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Acadêmico: José de Souza Martins Um dos maiores nomes da história da Fiesp foi Roberto Símonsen, um de seus fundadores, engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo, inventivo e criativo, dono da Cerâmica São Caetano, que foi, durante 80 anos, a maior empresa do ramo.
Os desencontros destes dias na Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – expressam dilemas que são, antes de tudo, os suscitados por uma circunstância histórica que já não comporta o simplismo evolutivo e a certeza nas decisões econômicas. Em horas assim, o empresário é posto diante do desafio de decidir até mesmo contra o que considera a segurança de suas convicções. Tanto quanto outras categorias sociais, é ele um protagonista de falsa consciência. A das insuficiências e equívocos que indicam um alheamento em relação às condições da ação empresarial. Esse é um tema clássico das ciências sociais. Em situação como esta, o empresário se divide, como estamos vendo. De um lado, porque ele tem que pensar antes a economia de seus investimentos e não a do sistema econômico. De outro lado, porque os desafios desse sistema, que não se reduzem aos da economia do empresário, tem sua própria dinâmica e suas próprias possibilidades. Mais difíceis de ver e de compreender, porque se dão no plano macro e no plano histórico, atravessadas por muitas determinações irredutíveis ao senso comum do empresário. A história da economia é, no fundo, uma história do futuro que desafiou o presente de então. A história da economia é a história das incertezas econômicas e de como o empresariado as compreendeu ou não no momento justo. As falências e crises das empresas, a desindustrialização, os decorrentes desemprego, subemprego, emprego episódico, a fome, o desabrigo, a ignorância, a violência são frutos de uma economia que fracassou. Minha impressão, de estudioso e observador da história da empresa e do empresariado brasileiros, é a de que o impasse da Fiesp documenta a situação de incerteza que só pode ser compreendida e vencida pelo empresário demiurgo e criativo. Aquele que enxerga além do agora, na perspectiva de um possível de superação do momento adverso. Na história da Fiesp e na história do empresariado tem havido empresários schumpeterianos e demiurgos, inovadores políticos da economia e, consequentemente, inovadores sociais. Aqueles que Josef Schumpeter definia como capazes de ousar, de superar o próprio senso comum alienador, os fatores da falsa consciência da circunstância. Um dos maiores nomes da história da Fiesp foi Roberto Símonsen, um de seus fundadores, engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo, inventivo e criativo, dono da Cerâmica São Caetano, que foi, durante 80 anos, a maior empresa do ramo. Foi Símonsen quem fez das tripas coração, após a derrota de São Paulo na Revolução de 1932, que ele apoiara ativamente, que compreendeu o momento político e econômico. Influenciou Getúlio Cargas, o vencedor, cujo industrialismo marcou a economia brasileira desde a década de 1930 até meados de 1960. Por sorte, Vargas teve consciência de que a vitória sobre São Paulo fora uma vitória de pirro. Sem São Paulo, que tinha uma capacidade industrial instalada e já possuía uma cultura industrial, que funcionava aquém de seu alcance porque insuficientemente aproveitada, as inovações econômicas e sociais do varguismo teriam sido impossíveis. A modernização industrial e social teria se tornado inviável. Símonsen empenhou-se em difundir a tese da superação do café e da agricultura de exportação como fundamento da economia brasileira. Um novo eixo aglutinador era possível, a indústria e o industrialismo e aquele era o momento. O demiurgo que Símonsen foi é hoje Josué Gomes, presidente da Fiesp. Num encontro dos membros da Academia Paulista de Letras com ele, há alguns meses, tive oportunidade de ouvi-lo, numa ponderada e articulada exposição, sobre a necessidade e a viabilidade da reindustrialização do Brasil em face da nova situação econômica mundial, das novas tecnologias, da nova divisão internacional do trabalho. A que se poderia agregar as grandes promessas da economia verde. Empresários americanos já visitaram a Fiesp para conversar com ele sobre essa nova circunstância da indústria para a economia brasileira, à qual o novo capitalismo abre as portas. Enquanto isso a Fiesp parece relutar na opção pela necessária e urgente modernização política do nosso industrialismo. O projeto de desenvolvimento econômico com desenvolvimento social do novo governo brasileiro, com a reindustrialização do país, o entusiástico acolhimento internacional dessa possibilidade, converge para a posição do presidente da Fiesp. Ele personifica uma possibilidade histórica de superação do desastre econômico e social que foi a economia do falso liberalismo alinhado com a superada geopolítica da guerra fria, do governo anterior, obsoleta desde a queda do Muro de Berlim. Só aqui o muro resiste. Publicado em Eu& Fim de Semana, jornal Valor Econômico, Ano 23, nº 1.143, São Paulo, 27 de janeiro de 2023, p. 4. voltar |
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