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Acadêmico: José Renato Nalini Pandiá Calógeras foi historiador, financista, sociólogo, economista, geólogo, mineralogista, pedagogo e moralista. Era uma verdadeira enciclopédia.
Desapego de um verdadeiro patriota Pandiá Calógeras, quando Ministro da Fazenda de Venceslau Braz, contrariou poderosos. A mídia iniciou cruel campanha em que sua honra era questionada. Sugeria-se fosse corrupto. Não titubeou. Não se agarrou ao cargo. Demitiu-se. Sua carta é modelo ético: "Receio que minha ação, em vez de auxílio, seja um estorvo. Não se dirige a Fazenda Pública, principalmente em período como este que atravessamos, sem suscitar grandes dificuldades e sem incorrer, conscientemente, na impopularidade que decorre das restrições impostas pelo momento. Esse é o preço do cumprimento do Dever (sic). Não o alegaria a Vossa Excelência, entretanto, pelo aspecto pessoal que possa ter semelhante fator, se não estivesse convencido de que, para a desenvolução benéfica da ação governamental, a entrada para o Ministério de um elemento novo, sem a pesada bagagem da dolorosa liquidação a que fui obrigado, vale por um fortalecimento e por um incentivo em prosseguir na política racional e digna da verdade orçamentária e de educação tributária do povo, qual se vê, com tanto brilho, nos orçamentos da Inglaterra. Minha saída, portanto, nesta hora, longe de ato de egoísmo cômodo, será talvez pequeno serviço de ordem pública, prestado ao Brasil". Quantas vezes, nesta exótica República, já se viu gesto de tamanha grandeza? Rio Branco, o condutor das Relações Exteriores, confiava plenamente em Pandiá e delegava a ele participação em inúmeros encontros no estrangeiro. Num deles, Pandiá foi sondado para atender a uma demanda externa, mediante pagamento de uma vantagem econômica. Novamente demonstrou sua honestidade. Contou o episódio: ao ouvir as "vantagens de que me seriam feitas. Interrompi-o, dizendo que, embora muito pobre, eu nunca discutiria questões de dinheiro. O que me interessava era a missão, o alto encargo para o qual me chamara a confiança do governo, apesar de todos os drawbacks por mim apontados. O que ele deliberasse quanto ao lado pecuniário, estava de antemão aceito por mim". Brasileiro prestante, devotado à causa pública, afastou-se da política militante, mas desenvolveu, de 1926 a 1930, uma incessante atividade intelectual e converteu-se em apóstolo de ideias que, concretizadas, fariam a grandeza do Brasil. Esteve solidário com São Paulo em 1932. Faleceu em 21 de abril de 1934. Foi historiador, financista, sociólogo, economista, geólogo, mineralogista, pedagogo e moralista. Calógeras era uma verdadeira enciclopédia. Sua obra "Res Nostra", é o livro que melhor sintetiza a sua cultura polimorfa. Frequentador assíduo de arquivos, seu lema era "Pas de documents, pas d'histoire". Seus méritos de historiador são comprovados pelo entrelaçamento da História do Brasil à História Universal. Escreveu "Formação Histórica do Brasil", "Política Exterior do Império", além de muitas outras obras. Calógeras tornou-se geólogo para conhecer o subsolo pátrio e inquirir sobre as suas riquezas; fez-se historiador para sentir a orientação e as tendências da corrente evolutiva do meio social; fez-se economista para determinar a resultante destas duas componentes e apontar os meios de combater as resistências passivas que podem diminuir a aceleração do progresso de sua pátria. Foi um Ministro sui-generis: não mandava, fazia. No prefácio à sua "Res Nostra", Batista Pereira afirmou: "muitas vezes, nos arsenais ou oficinas, os operários, que consertavam ou instalavam máquinas, eram surpreendidos por um contramestre desconhecido que lhes apressava, ensinava e partilhava dos trabalhos. A blusa ocasional não conseguia dissimular aquele estranho operário, cujo ascendente imediato, feito de saber e de experiência, todos sentiam. É o ministro! ...corria de boca em boca. E era realmente". Tudo isso, sem esconder o lado humano. João Pandiá Calógeras era reservado, discreto, praticava a verdadeira caridade. Nunca foi maledicente. Não comentava e nem censurava a má-conduta alheia. Modelo de vida conjugal. Raramente saia de casa; as visitas e passeios eram impreterivelmente realizados em companhia da esposa. Sua mulher, Elisa, era a primeira leitora de todos os seus trabalhos e a ela a primeira dedicatória de todos os livros. Ao celebrar dez anos de casamento, ofertou à esposa um exemplar de "Imitação de Cristo", com a frase: "à minha querida mulher, souvenir de dez anos de felicidade comum e de dores partilhadas". Paris, 15 de abril de 1901. Ao falecer, João Pandiá Calógeras estava no ostracismo, no qual perecem os probos, depois de deixar a vida pública. Quem é que hoje se lembra dele? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 01 03 2023 voltar |
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