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INCOERÊNCIA CRÔNICA
Acadêmico: José Renato Nalini
Veja o que aconteceu no Império Brasileiro, com aquele que reverenciamos neste 2022.

Incoerência crônica

As pessoas mudam. Como tudo o que existe. Santa Teresa D’Ávila já ensinou: “Tudo passa. Só Deus não passa!”. Assim, não há motivo para estranhar mudanças de atitude. Pessoas que se amavam passam a se detestar. Outras que se detestavam, passam a se respeitar.

Gosto de lembrar de Raul Seixas: “Prefiro ser a metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Veja o que aconteceu no Império Brasileiro, com aquele que reverenciamos neste 2022, pois foi o autor da ruptura com Portugal. O jovem Imperador Pedro I.

Ele sabia da idoneidade e pureza de propósitos de José Bonifácio de Andrada e Silva, o mais fiel dos seus seguidores. Por que motivo ele é chamado “o Patriarca da Independência?”. Porque era um sábio, um erudito, um homem extraordinariamente inteligente. Tornou-se amigo não só do Imperador, como da Imperatriz Leopoldina. Ambos deflagraram o ápice da independência brasileira.

Com tudo isso, Pedro I rompe com José Bonifácio, seu Primeiro Ministro, em virtude de denúncias de invejosos. Tenta reinar sozinho e não consegue. Mesmo com o novo casamento, em 1829, com a Princesa Amélia de Leuchtemberg, muito mal cercado, era acusado pelo povo de perfídia e má-fé. Mas como relata Jean-Baptiste Debret, ele era somente culpado de excesso de confiança. “Cansado de governar entre intrigas contínuas, desconfiando da conduta de seus ministros, D.Pedro, isolado, restringiu-se a um pequeno círculo íntimo de alguns servidores obscuros e sem educação; esse comportamento escandalizou ainda mais os brasileiros, principalmente por serem os novos confidentes, portugueses em sua maioria”.

Não acertava com a nomeação de Ministros. As desordens começaram. O comandante militar, Lima e Silva, pediu ao Imperador a reintegração de um ministério patriótico. Ele achou mais digno recusar e preferiu abdicar em favor de seu filho Pedro. Aceitou-se de imediato a abdicação, como se viria a aceitar, de imediato, a renúncia de Jânio Quadros.

A 7 de abril de 1831, D. Pedro embarcou com a Imperatriz, a jovem filha, Rainha de Portugal, uma de suas irmãs e outras pessoas, numa capitânia inglesa. A bordo, escreveu a José Bonifácio para oferecer-lhe a tutela dos filhos. Deixara quatro filho no Brasil: um menino e três meninas. Todos brasileiros, tinham direito igual de reinar por ordem de idade. Foi por isso que D.Pedro deixou os quatro órfãos no Brasil.

Para Debret, ao escolher José Bonifácio, a quem humilhara, o Imperador abdicante “deu prova de justiça e gratidão. José Bonifácio de Andrada foi quem conduziu o Brasil à emancipação e foi quem ergueu o trono imperial para nele colocar Pedro I. Deixou-o afastar-se como português, mas José Bonifácio, mais do que ninguém, era capaz de amar e defender a dinastia imperial brasileira. Tinha motivos para se queixar do Imperador; continuando, porém, generosamente, seu amigo, aceitou sem hesitar, a fim de dar uma prova autêntica de sua afeição. Essa luta de generosidade tanto honra o súdito como o soberano”.

Interessante a releitura do texto da abdicação de D. Pedro I: “Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei mui voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e prezado filho, o senhor Dom Pedro d’Alcântara. Boa Vista, 7 de abril de 1831, décimo da Independência e do Império. (a) Pedro”.

A carta de despedida do ex-Imperador também merece releitura: “Não sendo possível dirigir-me a cada um dos meus verdadeiros amigos em particular, para me despedir e lhes agradecer ao mesmo tempo os obséquios que me fizeram, e outrossim para lhes pedir perdão de alguma ofensa que de mim possam ter, ficando certos que se em alguma coisa os agravei foi sem a menor intenção de ofendê-los, faço esta carta para que, impressa eu possa deste modo alcançar o fim que me proponho. Eu me retiro para a Europa, saudoso da pátria de meus filhos e de todos os meus verdadeiros amigos. Deixar objetos tão caros é sumamente sensível, ainda ao coração mais duro; mas deixá-los para sustentar a honra não pode haver maior glória. Adeus pátria, adeus amigos e adeus para sempre. Bordo da nau inglesa Warspite, 12 de abril de 1831. D. Pedro de Alcântara de Bragança e Bourbon”.

Tocante e terna a carta da Imperatriz Amélia ao menino Imperador adormecido, cuja leitura deveria ser obrigatória nas escolas, em todas as aulas de História do Brasil.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião
Em 03 11 2022



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