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Acadêmico: José Renato Nalini A futurologia não é ciência. É um exercício temerário, sempre vulnerável. Mas os americanos não desistem. São os campeões dos prognósticos, que iludem e falham.
O que podemos esperar? A futurologia não é ciência. É um exercício temerário, sempre vulnerável. Mas os americanos não desistem. São os campeões dos prognósticos, que iludem e falham. Insistem na detecção das "megatendências", mediante análises que se utilizam de dados científicos, mas que abrigam a incerteza e o inesperado como ingrediente necessário e inafastável do exercício. Martin Wolf, o comentarista-chefe de economia do jornal britânico Financial Times, um expert no jornalismo econômico, seleciona os livros mais relevantes na economia do segundo semestre deste emblemático ano de 2022. As tendências abordam a revolução digital na China, a relação entre austeridade e fascismo, a ascensão e queda do neoliberalismo e os perigos que rondam a humanidade neste século que se encaminha para a sua metade. A China está presente na maior parte dos livros publicados em 2022. Matin Chorzempa descreve como ela saltou em menos de uma década de um sistema primitivo baseado em dinheiro - papel moeda - para um de pagamentos digitais diretos. Isso transformou a China e afeta todos os demais países. Seu livro é "A revolução sem caixa: a invenção do dinheiro pela China e o fim do domínio financeiro e tecnológico dos Estados Unidos", publicado pela PublicAfairs. Os escritores Christopher Marquis e Kunyuan Qiao escreveram "Mao e mercados: as raízes comunistas do empreendedorismo chinês", edição da Yale University Press. Muitos de nós pensávamos que a China estava trilhando o trajeto para o capitalismo de livre mercado. Com isso, o resultado seria um grau mais nítido de democracia. Mas os autores sustentam que essas ideias foram ingênuas. As ideias maoístas permanecem vivas e fervorosas, não só no Partido Comunista, coo nos negócios bem-sucedidos durante a era chamada de "reforma e abertura". No livro "Conflito acidental: América, China e o choque de falsas narrativas", Stephen Roach diz acreditar que a China e os Estados Unidos devem, podem e precisam ter um relacionamento cooperativo e amistoso. São dois países vítimas de falsas narrativas que surgem e que depois são mutuamente reforçadas em seus territórios. Há um caminho aberto para a confiança recíproca e para a interdependência. O mundo ganharia com isso. O conflito seria nefasto para o planeta. Mas como chegar a uma compreensão de ambos para assumir esta nova fase de trilha comum? O livro que mais me impressiona é o "Mega-ameaças: dez tendências perigosas que ameaçam nosso futuro e como sobreviver a elas", de Nouriel Roubini, publicado pela Little Brown and Company. Lamentavelmente, o futuro pode ser bem pior do que parece e muito diferente do cenário que o ufanismo irresponsável desenha. O autor retrata verdadeira apocalipse. Mega-ameaças de ordem econômica - o crescimento dos mais ricos e o empobrecimento, até à miséria, dos mais pobres. Mas também de ordem financeira: os gastos com os governos crescendo em demasia, as atividades econômicas sofrendo redução drástica, oscilações de câmbio, descontrole fiscal, especulação desenfreada e outros males que a economia em debacle costuma causar. Mega-ameaças políticas: o ressurgimento dos partidos nazistas e fascistas, a falência da democracia representativa e a timidez e resistência que revestem a democracia participativa. Há mega-ameaças geopolíticas, pois nações que tiveram hegemonia sofrem recessão e seu lugar é ocupado por outras, regidas por fundamentalismos com valores muito exóticos se comparados aos ocidentais. Há a grande ameaça tecnológica, pois a Inteligência Artificial seria a última grande invenção humana. A partir dela, haverá gradual substituição da inteligência humana pela inteligência da máquina, apesar de ter sido esta uma criação humana. Mas ganhou vida própria. É a concretização da fábula do "aprendiz de feiticeiro". E a ética perdeu a parada com os avanços tecnológicos. Não há limites para a criatividade e a engenhosidade humana. Ameaças na saúde, como a pandemia do Corona vírus mostrou ser fatal e por em risco a vida de milhões de pessoas, assim como a maior delas, a ameaça ambiental. A destruição das florestas, o extermínio da biodiversidade, a poluição que conspurca solo, atmosfera, água e todos os espaços físicos do planeta vai abreviar a duração desta maravilhosa aventura humana iniciada há milhões de anos, mas que cessará por responsabilidade exclusiva do próprio bicho-homem. Quem leu o livro de Nouriel Roubini diz que filmes de terror serão uma piada perto daquilo que ele vaticina para o mundo. Não se vê, como seria esperado, uma reação responsável dos governos e da comunidade humana. O que podemos esperar de tais prognósticos? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião Em 27 12 2022 voltar |
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