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Acadêmico: José Renato Nalini A História está repleta de fatos pitorescos, alguns realmente incríveis. Dir-se-ia que imaginados pelos ficcionistas mais audaciosos. Porém, são reais.
Causos verídicos O ser humano é um exemplar exótico. Sua conduta é imprevisível. O arsenal de códigos comportamentais é insuficiente para reprimi-lo, quando resolve quebrar as quatro linhas do bom senso. A História está repleta de fatos pitorescos, alguns realmente incríveis. Dir-se-ia que imaginados pelos ficcionistas mais audaciosos. Porém, são reais. Por exemplo: Antonio Barbosa de Oliveira, fazendeiro abastado na Bahia, aproveitou-se da extinção da Companhia de Jesus pelo Marquês de Pombal e ficou ainda mais rico. Arrematou um grande palacete. Durante o reinado de Maria I, comprou um ofício de Tabelião Judicial e Notas que, à sua morte, foi judicialmente disputado pelo filho e pelo genro. Um dos dez filhos de Antonio, José Barbosa de Oliveira, como primogênito, foi destinado a estudar em Coimbra e formar-se em Cânones, pois os pais o queriam na carreira eclesiástica. Enamorou-se de Felicia Maria da Penha de França de Morais e com ela se casou. Deixou-a em Portugal e voltou para o Brasil. Não se preocupava em buscar a mulher e esta mandou para ele um retrato, com uma carta em que dizia: "vide os meus olhos vermelhos de chorarem por você". Isso fez com que ele a trouxesse para o Brasil. Fizeram filhos e, durante um parto, a mulher morreu. Dezenove anos depois, o viúvo José tomou ordens sacras, foi cônego da Sé, Vigário Geral, Tesoureiro Mor e, ao morrer, em 20 de novembro de 1824, era Vigário Capitular e Governador do Arcebispado da Bahia, então sede vacante. Pombal não foi apenas inimigo dos jesuítas. Perseguiu seus desafetos com rigor. Em Aveiro, ainda existem vestígios dos terrenos salgados por sua ordem. Onde existiu o famoso palácio dos Duques de Aveiro, encontra-se uma pilastra onde se lê a inscrição: "Aqui foram arrasadas e salgadas as casas de José de Mascarenhas, exautorado de todas as honras de Duque de Aveiro e outras, condenado por sentença proferida na Suprema Junta da Inconfidência em 21 de janeiro de 1759, justiçado como um dos chefes do bárbaro e execrando desacato que na noite de 3 de setembro de 1758 se havia cometido contra a real e sagrada pessoa de D. José I. Neste terreno infame não se poderá edificar em tempo algum". Crimes lá, crimes cá. Um dos delitos que mais abalaram a sociedade brasileira no segundo reinado, foi praticado pelo Desembargador Pontes Visgueiro. Nasceu em Maceió, em 1811, em 1828 vai para o Seminário de Olinda. Dois anos depois matricula-se na Faculdade de Direito e se transfere para São Paulo onde se forma em 1834. Seguiu a carreira da Magistratura e foi juiz municipal e, depois, juiz de direito em Maceió. Cumulava as funções de deputado provincial e geral. Transferido para a comarca de Paranaguá, no Piauí e em 1857 promovido a Desembargador na Relação do Maranhão. Nunca se casou, mas já idoso, tomou-se de violenta paixão por uma infeliz, que o levou às mais vergonhosas atitudes. Auxiliado por um capanga, assassinou a amante e guardou o cadáver num caixão forrado de zinco e confeccionado especificamente para isso. Quis remetê-lo para Alagoas. Nesse mesmo dia foi a uma festa. Preso e levado ao Rio, foi julgado pelo Supremo Tribunal de Justiça e condenado a morte. O Imperador comutou a execução por prisão perpétua. Foi defendido por Franklin Américo de Menezes Dória, Barão de Loreto. Estudando esse processo, Evaristo de Morais entendeu ter havido um erro judiciário, pois foi condenado um inimputável. Outro personagem foi Tristão Pio dos Santos, Ministro da Marinha na Regência de Feijó. Seus inimigos o chamavam "Alegrão Ímpio dos Diabos". Cessando de viver após longa enfermidade, foi levado ao Cemitério de São João Batista. Era tão grande o acompanhamento, que o féretro só chegou à necrópole noite feita. Depositou-se o corpo na capela, para sepultamento na manhã seguinte. No meio da noite Tristão acordou do profundo ataque cataléptico e, vendo a capela fechada, dormiu no próprio caixão. O coveiro fugiu ao vê-lo. Mas Tristão foi calmamente para casa e viveu bons anos ainda. Para terminar, o que dizia em 1839 o diretor do Curso de Olinda, Lopes Gama, Visconde de Maranguape. Propunha que o curso de direito durasse nove anos, sendo quatro exclusivamente dedicados ao latim. À deficiência do curso devia atribuir-se "a lástima de tanto bacharel ignorante, que não sabe entender os próprios compêndios do curso e que, condecorados com um título acadêmico, são, aliás, objeto de escárnio público, porque pouco ou nada distam de qualquer idiota, faltos das mais ordinárias noções de literatura, falando miseravelmente e escrevendo com imperdoáveis solecismos, barbarismos e neologismos". Ainda bem que hoje é tudo diferente. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 18 03 2023 voltar |
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