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GAL COSTA, LUZ DO SOL
Acadêmico: Gabriel Chalita
Gal não tem fim, ela está agora mesmo cantando alegria dentro de mim. "Festa do interior!"

O rádio me diz a notícia. Não é um dia de domingo, mas é essa a música que faz fundo ao narrador. "Já não dá mais pra viver um sentimento sem sentido" e eu já desconverso a atenção e silencio o dia da morte para lembrar as vidas que ela fez nascer em mim.

Em mim, sempre morou um sonho de cantar com Gal. Sou ator do teatro musical brasileiro. Sou pianista. Sou professor de canto. Na minha infância, eu ouvia a canção de Caetano e imaginava um dia estar com eles, "Luz do sol que a folha traga e traduz em verde novo em folha, em graça, em vida, em força, em luz". Caetanear é um verbo que sempre conjuguei rabiscando poemas. "Reza, reza o rio, córrego pro rio e o rio pro mar". O mar já tem Gal. Correu muito rápido o rio. O sol do dia da morte de Gal, na cidade onde vivo, queima de calor e de azul.

Viajo novamente, agora, para o ano de 1994, quando desfilei pela Marquês de Sapucaí, na Estação Primeira de Mangueira, "Caetano e Gil ô / Com a tropicália no olhar / Doces bárbaros ensinando / A brisa a bailar / A meiguice de uma voz / Uma canção / No teatro, opinião / Bethânia explode coração / Domingo no parque amor / Alegria alegria eu vou / A flor na festa do interior / Seu nome é Gal".

Gal é o nome que faz as lágrimas escorrerem a emoção. Minha mãe me liga e diz que viu Bethânia chorando. Penso em Gil. Penso no Brasil gigante dessas mulheres e homens cantantes da esperança. E uma emoção diferente vem. Cantarolo sozinho "chuva de prata que cai sem parar" e fico pensando no significado das frases que se fazem poesia. Penso nos poetas, nos letristas que convertem cotidianos em canções de amor.

Volto com a música do rádio em mim, em um dia que não é domingo, é quarta-feira, mas que poderia ser qualquer outro dia, "Faz de conta que ainda é cedo, e deixar falar a voz do coração". É cedo, sim. Gal ainda tinha palcos para dizer o talento, o som, a melodia, a canção.

Sou um homem de fé. Imagino os que já se foram se encontrando. Sempre acreditei ser a música a linguagem de Deus. E a natureza a sua pintura encantadora de olhares. Tão diversa e tão harmoniosa.

A harmonia em mim reflete tons distintos, a incompreensão da morte e a gratidão da vida. Caetano, novamente, pensando no rio, pensando no mar. Não haveria sentido se os rios corressem para lugar nenhum. E não haveria sentido se o mar fosse dado a se conhecer antes do tempo. É por isso que tenho fé. Quem sabe um dia eu ainda toque em um piano celestial com uma orquestra de vozes de gratidão pelos sons que não têm fim.

Gal não tem fim, ela está agora mesmo cantando alegria dentro de mim.
"Festa do interior!"




Publicado no site do jornal O Dia, 13 de novembro de 2022.



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