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Acadêmico: José Renato Nalini Os problemas brasileiros são conhecidos por todos. Fôssemos relacioná-los, facilmente chegaríamos a mais de uma centena.
Não nos iludamos Bem, já faz um mês que o Brasil tem novo Presidente. Chega de palanque. É óbvio que o inominável precisa de sanção. Mas isso é missão da Polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário. O Executivo federal tem de mostrar a que veio. Os problemas brasileiros são conhecidos por todos. Fôssemos relacioná-los, facilmente chegaríamos a mais de uma centena. Isso, apenas mencionando os mais graves e os mais urgentes. Por exemplo: a fome. Se é verdade que ao menos trinta e três milhões de nossos irmãos passam necessidades alimentares diariamente, o que se está fazendo para acabar com essa ignomínia? Em seguida, como corrigir a maiúscula falha de contarmos com cento e vinte milhões de brasileiros com insegurança alimentar? O Brasil ganhou manchetes no planeta inteiro, devido ao desmatamento da Amazônia e dos demais biomas. O que se fez para zerar, de imediato, esse extermínio? Mais importante ainda, o reflorestamento, que nos reabilitaria no mundo civilizado, uma forma de já não sermos chamados de "Pária Ambiental", ignóbil apelido conquistado por obra e graça dos antiecológicos, já começou? Quais os incentivos oferecidos aos exterminadores do futuro para que eles se convertam e se convençam de que a floresta em pé é mais rentável do que as toras criminosamente extraídas de reservas ecológicas? E a moradia? Continuaremos a construir toscos e antiestéticos "pombais", uma casa grudadinha na outra, evidente falta de gosto e mediocridade numa pátria que já contou com Niemayer, Lúcio Costa, Ruy Ohtake, Paulo Mendes da Rocha, Jean Maitrejean, Ariosto Mila e tantos outros artistas engenhosos da mais criativa arquitetura? Onde as casas com varanda, com horta e pomar? O que se está fazendo para educar todos os brasileiros, tornando-os amigos do ambiente, semeadores de água, criadores de florestas e de reservas florestais, cultivadores de jardins, em lugar de serem fabricantes de desertos? A educação medíocre, capenga e superada, precisa seduzir infância e juventude, para que não se multiplique o número dos iletrados, dos analfabetos funcionais, dos que chegam até à Universidade com dificuldade de se exprimir, de escrever, de entender um texto, de interpretá-lo ou de narrar o que leram com outras palavras? Algum sinal de que o turismo poderá ser uma indústria sólida e poderosa, capaz de oferecer ocupação de qualidade para os criativos jovens que poderão ser guias, trabalhar em resorts, produzir artesanato, aprimorar-se em gastronomia, criar músicas, artes plásticas, tudo aquilo que encanta um estrangeiro ávido por conhecer o exotismo tupiniquim? Para isso, é preciso levar a sério a questão da segurança. Cada turista do exterior assaltado ou assassinado no Brasil, afugenta milhões de outros. Estamos longe da civilização. É preciso sobrevoar o Oceano Atlântico para chegar até aqui. Para competirmos com países que sobrevivem graças ao turismo, precisamos oferecer algo mais do que eles. Temos belezas naturais, mas oferecemos uma imagem lastimável em termos de segurança, de serviço, de confiabilidade. E por falar nisso, qual a proposta do novo governo para tornar o sistema Justiça algo mais previsível, mais eficiente, menos vocacionado a crescer vegetativamente e a ignorar o drama de quem necessita do Judiciário para recuperar seus bens, sua moral, sua honra, sua família? É incompreensível que o sistema Justiça tupiniquim seja tão sofisticado e tão insensível às dores do infeliz que precisa recorrer ao Judiciário. Percorrer quatro instâncias, submeter-se a um sistema recursal caótico, a permitir dezenas de oportunidades de reapreciação do mesmo tema, a exasperar quem percorre o calvário de uma estrutura burocrática, ineficiente, corporativista e imprevisível. A despeito da excelente qualidade da enorme legião dos que nela atuam, sejam os concursados para o exercício de parcela da soberania estatal, sejam os recrutados para apoiá-los. Quem apostou num novo Brasil já se preocupou com o número de Ministérios, com o crescimento da máquina, com as disputas paroquiais, com a distribuição de cargos aos quarenta partidos desta insensatez que é a política partidária profissional de nossa Terra. Mas preocupa-se mais ainda com o tema único, a crítica - legítima, por sinal - ao passado recente. A melhor resposta é o trabalho e é a transformação do cenário. Sem isso, o mal maior, que seria o retorno aos tempos idos e que devem ser esquecidos, pairará, qual ameaça grave, a desafiar a ressurreição da democracia brasileira. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 06 02 2023 voltar |
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