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Acadêmico: José Renato Nalini Enquanto não houver educação de qualidade, o Brasil nunca chegará a se concretizar como Pátria fraterna, justa e solidária.
Depois do ‘Fico’ Todos aprendemos que 9 de janeiro de 1822 foi um dia importante para o Brasil. Foi o dia em que o Príncipe Regente Dom Pedro atendeu ao pedido dos paulistas e resolveu permanecer no Brasil, em vez de voltar a Portugal, em cumprimento às ordens da Corte. O povo entrou em vibração e tudo foi acabar, como era de costume, no Teatro. O príncipe e a princesa apareceram no camarote real e ambos foram recebidos com entusiasmo. Cantou-se o hino nacional e vários oradores se fizeram ouvir. O discurso mais aplaudido foi o de Bernardo de Carvalho, na verdade, Bernardo Teixeira Coutinho Álvares de Carvalho, desembargador no Rio de Janeiro. Ele partiu das duas palavras-chave da fala do Príncipe: União e Tranquilidade. Algo de que o Brasil continua a necessitar. Concordou com o Regente, agora “ficante”: “Agora é preciso só recomendar-vos a União e Tranquilidade. Expressões realmente sublimes e que contêm toda a filosofia política. Sem União não poderemos ser fortes, sem força não poderemos determinar a tranquilidade. Portugueses. Cidadãos. Tendes um Príncipe que vos fala com gentileza de suas próprias funções; que vos convida a unirmo-nos com ele em torno à Constituição, que vos recomenda aquela força moral que compreende a justiça e que se identifica com a razão, e que só ela pode completar a grande obra iniciada. Hoje quebrastes os laços que vos ameaçavam sufocar. Hoje assumis a verdadeira atitude de homens livres. Mas nem tudo ainda está feito. A intriga e a discórdia, o ânimo murmurador, talvez agora mesmo esteja meditando novos planos e ainda tentará cavar a divisão e derrubar os troféus que acabais de erguer à glória e à honra nacional. O próprio entusiasmo mal dirigido poderá produzir os maiores crimes. Concidadãos. União e Tranquilidade. A irreflexão partidária é indigna de homens livres. Cumpri vossos deveres. Atendei à amável exortação de vosso Augusto Príncipe, mas, em compensação, dizei-lhe; Senhor! Energia e Vigilância. Energia para promover o bem. Vigilância para evitar o mal. O mundo inteiro tem agora os olhos voltados para Vossa Alteza. Os passos que Vossa Alteza está para dar, poderão levar Vossa Alteza ao templo da memória, ou confundir Vossa Alteza no número dos príncipes fracos, indignos das honras que os exornam. Talvez Vossa Alteza influencie os destinos do mundo inteiro. Talvez mesmo a Europa, ansiosa e suspensa, repouse em Vossa Alteza as suas esperanças. Príncipe. Energia e Vigilância. A glória não é incompatível com a juventude, e o herói de 26 de fevereiro pode-se tornar o herói de 9 de janeiro. Uni-vos com um povo que vos ama, que vos confia os bens, a vida, tudo enfim. Príncipe. Como é doce assistir à expansão cordial dos sentimentos de homens livres. Mas como é penoso testemunhar a crestação em botão de esperanças tão justamente fundadas. Bani, Senhor, para sempre do Brasil, a lisonja multiforme, a hipocrisia dúplice, a discórdia com sua língua viperina. Ouvi a verdade, submetei-vos à razão, atendei à Justiça. Sejam atributos vossos a franqueza e a lealdade. Seja a Constituição a estrela polar que vos guie. Sem ela não pode haver felicidade, nem para vós, nem para nós. Não procureis reinar sobre escravos, que beijam as cadeias da ignomínia. Reinai sobre corações livres. Assim sereis a imagem da divindade entre nós – assim correspondereis às nossas esperanças. Energia e Vigilância, e nós cumpriremos a vossa recomendação: União e Tranquilidade”. Este texto não é muito divulgado, como não são enaltecidas as condutas merecedoras de servir como exemplos para um Brasil em que a política deixou de ser a arte de servir à população, para atender – prioritariamente – a interesses exclusivos dos profissionais que a ela se dedicam. Enquanto não houver educação de qualidade, o Brasil nunca chegará a se concretizar como Pátria fraterna, justa e solidária, promessa ainda descumprida, mas que foi explicitada pelo formulador do pacto cidadão de 5 de outubro de 1988. Não se pense em escolarização, que nessa pode ser alardeado um progresso quantitativo – a universalização do acesso – mas em educação plena, que é mais do que decorar informações. Uma educação humana e humanística, principalmente ética. Educar para treinar o educando – em qualquer idade – para o gosto de aprender, o cultivo e a busca permanente da sabedoria. Mas para capacitar ao trabalho e para qualificar cidadãos. Sem isso, continuaremos a patinar, senão a retroceder, pois os sinais desalentadores podem nos indicar esta triste sina. Educação de qualidade, mais União e Tranquilidade, Energia e Vigilância. O Brasil precisa, urgentemente, de tudo isso. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião Em 27 10 2022 voltar |
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