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Acadêmico: José Renato Nalini As crianças geradas pelos desfavorecidos já nascem desprovidas das potencialidades asseguradas aos que conseguiram fruir os direitos essenciais a uma cidadania digna.
Olhai para o filho do pobre Meu amigo Reinaldo Papa me propiciou uma experiência instigante: conhecer o Instituto da Criança e do Adolescente, que funciona junto ao Hospital das Clínicas da USP. Embora integre o Conselho da Fundação Faculdade de Medicina há alguns anos, não tinha me inteirado da importância desse Instituto. Recebido pela Dra. Magda Carneiro Sampaio, que responde pela entidade e pela Dra. Jussara S. Oliveira Zimmermann, que coordena a assessoria de humanização, qualidade de vida e voluntariado, recebi uma aula sobre o trabalho ali desenvolvido. A excelência do Hospital das Clínicas da USP é reconhecida mundialmente. As crianças que necessitam do Instituto recebem o melhor tratamento, ministrado de acordo com os avanços científicos, a mais adiantada tecnologia e, o que é principal, com a sensibilidade humana que o pequeno enfermo necessita. Mas o Instituto da Criança parece o "patinho feio" dentre os demais. Ainda tem carências em quase tudo: infraestrutura, equipamentos, móveis e pessoal. Quem acompanha a epopeia dessas mães que ficam ao lado de suas crianças sob tratamento, não deixa de se emocionar. As condições oferecidas a tais criaturas angustiadas e sacrificadas são as mais dignas, dentro das possibilidades, porém ainda distantes do ideal. A utopia dos responsáveis seria destinar acomodações que permitissem a essas abnegadas um cuidado mínimo com o repouso, higiene e alimentação. Além do sofrimento gerado pela situação de saúde do filho, a mãe não dispõe de condições para subsistir a essa provação. Adaptar espaços para uma hospedagem transitória não é difícil. Nada impossível para um Estado com a situação econômico-financeira de São Paulo. Mas para isso - e para sanar as demais deficiências - é preciso chamar a atenção do governo e da sociedade civil. Se a cidadania conhecer de perto o Instituto da Criança, se comoverá e reclamará providências. É urgente que os paulistanos saibam o que é o Instituto da Criança. Visitem as suas enfermarias, vejam com seus próprios olhos como é que são recebidos esses pequenos doentes. Alguns deles, nascem ali mesmo, pois as mães também são enfermas, e lá permanecem durante longos meses. Pois carentes daquela assistência pré-natal à disposição dos incluídos, mas vedada aos excluídos. A verdade é que o Instituto da Criança e do Adolescente, que atende desde o nascituro até o jovem antes de completar vinte anos, é o destino dos menos favorecidos. Dos realmente carentes. Dos que não têm por si a garantia do mínimo existencial, o que é um paradoxo no Brasil que adotou o princípio da dignidade humana como alavanca inspiracional de todo o Poder Público e também da iniciativa privada. Se o Instituto da Criança viesse a merecer, primeiramente a atenção do governo e de todos os que participam dele, a dizer, o Executivo e o Parlamento, não passaria por tantas necessidades. Sua obra é meritória: assistência de alta complexidade. Fruto de um trabalho devotado de equipe interdisciplinar, com vinculação aos objetivos do ensino e da pesquisa. Os cuidados com a onco-hematologia, o Centro de Terapia neonatal intensiva, ligado à Maternidade no Instituto Central, encarrega-se até de transplante de órgãos e tecidos. Passou a atender, o que sobrecarrega os seus serviços, a área das crianças que necessitam de hemodiálise e eram tratadas no Hospital Samaritano, que desativou esse serviço. Isso torna ainda mais urgente a necessidade de uma atenção por parte do Estado e também da sociedade. O empresariado, que já responde por grande parte das deficiências de um Estado tentacular, mas que não dá conta dos préstimos a que se comprometeu, pode fazer mais pelo Instituto da Criança e do Adolescente vinculado ao Hospital das Clínicas da USP, referência internacional. Mas o essencial é que os interessados em atenuar as dificuldades hoje encontradas por um grupo verdadeiramente heroico tomem contato direto com a realidade ali vivenciada. É preciso que o Brasil acorde para a saúde dos necessitados. As crianças geradas pelos desfavorecidos já nascem desprovidas das potencialidades asseguradas aos que conseguiram fruir os direitos essenciais a uma cidadania digna. Olhar nos olhos dessas crianças, todas com problemas graves, que não têm por si as condições de um desenvolvimento compatível com o nosso estágio civilizacional, produz a sensação de remorso por não fazer o que é necessário. Sempre é possível oferecer um pouco de nosso tempo, de nossa atenção, de nosso prestígio e de nossa capacidade de convencer quem possui melhores condições de satisfazer essa demanda legítima, justa e essencialmente moral. Visitem o Instituto da Criança e do Adolescente na avenida Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 647. Agradeço ao Reinaldo Papa, que assimilou a cultura da assunção de encargos cidadãos e às dras. Magda e Jussara, pela lição de vida que me ofereceram na oportunidade. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 12 03 2023 voltar |
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