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Acadêmico: Gabriel Chalita O amor é o mais belo guardado que mora em mim. E mora desde sempre.
Guardo nas gavetas da alma sentimentos tantos que, por vezes, deixo de lado o tempo de fora para viver o de dentro. Desde criança, fui acumulando. Nem sabia o que ficava, quando, o que não ficava, partia. Guardo sorrisos de dias simples que explicaram o nascer e o morrer. Nascem as manhãs e, com elas, os perfumes de esperança de viver sem medo. O medo da morte deixo em uma gaveta que, também, guarda a consciência da transitoriedade de tudo. O rio prossegue. O que rio, também. Sou dos que abraçam o riso como expressão de disposição para não atender os desânimos que nascem dos tantos poluidores da alegria. A alegria, na minha alma, mora em mais de uma gaveta. A alegria dispersa os pensamentos desnecessários, as inconclusas incursões quanto ao que foi o ontem. Embora com os meus guardados todos, sou do desapego. Não se prende o que já se foi. Não é possível, nem é bom. O rio segue o curso. O curso da vida é ensinador da plenitude dos instantes. Morrem os dias, morrem as idades, morrem as paisagens tantas vezes ocupadas com amor e dor. Nos compartimentos da alegria, mora, também, a esperança. Nascem os amanhãs, manhãs que aguardarão ações corretas. Nascem os jardins plantados em dias que já morreram. Nascem embelezando a história de histórias ainda grávidas, querendo nascer. Os dissabores ocupam espaço em gavetas inferiores. É difícil pedir que partam, eles que chegaram depois de partes partidas de mim mesmo. De feridas, se fizeram cicatrizes. Permito que permaneçam. É bom que estejam alimentando de memórias os dias de dor. Já não temo a dor nem o sofrimento. Aprendi a guardar com eles canções de silêncio e canções de amor. Canto o amor como um desbravador dos campos da existência. Não desisto dos encontros, mesmo desencontrando, tantas vezes, a verdade. Há cartas não entregues guardadas em mim e há outras tantas que recebi. Pintei de ilusões alguns dias e chorei, sem economias, a ausência. Há os que amei e não me amaram e há os que descobri depois que apenas armazenaram o que sentiram por mim. Por medo viveram a distância. Desperdícios? Quem sabe?! Há os que fingiram sentimentos. E há os que eu fingi acreditar. Era jovem ainda para o uso correto do "não" e do "sim". Moram os dois nas gavetas da alma. E, se estou atento, convivem bem. Saem apenas quando autorizados. Se estou atento. A atenção com o outro, tão ensinador de vidas, fui ganhando aos poucos. Fui lutando contra o que bagunça qualquer gaveta, o egoísmo, e cedendo espaços para outras histórias contemplarem comigo a vida linda que não se cansa de nascer. Se não tenho o poder das demissões dos sentimentos que me diminuem, tenho o poder de aumentar o som dos sentimentos que me elevam. O som que sopra, nos meus ouvidos, entusiasmos. Não nasci para viver caído. Nem para me alimentar de baixezas. Nasci para o voo. E, nas gavetas da alma, moram as asas que preciso para voar voos inteiros em dias inteiros de amor. O amor é o mais belo guardado que mora em mim. E mora desde sempre. Ou nem morada eu teria. Ou nem eu existiria. A minha alma se alimenta e se lava de amor. Se fortalece e se perfuma de amor. A minha alma se faz poeta no amor que sopro para dar vida a novos sonhos, a novos encontros, a novas formas de formar felicidades. Só há um jeito de amar? Não. Há mais de uma gaveta em minha alma. Publicado no jornal O Dia, 5 de fevereiro de 2023. voltar |
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