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DESAFIOS BRASILEIROS
Acadêmico: José Renato Nalini
Agarrar com força as vantagens de que o Brasil ainda dispõe é o heroísmo que se reclama de todo brasileiro de boa-fé e de boa vontade.

Desafios brasileiros

Embora o Brasil já não seja mais o país dos jovens, diante da tendência de envelhecimento da população, aliada ao bom senso das novas gerações que não são prolíficas, ainda há muitos moços que esperam oportunidades de trabalho digno e rentável.

Antigamente, havia ocupação para todos na lavoura. A tecnologia dispensou a mão-de-obra. Hoje, um engenheiro pilota um sofisticado equipamento que revolve a terra, semeia, depois colhe e ensaca a produção. A indústria já foi o sonho daqueles que participaram do êxodo rural e vieram para as cidades. Só que o setor responsável por 27 do PIB nacional há quatro décadas hoje responde por 11, em trajetória de maior inexpressividade.

O Brasil, uma vez mais, caminhou na contramão. Em lugar de investir em educação de qualidade, manteve a formação convencional, pífia e superada, com base na memorização de informações. Foi atropelado pela irreversível revolução das comunicações, que oferece profusão de dados a mero "clique" numa bugiganga eletrônica.

Outros países não descuidaram dos cérebros de seu patrimônio maior, sobre o qual repousa o futuro da nação e importam pesquisadores que aqui nunca tiveram chance e incentivo.

Mas nem tudo está perdido. O mundo dispõe de duzentos bilhões de dólares para implementar a energia produzida pelo hidrogênio verde, até 2040. Qualquer reindustrialização tupiniquim haverá de passar pela transição energética. O Brasil tem de assumir, com urgência e seriedade, a sua condição de promissora potência ecológica, para mostrar que a fase de "pária ambiental" foi um capítulo trágico da história recente, que deve ser cancelado de nossa história.

Não é necessário sofisticar projetos educacionais, senão implementar aquilo que o constituinte de 1988 legou à sociedade em termos de educação: direito de todos, mas dever do Estado, da família e da coletividade. Portanto, o primeiro mandamento: ninguém está excluído da responsabilidade de educar. Não, necessariamente, de apenas instruir. Educar, define o constituinte, é propiciar o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, qualificá-lo para o trabalho e prepara-lo para o exercício pleno da cidadania.

A mutação tecnológica fez desaparecer ou condenar ao extermínio inúmeras profissões tradicionais. Em lugar delas, surgem oportunidades novas, para as quais o sistema educativo deve encaminhar as novas gerações.

Intuitivamente, o jovem que deveria cursar o Ensino Médio detectou a falência dessa escola "decoreba". É vítima do fenômeno da evasão e acusado de integrar a geração "nem-nem". Não é isso. É que a escola não atrai o aluno. Não consegue competir com a sedutora cornucópia contida nos celulares, nos tablets, nos computadores. A fornecerem informações atualíssimas, coloridas, musicais, enquanto as aulas prelecionais - em regra - são a reiteração de discursos defasados. Não se estimula a participação ativa do educando, que não pode ser objeto, mas é protagonista de sua formação.

As gerações dos nativos digitais têm familiaridade com os novos saberes e aptidão inequívoca para a criação de aplicativos, para a elaboração de games, para a descoberta de utilização híbrida de tecnologias que vão gerar inesperadas possibilidades.

Em lugar do percurso convencional de formação curricular, a educação de que o Brasil carece é aquela que oferecerá ao estudante inúmeros percursos, para que se elimine o fosso aparentemente intransponível entre escola e realidade. Cursos técnicos, iniciação profissional, roteiros que explorem tudo aquilo que a inteligência artificial ainda não pode fazer, para que o exercício de atividades prazerosas também seja a fórmula de realização pessoal de alguém que precisa se sustentar e à sua família.

O aquecimento global, a mais drástica ameaça que recai sobre a aventura humana sobre o planeta, reclama também a multiplicação de humanos cuidadores da natureza, semeadores, restauradores das áreas desertificadas pela ganância e sua irmã gêmea, a ignorância. Infância e juventude ainda não estão irremediavelmente perdidas, como a geração que se encarregou do extermínio do futuro, desmatando sem piedade todos os biomas brasílicos.

Esse o desafio de todos os brasileiros que ainda não perderam de todo a lucidez e a sensibilidade. Sem essa conversão coletiva, o que se avizinha é uma catástrofe que a Terra nunca deixou de anunciar nos últimos anos. Agarrar com força as vantagens de que o Brasil ainda dispõe é o heroísmo que se reclama de todo brasileiro de boa-fé e de boa vontade.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 27 02 2023



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