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Acadêmico: José Renato Nalini O mal não é natural, nem foi criado por Deus. O mal é a perversão da vontade livre, que nega, conscientemente, a verdade.
Ódio: obra diabólica Tempos difíceis os que vivemos. Celebramos a universalização dos direitos humanos, as conquistas da ciência e da técnica, os índices obtidos no prolongamento da vida e ainda assistimos o grotesco da violência em todos os níveis. Um deles, exacerbado nos últimos tempos, é o exercício do ódio. Odiar não é próprio à condição humana. É manifestação antinatural. Entretanto, essa manifestação tem acompanhado a história dos humanos enquanto peregrinos deste planeta. Existem explicações psicológicas para o ódio. Mas também existe o tratamento do tema pela filosofia e pela antropologia. É muito instigante e se presta a uma reflexão a respeito, a obra de Edith Stein, filósofa e mártir da Igreja Católica. Profunda em sua ascensão ao conhecimento e à sabedoria, o que caracteriza uma verdadeira filósofa, foi tolhida se um dia pretendeu tornar-se uma pensadora consagrada nos círculos acadêmicos. Por ser mulher e por ser judia, exatamente na fase em que o nazismo pregava a eugenia e conquistava as massas delirantes. Edith Stein foi vítima do holocausto. Morreu, em 1942, há oitenta anos, portanto, no campo de Auschwitz. Antes disso se convertera ao catolicismo e se tornara carmelita, assumindo o nome de Irmã Teresa Benedita da Cruz. O livro “A antropologia de Edith Stein – entre Deus e a Filosofia”, de Mariana Bar Kusano, é um estudo sedutor e ajuda a conhecer melhor a vítima da intolerância ignorante que dizimou a racionalidade alemã e tanta tristeza causou a milhões de famílias. Para Edith Stein, as almas são livres, até para cair em tentação. Quando ela não resiste à tentação, “ela consente sua participação no mal e esse acontecimento manifesta-se em suas ações e sentimentos. É natural no ser humano – mesmo diante das oscilações e maneiras subjetivas – amar aquilo que é digno de amor e odiar aquilo que é passível de ódio; porém, quando o ódio é dirigido ao que é digno de amor, então isso não é mais natural, mas diabólico. O ódio é a manifestação mais concreta do mal”. Edith Stein é contundente quando escreve sobre o mal: “O mal é uma chama que consome. Se permanecer em si mesmo, deve consumir-se. Por isso deve, eternamente e inquietantemente, desejar sair de si, buscar um lugar para dominar no qual possa estabelecer-se e carregar para fora de si tudo isso que está agarrado a ele e à sua particular inquietação”. O mal não é natural, nem foi criado por Deus. O mal é a perversão da vontade livre, que nega, conscientemente, a verdade. Por isso é que, da mesma forma que o ser humano, diz Edith, “o diabo não tem uma natureza defeituosa, mas perverteu sua natureza boa até o mal, pelo uso contra natura que fez dela”. O diabo não erra por ignorância, mas sua vontade é “aniquilar a verdade”. Como ele sabe o que é verdade, mas não quer admiti-la, diz Mariana Bar Kusano, ele se torna “o pai da mentira”. Tudo isso há de servir ao menos de matéria para reflexão. O que justifica a existência de ódio em pleno século 21, depois de a humanidade haver enfrentado tantas etapas catastróficas, trágicas e angustiantes? Diz-se que a maior esperteza do demônio é fazer os humanos acreditarem que ele não existe. Assim, pode trabalhar à vontade em suas mentes. E como tem trabalhado com eficiência, eficácia e efetividade! Não existe vacina vitoriosa contra o mal, contra o ódio, contra a violência. Mas existe um remédio valioso: a educação. “Conhecer o que é o ser humano, o que ele deve ser e como chegar a sê-lo é a tarefa mais urgente de todo homem e constitui o papel essencial da pedagogia ajudá-lo nesse percurso”. Não é fácil educar. Principalmente educar para o bem e para aquilo que realmente valha a pena. Há obstáculos de toda ordem. A sociedade aparentemente se distancia do bom e do belo para apoiar-se na matéria. O resultado é uma tendência consumista, hedonista e profundamente egoísta. O futuro que está à espreita da nação brasileira não precisa se preocupar apenas com o desinteresse da juventude pela carreira docente. Mas é urgente procurar despertar nos moços bons, aqueles que se proponham a ensinar não se servindo só de seu conhecimento e preparo – o que é pressuposto – mas que também possam educar através do exemplo. Só assim poderemos sonhar com gerações capazes de trocar o ódio pelo respeito à dignidade de qualquer pessoa. Talvez até, substituir o ódio pelo ingrediente de que o Brasil mais carece: o amor. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião Em 20 10 2022 voltar |
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