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Acadêmico: José Renato Nalini Acredito que se o fanatismo não gosta do ESG, então a certeza é a de que ele é bom e merece prevalecer.
Se o fanatismo não gosta, então deve ser bom Crédulo e de extrema boa-fé, animo-me com todas as propostas que pretendam melhorar o mundo. Por isso, embarquei na agenda ESG – sigla em inglês para a simultânea preocupação com o meio ambiente (Environmental), com a redução das desigualdades sociais e com a governança corporativa, que traduzo por “gestão inteligente” na administração pública. O mundo tem caminhado mal na tutela da natureza, tanto que o resultado é o aquecimento global, fruto de desmatamento e demais emissões dos gases venenosos causadores do efeito-estufa. O empresariado, que enfrenta todas as intempéries – das quais não é a menor a verdadeira ojeriza que o Estado tem quanto ao lucro – foi quem primeiro despertou para essa realidade. De que adianta buscar rendimento acima de todas as coisas, se – a final – não houver mais quem possa consumir? Esse o vaticínio mais do que provável se a destruição do verde continuar no ritmo alucinante dos últimos anos. Também não é possível conviver com a constatação de que mais de trinta e três milhões de irmãos passem fome todos os dias, enquanto se celebra o sucesso do agronegócio, que é pop, que é tudo e salvou a balança comercial nos anos de pandemia. A sustentabilidade é uma ideia formulada na década de setenta, com a participação de um brasileiro que faz muita falta: Paulo Nogueira Neto. Diz, sinteticamente: “sabendo usar, não vai faltar”. O que se produz em alimentos é suficiente para saciar a fome de milhões. Falta é vontade, coragem de enfrentar o tema e braços para trabalhar. Daí a sedução da sigla ESG. Cuidar de tudo ao mesmo tempo. O negócio da empresa não é só business. Não é só lucro. Ela tem responsabilidade social. Acredito que é possível, sim, conciliar os interesses. Os empresários sabem que se não houver demanda, de pouco valerá a oferta. Precisamos dotar os menos favorecidos de condições de participar daquilo que é produto do trabalho de todos. Mas – e sempre há essa adversativa… – há quem execre o ESG. Nos Estados Unidos, o governador da Flórida, Ron DeSantis, denuncia o que considera grave ameaça à economia e à liberdade dos americanos. Condena o uso do poder econômico para impor uma ideologia defensora de pautas progressistas. Outros americanos, em regra partidários do republicanismo de Trump, começaram a enquadrar empresas que assumem iniciativas sustentáveis, como a redução de emissões de carbono ou incentivar a diversidade no quadro de funcionários. Com os olhos exclusivamente na margem de lucros, investe-se contra a onda sustentável sob argumento de que as decisões financeiras estão sendo impactadas por valores progressistas. Ou seja: a agenda climática não pode, segundo esses anti-ESG, estar à frente dos interesses dos clientes. Essa gente condena a observância do Acordo de Paris, não quer saber da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, é adepta da pauta extremamente conservadora. Embora se procure defender a política de responsabilidade socioambiental consciente, esse discurso não encontra eco no fanatismo. Por mais se diga que a agenda não é social ou ideológica, mas é uma visão nova de capitalismo, que não pode deixar de considerar relacionamentos mutuamente benéficos entre vários parceiros e stakeholders, a litigância anticlimática já tem causado estragos. De acordo com o Financial Times, JP Morgan, Morgan Stanley e Bank of America já admitem abandonar a aliança financeira pela descarbonização (Gfanz), de receio de serem processadas. O lobby das empresas petrolíferas e de todas as demais que defendem combustíveis fósseis é poderosíssimo. Tomou conta da COP-27 no Egito, com mais representantes do que os de países vítimas do aquecimento global. Estão em todos os grupos e têm poder econômico imbatível. A proposta daqueles que são contra o ESG é rasa: maximizar os lucros. Esse o único objetivo dos empresários que não se preocupam com a destruição do planeta. As fake News, a guerra de narrativas, a ideologização tomou conta dessa pauta. E isso é péssimo para o futuro do planeta. Quanto a mim, utopista, idealista e ingênuo que sou, concluo que se o fanatismo não gosta do ESG, então a certeza é a de que ele é bom e merece prevalecer. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião Em 30 11 2022 voltar |
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