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O PERFIL POLÍTICO DE ANCHIETA
Acadêmico: José Renato Nalini
Servia ele de médico, ao mesmo tempo que de padre e de mestre-escola; exercia e ensinava as mais úteis artes domésticas.

O perfil político de Anchieta


O Brasil foi chamado “Terra de Santa Cruz” e “Terra de Vera Cruz”, antes de receber o nome extraído da árvore que o colonizador praticamente erradicou da imensa costa, levando-a a Portugal. No discurso dos que aqui chegaram estava a intenção de “cristianizar” o novo território. Mas só mais de cinquenta anos depois da chegada dos primeiros “descobridores” é que o Brasil recebeu um primeiro bispo. D. Pero Fernandes Sardinha.

Foi em 1552 e sua sede foi São Salvador, na Bahia. No ano seguinte, Tomé de Souza deixou de ser o Governador Geral e foi substituído por Duarte da Costa, que trouxe com ele o célebre José de Anchieta. Na descrição de Maria Graham, no seu “Diário de uma viagem ao Brasil”, “Anchieta não era somente um homem de extraordinária fortaleza de ânimo e real piedade, mas um político de ordem superior. Seus serviços de natureza civil ao governo português são equivalentes aos dos grandes capitães; ao mesmo tempo não conheço ninguém com quem possa comparar seus trabalhos como missionário e professor. Seus méritos como apóstolo cristão e como homem de letras desarmaram até o Sr. Southey (historiador que escreveu sobre o Brasil) de seu habitual rancor contra a fé católica-romana. O livro deste excelente escritor sobre o Brasil é realmente prejudicado pela linguagem destemperada acerca do assunto em que a sensibilidade humana é menos capaz de suportar a contradição direta, de modo que a sua divulgação se tornou impossível e o bem que, por outro lado, poderia fazer à nação a que se destina, foi frustrado. O Sr. Southey deveria lembrar-se da citação que ele próprio extrai de Jeremias Taylor: ‘O ardor contra o erro nem sempre é o melhor instrumento para encontrar a verdade”.

O chefe dos jesuítas – Ignácio de Loyola – ainda era vivo e erigiu o Brasil em nova província, nomeando Nóbrega e Luís da Grã, que fora reitor em Coimbra, como provinciais associados. Luís da Grã passou a ser vice-provincial de Nóbrega, na Bahia, enquanto Manoel da Nóbrega residia no sul. Foi então que começaram os trabalhos dos sacerdotes para o verdadeiro bem do país. Os meios empregados para domar e civilizar os índios eram suaves e, portanto, eficientes. “Os padres faziam a felicidade de seu rebanho e, por muitos séculos, não haverá reparação para o mal causado pela sua súbita expulsão, que destruiu os liames de sociedade humanizada que começavam a unir os índios a seus semelhantes”, afirma a cronista Maria Graham.

Foi em 1553, segundo ela, não em 1554, que Nóbrega fundou a primeira escola no Brasil, no Planalto de Piratininga, a treze léguas de São Vicente. Anchieta foi o mestre-escola. São Paulo nasceu abençoada, portanto, por esse apóstolo culto e interessado no próximo.

Não foi apenas o solo bandeirante que fez de nosso Estado esta potência. Foi, segundo a britânica, “a mentalidade elevada e livre de seus habitantes, que tomaram sempre a frente em todas as campanhas pelo bem do país”. É isso o que coloca São Paulo acima de todas as outras cidades.

Anchieta ensinava latim a portugueses e português aos brasileiros, enquanto – simultaneamente – aprendeu com os indígenas a própria língua, compondo uma gramática e um dicionário. Como não havia livros para os alunos, ele escrevia diariamente as lições para cada um, em folhas avulsas e em quatro idiomas diferentes. Era um fac-totum, inteiramente devotado à causa de fazer dos nativos pessoas felizes. “Servia ele de médico, ao mesmo tempo que de padre e de mestre-escola; exercia e ensinava as mais úteis artes domésticas. Mas a colônia, assim como todas as outras, que tinha de lugar pela própria existência, foi atacada pelos mamelucos da povoação vizinha de Santo André, que viam na instrução dos índios um passo para a abolição de sua escravidão; protestaram, assim, contra o que consideravam infração ao suposto direito que tinham ao serviço dos nativos”.

Eis senão quando, brigaram o governador geral e o bispo. Este resolve voltar a Lisboa. Naufragou na costa, nos baixios de São Francisco. Caiu prisioneiro e, com outras cem pessoas brancas, foi morto pelos caetés. A vingança dos portugueses foi horrível. Os caetés foram caçados, liquidados e exterminados. Anchieta não dispunha de condições para evitar o genocídio.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opiniã/Estadão
Em 26 10 2022



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