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LUIZ ANTONIO FLEURY FILHO (1949-2022)
Acadêmico: José Renato Nalini
Luiz Antonio Fleury Filho conservou-se a mesma pessoa lhana, polida, simpática, amável e pronta a ouvir, mais do que falar.

Luiz Antonio Fleury Filho (1949-2022)

Entre 30 de março de 1949, quando nasceu em São José do Rio Preto e 15 de novembro de 2022, data em que faleceu na capital, o ser humano Luiz Antonio Fleury Filho foi um exemplar da espécie provido de singulares atributos. Ingressou no Ministério Público do Estado de São Paulo por concurso público e logo se destacou. Persuasivo, inteligente, devotado à causa de uma Instituição que ainda estava em busca de um status constitucional, firmou-se como liderança inconteste.

Mercê de seu destaque no Parquet, obteve espaço em tudo aquilo a que se propôs. Era professor amado por seus alunos, levou o associativismo a sério e tinha de desaguar na política. O seu currículo é disponível e mostra o quão significativa foi sua trajetória em São Paulo e no Brasil.

Sinto profundamente a morte de Luiz Antonio Fleury Filho, não o governador, o deputado federal, o político. Lamento a precoce partida do amigo. Minha amizade com ele teve início na década de setenta, quando ambos éramos Promotores Públicos Substitutos e fomos convocados a atuar na chamada “Equipe do Assalto”. Preocupado com o crescimento dos delitos contra o patrimônio praticados com violência contra a pessoa, o Ministério Público Paulista escolheu oito promotores de elite, auxiliados por oito jovens substitutos, iniciantes no Parquet.

Fleury era um deles, eu era outro. Kioitsi Chicuta, Paulo Marcos Eduardo Reali Fernandes Nunes, Manoel René Nunes, Mauro Macedo Rocha e mais um outro. A memória já falha para nomes, embora a imagem visual esteja presente.

Trabalhávamos numa sala única, no Forum João Mendes, 16º andar. Tornamo-nos íntimos. Fleury me levou, quanta vez, em seu volks sedan, até à Rodoviária, hoje desalojada. Ficava próxima à Estação da Luz.

Estava prestes a se casar com a Ika, confidenciava-me suas preocupações, narrava episódios de um namoro e noivado que logo se converteu em casamento. Às vésperas do matrimônio, Ika perdeu o avô, que a criara. A cerimônia teve muito de tristeza, embora o jovem casal estivesse apaixonado.

Quando deixei o Ministério Público para prestar concurso de ingresso à Magistratura, a convivência naturalmente sofreu redução. Mas continuamos próximos. Ika e Fleury foram ao meu casamento em 1976. Ela descobriu, junto à família de minha mulher, Maria Luíza, algum parentesco.

Frequentamo-nos naqueles anos iniciais de vida de casados. Visitávamo-nos quando nasciam nossos filhos. Já morando em Jundiaí, quando do nascimento de minha filha Ana Beatriz, Ika esqueceu os seus óculos, que devolvi com presteza, pois era o único. O casal morava na Alameda Jaú, àquela altura.

Fleury se destacou no Ministério Público, fez carreira no associativismo e na política. Secretário da Segurança Pública de Orestes Quércia, conseguiu a unção para sucedê-lo, quando – aparentemente – o candidato do governador era o Secretário da Fazenda, José Machado de Campos Filho.

Valendo-me de minha amizade com o Governador, levei várias postulações do Judiciário ao governo. Ali tínhamos a figura magistral de Cláudio Ferraz de Alvarenga, mestre de todos nós. Recebia fidalgamente o emissário da Justiça. Fazia questão de chamar o Governador, dizendo: “Governador, venha ver quem é que a Justiça enviou como representante!”.

Na condição de amigo, fiz várias sugestões ao Governador Fleury. Também à primeira-dama, Ika, em seu gabinete no Parque da Água Branca, assessorada pelo inolvidável Desembargador Geraldo de Faria Lemos Pinheiro, seu tio e pela queridíssima Procuradora de Justiça Maria Cláudia Souza Foz, minha comadre. Era instigante poder contribuir com um governo comandado por alguém tão próximo e tão amigo.

Assim passaram-se os anos. Os filhos crescendo, Fleury orgulhoso de um deles, que escreve e tem talento. Nos finais de ano, Ika e ele celebram uma missa em sua acolhedora residência no Pacaembu. Participei de vários desses encontros.

Luiz Antonio Fleury Filho conservou-se a mesma pessoa lhana, polida, simpática, amável e pronta a ouvir, mais do que falar. Sabia que ele estava a enfrentar enfermidade. Rezei por ele, porque sou criatura que acredita na oração e cada vez mais recorre à Providência, pois os tempos não andam fáceis. Fleury tem o seu nome e legado inscrito na História. Partiu muito cedo e deixa saudades imensas, além de inegável folha de serviços ao Brasil.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião
Em 16 11 2022



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