ameaçar de prisão os liberais que se manifestaram a favor dos revolucionários franceses quando, nesse mesmo ano de 1830, eles derrubaram a dinastia dos Bourbons. O ponto-auge da intolerância para com Líbero Badaró foi a crítica endereçada ao Imperador e veiculada pelo jornal "O Observador Constitucional". Execrava-se a sua petulância em, como estrangeiro, não poupar o monarca da terra que o acolhera. Em 20 de novembro de 1830, plena noite, dois indivíduos, um dos quais o alemão Henrique Stock, ficaram de emboscada à espera de Líbero Badaró. Quando o médico-jornalista se aproximou de sua casa, então à rua São José - que hoje leva o seu nome - o alemão desferiu um tiro de pistola. Populares acorreram enquanto que o homicida e seu acompanhante fugiam tranquilamente. Gravemente ferido, Líbero foi recolhido e permaneceu no leito. No dia seguinte, 21 de novembro de 1830, confessou-se e comungou pela manhã e faleceu às dez da noite. Segundo se noticiou então, perdoou os seus assassinos e pronunciou: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade". A população, que reconhecia no médico e no jornalista um homem de bem, idealista e generoso no tratamento gratuito propiciado exatamente aos mais carentes, se revoltou e exigiu da autoridade policial, o Coronel Carlos Maria Oliva, prendesse os homicidas. Dois deles foram presos na casa do Ouvidor Japiaçu, que lhes dera guarida. O enterro de Badaró foi na noite de 22 de novembro, à luz de tochas. Grande acompanhamento, comparável com aquele registrado no sepultamento de José Bonifácio, o Moço e no de Luiz Gama. O processo-crime apurou a participação também do Dr. Japiaçu, cujo linchamento era temido e, para sua segurança, foi encaminhado para o Rio de Janeiro. Ao término, foi inocentado. O alemão Stock foi condenado, mas persistiram dúvidas quanto à sua inocência. Corria a notícia de que a ordem para matá-lo partira da Corte. Seu porta-voz foi o Tenente de Caçadores Carlos José da Costa, em conluio com Stock na chácara do Dr. Justiniano de Melo Franco, no Brás. Foi acusado de ser mandante o próprio Imperador. Por isso, quando ele visitou Minas Gerais, os sinos de todas as Igrejas de Ouro Preto repicaram toque de finados, em homenagem e pela alma de Líbero Badaró. Uma das versões então propaladas era a de que o verdadeiro assassino era o Tenente Carlos José da Costa e que Stock apenas apontara a vítima ao agente, que não a conhecia. O militar teve um fim miserável em Santos, abandonado por todos e tido como elemento perverso. Ainda consta que o interesse na morte era da sociedade secreta "Colunas do Trono", criada por José Clemente Pereira. O certo é que esse homicídio abalou ainda mais a reputação oscilante de Pedro I. Em 1889, os restos mortais de Líbero Badaró, que estavam na Igreja do Carmo, foram trasladados para a Consolação, onde o túmulo de mármore ostenta o epitáfio: "S.Paulo.21.Novembre.1889.Alla mano del Sicario. All'injuria del tempo. Vendicano. In G.B.Libero Badaró. Il pensiero del filosofo. Il cuore del medico e del citadino. L'umanitá". Quem é que hoje se lembra de visitar Líbero Badaró em seu repouso derradeiro? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 28 03 2023 voltar |
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