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Acadêmico: José Renato Nalini Neste emblemático ano de 2022, o Natal deveria servir para renovar a mensagem de paz. A crença na vida posterior, que certamente será muito distinta daquela hoje experimentada.
Qual será o seu presente? Um aniversário requer presente para o aniversariante. Ocorre que Natal é aniversário de Alguém. Alguém muito especial. Mas parece que ninguém - ou pouca gente - se lembra do aniversariante. Quantas vezes já não se afirmou que o Natal foi sequestrado pelo mercado? A preocupação é com a comilança, a bebedeira, as lembranças para familiares, amigos, colegas e pessoas das quais não se deve esquecer. Qual será o seu presente para Aquele que deu motivo a tudo isso? Talvez a melhor coisa a fazer é se lembrar daquilo que Ele falou e deixou como legado. E procurar praticar pelo menos mínima parcela dessas lições de vida. Por exemplo: ele perdoou, ele se fez acompanhar de pessoas marginalizadas. Ele não excluiu a prostituta, o pecador, o leproso. Ao contrário, ele os trazia para perto. Ele não hostilizava as crianças. Muito ao inverso, ele dizia "deixai vir a mim as criancinhas". Ele ensinou a mansidão. Quem é capaz de atender àquela recomendação: se alguém te ferir na face, oferece a outra para também ser ferida. Contou estórias muito edificantes. As chamadas "parábolas", que representam o melhor ensinamento moral já proferido por um humano. Desprezou a riqueza: "se queres entrar no reino dos Céus, distribua a sua riqueza para os pobres". Pois "é mais fácil um camelo passar pelo orifício de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus". Chorou quando seu amigo Lázaro morreu e o ressuscitou. Assim como outras pessoas, conforme narram os Evangelhos. Fez o cego enxergar, o coxo andar, o morfético se curar, o morto renascer. Compreendeu a miséria humana. Tanto que se projetou na pessoa mais sofrida, mais prejudicada, mais excluída e desprezada. "Estive preso e não me visitastes; estive enfermo e não me confortastes". Mostrou, com sua vida, o que significam as bem-aventuranças, os carismas que ornam o caráter dos que sabem que a dádiva de existir é algo extremamente frágil e efêmero. Nasceu na pobreza, quase na miséria, teve de fugir de sua terra porque o monarca pensava que o Seu reino competiria com o dele. Expulsou os vendilhões do templo! Aqueles que mercadejam na Casa do Senhor e que cobram pelas ilusões com que abastecem as mentes rústicas e iletradas. Com todo esse legado, o aniversariante é pouco lembrado. O Natal foi convertido em festa pagã e mercadológica. A humanidade não quer pensar na finitude, pensa que acumular bens materiais, amealhar poder e fama é algo que substitui a transcendência. Não se incomoda com a única grande certeza: a morte. Parece acreditar que viverá eternamente. Neste emblemático ano de 2022, o Natal deveria servir para renovar a mensagem de paz. A crença na vida posterior, que certamente será muito distinta daquela hoje experimentada. A insignificância das diferenças ideológicas, das opções políticas, das preferências que hoje separam irmãos, amigos e colegas. O compromisso do brasileiro deveria ser com a redução das desigualdades, com a recuperação reputacional de promissora potência verde, apta a receber os trilhões de dólares estrangeiros disponíveis para aplicação numa nação onde não há terremotos, vulcões, furacões, vendavais, tsunamis. Somente na mente frágil de alguns fanáticos é que pode medrar teorias conspiratórias, terraplanismo, outras ficções que causam tanta divisão e tanta discórdia. Natal é tempo de lembrar que foi o Cristo quem trouxe a mais eloquente mensagem de que todos somos irmãos, porque igualmente filhos de um único Deus, criador de todas as coisas. Natal é tempo de reconciliação. De perdão. De compreensão. De fraternidade. De desarmamento e de germinação dos melhores e mais puros sentimentos. Natal, em síntese, é o tempo propício para o amor. Amor pela vida, amor pelo próximo, amor pela natureza. Amor, ingrediente que está em todos os discursos, em todas as mensagens, em todas as propagandas. Mas que parece faltar a uma legião de corações empedernidos. Que haja oportunidade, um hiato na azáfama e na correria dos preparativos, para se lembrar do aniversariante. E para pensar o que se pode oferecer a Ele, neste ano de turbulência, de discórdia, de desentendimento e exasperação. Ele gostaria de ver o mundo pacificado. A começar por aquele mundinho só nosso: a nossa casa, a nossa família, os nossos amigos e conhecidos. Pensar nisso e, melhor, fazer um gesto nessa direção, será o melhor presente para quem aniversaria neste 25 de dezembro. Santo Natal de paz para todos! Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião Em 25 12 2022 voltar |
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