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Acadêmico: José Renato Nalini Turismo verde, pesquisas sérias e aplicadas e, acima de tudo, a consciência de que se alguém quer mesmo ganhar dinheiro, deve conservar a floresta em pé.
Quer dinheiro? Pare de desmatar Se os compromissos vierem a ser cumpridos, o Brasil ganhará um trilhão e duzentos milhões de reais com o desmatamento zero. Isso representa cerca de duzentos e quarenta bilhões de dólares. Quem o afirma é Bráulio Borges, pesquisador do FGV Ibre - Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas. Hoje é viável servir-se da lógica do CSC - Custo Social do Carbono, a mensurar o impacto das mudanças climáticas na saúde humana e no ambiente, considerados os custos para mitigá-las. Se houver redução do aquecimento, economizar-se-á menos energia para manter ar-condicionado e menor será a elevação dos oceanos. Haverá maior produtividade no agronegócio. Isso funciona e já foi objeto de constatação. A queda do desmatamento nos dois primeiros governos Lula da Silva e consequente redução da emissão de gases causadores do efeito estufa proporcionaram ganho de oitocentos e dezoito bilhões de dólares, ou quatro trilhões e duzentos bilhões de reais para a economia mundial entre 2003 e 2011. Já o período de 2019 a 2022 resultou em perda estimada de duzentos e um bilhões de dólares, ou mais de um trilhão de reais. O pesquisador se utilizou de dados de emissões líquidas do SEEG - Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima e do Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais sobre desmatamento. Se o governo brasileiro conseguir brecar o extermínio da floresta, a captura dos gases de efeito estufa será maior que as emissões brutas. Tais ganhos e perdas interessam não apenas ao Brasil, mas a todo o planeta. Por isso é compreensível que os países civilizados alimentem dúvidas sobre a capacidade tupiniquim de honrar acordos. Afinal, o governo participa de todos os encontros da ONU, de todas as COPs, não se recusa a afirmar a sua identidade verde, mas o que se verifica aqui dentro é o cúmulo da insensatez, dolosa e cruel. É urgente conscientizar o lado ogro do agro de que o combate ao desmatamento é mais lucrativo do que criar gado ou plantar soja em terras amazônicas ou do cerrado. Todos os empresários do agronegócio deveriam ler "Arrabalde", de João Moreira Salles. É um testemunho de que existe um conjunto de condições favoráveis para o Brasil se redimir e deixar de ser "Pária Ambiental", para retomar a sua vocação de potência verde. O Brasil pode liderar o processo de descarbonização, de relevantíssimo interesse para a sobrevivência da espécie e para equacionar os graves problemas que acometem a economia mundial. Gestos significativos foram captados pelos observadores internacionais. O Fundo Amazônia, que havia sido congelado, já existe de novo. A sinalização já foi dada pelo presidente da República e a nomeação de Marina Silva foi recebida com alívio pelos realmente preocupados com o porvir. Agora é aproveitar tudo aquilo que o Brasil ainda tem. Estipular metas mais ousadas. Envolver toda a sociedade nesse projeto de floresta em pé. Para isso, cuidar do plantio de mais de um bilhão de árvores desaparecidas mediante o incessante trabalho da motosserra ou dos correntões. Convencer os próprios moradores de que o destino da Amazônia é o convívio harmônico entre a floresta e sua gente. A Universidade tem de oferecer cursos de tecnólogos em bioeconomia, investir em biologia florestal, identificar os exemplares da milionária biodiversidade, agregar valor àquilo que já se exporta ainda como produto primário, fazer com que a juventude se interesse pelo infindável potencial de oportunidades ali abertas e à espera da curiosidade empreendedora. Urgente é o enfrentamento dos vazios fundiários, áreas não cadastradas e que não têm função definida, mas que servem para os criminosos que delas se apossam, incendeiam sua cobertura vegetal, depois deixam algumas cabeças de gado para dizer que a terra tem dono. Quando o verdadeiro dono são duzentos e treze milhões de brasileiros. O Brasil ainda tem condições de retomar o seu papel de superpotência de biodiversidade, na área ambiental, na área da substituição das matrizes energéticas, no desenvolvimento de uma indústria baseada na exuberante biodiversidade disponível. Turismo verde, pesquisas sérias e aplicadas e, acima de tudo, a consciência de que se alguém quer mesmo ganhar dinheiro, deve conservar a floresta em pé. Publicado no Blog do Fausto Macedo Em 19 02 2023 voltar |
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