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CENTENÁRIO DE MYRIAM ELLIS
Acadêmico: José Renato Nalini
Myriam hauriu do pai e avô o amor pela história e sua carreira toda se fez na Universidade de São Paulo.

Centenário de Myriam Ellis

Em 18 de outubro de 1922, nascia no Rio de Janeiro Myriam Ellis, filha de Alfredo Ellis Filho (1896-1974), neta do Senador Alfredo Ellis (1850-1925), prócer republicano muito influente em sua época. A família era de origem inglesa, mas se vinculou à nobiliarquia paulista, os Cunha Bueno.

Nascida em berço de ouro, pois os Cunha Bueno eram proprietários da fazenda Eudóxia, em São Carlos, além de grande fortuna. Várias causas conduziram à falência da propriedade rural. Foi Roberto Simonsen quem ajudou o clã a sobreviver condignamente daí em diante.

Myriam hauriu do pai e avô o amor pela história e sua carreira toda se fez na Universidade de São Paulo. Bacharelou-se em Letras Neo-Latinas em 1944 e em Geografia e História em 1951. Especializou-se em História da Civilização Brasileira, Civilização Americana e História Contemporânea, sempre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Foi assistente da Cadeira de História da Civilização a partir de 1952, substituindo o pai na Cátedra. Professora Assistente em 1962, Livre Docente em 1966, regeu a disciplina História do Brasil entre 1971 e 1973. Titular concursada de 1973 a 1985, chefiou o Departamento de História da Faculdade entre 1974 e 1978.

Tornou-se diretora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP de 1981 a 1985. Eleita em 11 de junho de 1991 para a Cadeira 13 da Academia Paulista de Letras, sucedeu a José Geraldo Nogueira Moutinho que, por sua vez, sucedera a Luís Gonzaga Bandeira de Mello Arrobas Martins, ambos precocemente falecidos. Tomou posse em 23 de abril de 1992, recepcionada por Paulo Bomfim, durante muitos anos o decano da Casa de Cultura por excelência do Largo do Arouche.

Myriam não se conformava com o desapreço à memória do pai historiador. Considerava injusta a priorização das contribuições de Sérgio Buarque de Holanda, que ocupou a cadeira a partir de 1956. Para ela, em virtude do período autoritário de 1964 a 1985, a obra de Ellis Júnior foi desvalorizada por ele ter integrado o PRP – Partido Republicano Paulista, de direita e considerado conservador. Quando da celebração dos 50 anos da USP – 1984 – e dos seus 60 anos – 1994, só foram enaltecidos os professores franceses que atuaram à época de fundação da Universidade em 1934 e o papel de Sérgio Buarque de Holanda, pai do compositor Chico Buarque. Indignava-se ante o rótulo que se apunha à obra do pai, visto como retrógrado, positivista e conservador.

A bibliografia de Myriam Ellis é consistente e muito elogiada. Escreveu “O monopólio do sal no Estado do Brasil-(1634-1801)”, “Contribuição ao estudo do monopólio comercial português no Brasil no período colonial”, sua tese de Doutorado, escrita em 1955. “Contribuição ao estudo do abastecimento das zonas mineradoras do Brasil no século XVIII”, em 1961 foi outro livro, assim como “Contribuição ao estudo do abastecimento das zonas mineradoras do Brasil no século XVIII, publicado no mesmo ano. O livro “A baleia no Brasil colonial: feitorias, baleeiros, técnicas, monopólio, comercio, iluminação”, de 1969, foi sua tese de Livre-Docência.

Escreveu ainda “O sal no Brasil colonial” (1969), “Primórdios da Industria saladeiril no Brasil colonial” (1968), “Introdução a Jean Baptiste Debret – Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil – 1816-1831” (1971), “A presença de Raposo Tavares na Expansão Paulista” (1970), “Paulistas nos Sertões do Ouro” (1971), “São Paulo, de capitania a província- Pontos de partida para uma história político-administrativa da Capitania de São Paulo” (1975), “O café. História e Literatura” (1977), “Afonso d’Escragnolle Taunay no centenário de seu nascimento” (1977), “Alfredo Ellis Júnior. Político, Professor e Historiador” (1976), “Comerciantes e contratadores no passado colonial – Uma hipótese de trabalho” (1982), “Perfil de um republicano histórico no arquivo da família – O Senador Alfredo Ellis” (1989), “São Paulo de Piratininga e o Bandeirismo. Apontamentos para a memória histórica paulista” (1998). Cultivou, com carinho filial, a lembrança do pai, fazendo duas conferências para homenageá-lo no centenário de nascimento, em 1996.

Na Academia Paulista de Letras, a partir de 1995 até 2004, ocupou o cargo de Tesoureira e contribuiu com inúmeros artigos para as Revistas publicadas pela instituição. Seus olhos azuis, cabelo inteiramente branco, a alvura de sua pele, tudo fazia dela uma figura digna de um camafeu. Faleceu em 25 de maio de 2017. Está sepultada no Cemitério da Consolação.


Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 18 10 2022



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