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Acadêmico: José Renato Nalini A chegada de um novo período de doze meses vem coberta de renovação daquilo que o brasileiro não perde nunca: a esperança.
Vai-te embora, 2022! Acabou-se o emblemático ano de 2022. Hoje é seu último dia. Virão os retrospectos que incluirão muita coisa no mundo, no Brasil e em São Paulo. Sobreviver já é uma dádiva. Quantos partiram, alguns precocemente. Quantos lares iniciarão 2023 ainda com lágrimas, pranteando seus amados. Foi o ano em que celebramos o centenário da Semana de Arte Moderna, que continua a ser notícia para o bem e para o mal. Teve sua importância, embora haja quem pretenda reduzi-la a quase nada. Rendeu livros, ensaios, artigos, alimentou polêmicas. Os duzentos anos da Independência não mereceram o que já se comemorou de data histórica no Brasil recente. Isso porque o fenômeno mais impactante foi a divisão entre os brasileiros, com intensificação da ira e da violência física e verbal, como se não pudesse haver uma opção civilizada entre as duas hegemonias antagônicas que duelaram nas eleições. O sequestro dos símbolos nacionais para manifestações turbulentas e surreais debilitou o patriotismo que já vinha perdendo força diante da decadência da democracia representativa. Também não ajudou a recuperação verificar que o Parlamento produziu o absurdo do Orçamento Secreto, como se a República fosse uma Renossa ou Reprivada. Nas democracias, a transitoriedade nos cargos de mando é a regra. Ao perdedor cumpre reconhecer a vitória e cumprimentar o vencedor. É a regra democrática: a maioria governa e a minoria se articula para se tornar maioria nas próximas eleições. Aqui foi diferente. Sintoma da fragilidade democrática. A Copa trouxe arrefecimento nos ânimos e, aparentemente, o Brasil se uniu em torno à seleção. Que foi derrotada pelo Marrocos. O lado bonito foi a homenagem mundial ao nosso Pelé, que é imortal como lenda e que nunca será substituído, tamanha a sua genialidade verdadeiramente milagrosa. A chegada de um novo período de doze meses vem coberta de renovação daquilo que o brasileiro não perde nunca: a esperança. Esperança de que o novo governo cuide melhor do povo e da natureza. O Brasil precisa acabar de imediato com o desmatamento criminoso e, mais importante ainda, reflorestar as chagas abertas pela ignorância, de braços dados com a ganância. Ambição burra a de destruir a floresta, quando ela pode trazer para o país os trilhões de dólares disponíveis para a urgente cruzada da descarbonização. Esperança de que seja saciada a fome de trinta e três milhões de semelhantes, assim como reduzida a insegurança alimentar de outros cento e vinte milhões. Que se estimule a construção de moradias, pois não basta acrescentar ao artigo 6º da Constituição o direito social à moradia, se não houver teto para os milhões desabrigados. Recolher os moradores de rua, pois a via pública não é habitação digna para um ser humano. Cumprir a promessa de sanear o país, pois sem saneamento básico não há saúde, bem-estar ou atendimento ao mínimo existencial que todos os humanos merecem vivenciar. Antes de tudo, oferecer educação de qualidade a todos os brasileiros. Em qualquer idade, porque a Constituição da República é muito clara: educação é direito de todos, não apenas das crianças. Estas são a prioridade, é claro. Mas aprender é um compromisso para a vida toda. Por isso, a educação deve ser propiciada a quem queira aprender. E é missão do Estado e da sociedade fazer surgir, em toda a população, a vontade do incessante aprendizado. Educação formal e educação informal. Algo que foi mais do que negligenciado nos últimos anos. Houve lamentável e nefasto retrocesso. A educação de verdade é responsabilidade do Estado, da família e da sociedade. Portanto, não há quem possa se desobrigar desse dever, alegando que a obrigação é do governo. Educação é algo muito sério para se relegar, exclusivamente, ao Estado. Todos devem contribuir para reduzir o analfabetismo em sentido estrito, de quem não sabe soletrar ou escrever o próprio nome, chaga vergonhosa para a ufanista décima economia do planeta. Mas também combater o analfabetismo funcional, de quem não sabe se exprimir e não entende o que está lendo. E incentivar a eliminação do analfabetismo idiomático e do analfabetismo digital. Há muito a ser feito no Brasil que começará amanhã. Um 2023 com bons fluidos, com o ar democrático respirável, com aquele discreto otimismo de gato escaldado... Mas com o desejo invencível de que se consiga fazer, do Brasil que temos, o Brasil com que sonhamos e que é aquele que queremos. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião em 31 12 2022 voltar |
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