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TRÊS CENTENÁRIOS
Acadêmico: José Renato Nalini
Neste 2022, a APL celebra três centenários:além de PAULO NOGUEIRA NETO, notável defensor do meio ambiente; de HERNANI DONATO, de MYRIAM ELLIS e de FRANCISCO MARINS.

Três centenários

A Academia Paulista de Letras é uma instituição que há cento e treze anos atua em São Paulo com o objetivo de defender o vernáculo, a literatura, a escrita e a leitura e a cultura em geral. Integrada por quarenta intelectuais eleitos por seus pares, tem também o compromisso de manter viva a memória de seus membros. Essa a única forma de se sustentar a tradicional “imortalidade” acadêmica: fazer com que a lembrança de quem se foi não desapareça de todo, enquanto houver aqueles que se recorde dos antepassados.

Neste 2022, a APL celebra três centenários, além de PAULO NOGUEIRA NETO, o notável defensor do meio ambiente e cuja falta é tão sentida em tempos plúmbeos de destruição de todos os biomas. Os centenários deste segundo semestre são de HERNANI DONATO, nascido em 12 de outubro de 1922 em Botucatu, MYRIAM ELLIS, nascida no Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1922 e FRANCISCO MARINS, que veio à luz em 23 de novembro de 1922, em Pratânia.

Três figuras exponenciais, que merecem a reverência dos pósteros.

HERNÂNI DONATO foi reconhecido um talento literário já enquanto vivia. Menotti Del Picchia dele afirmou: “Chão Bruto” parece-me ser a maior criação novelística que a inteligência de São Paulo deu até agora ao Brasil. Hernâni, na graça artística do seu estilo, mas sobretudo na transcendência social dos episódios mostra como se pode fazer realmente uma obra de arte. Que alegria em poder saudar em Hernâni Donato , um dos maiores romancistas que possui hoje o Brasil”.

Foi um escritor prolífico. Dele provieram os romances “Filhos do Destino”, “Chão Bruto”, “Selva Trágica”, “Núpcias com a morte”, “O rio do tempo”, “O caçador de esmeraldas”, além de muitos contos, livros infantis e juvenis, biografias e histórias.

MYRIAM ELLIS, filha do político Alfredo Ellis Júnior, outra figura de proa na intelectualidade pátria, foi uma das mais talentosas mestras da Universidade de São Paulo. Toda a carreira de magistério foi entretecida à luz daquela primeira universidade brasileira, uma das melhores do planeta. Foi Chefe do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, Diretora do Museu da Casa Brasileira e tem vasta bibliografia científica. Sua tese de doutoramento foi muito festejada: “O monopólio do sal no Estado do Brasil (1634-1801)-Contribuição ao estudo do monopólio comercial português no Brasil no período colonial. Seu livro “A baleia no Brasil colonial” foi muito bem recebido pela crítica quando editado. Na Academia Paulista de Letras esteve na Diretoria de 1995 a 2004, sempre na função de Tesoureira. Era uma dama de estirpe, heráldica em sua postura de mulher paulista de família tradicional. Seus olhos azuis e sua fisionomia tranquila tornavam-na um admirado camafeu entre os “imortais” paulistas. Dela disse Paulo Bomfim, quando a recepcionou no ingresso à APL, em 23.4.1992: “Recebê-la na casa de Alfredo Ellis Júnior, neste chão do velho São Paulo, é ritual de fraternidade, gesto de respeito e calor humano, fogo que volta a iluminar as taipas sacrossantas de nossa gente”.

FRANCISCO MARINS descendia de tropeiros e cafeicultores paulistas. Formou-se em 1946 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e já nessa época foi diretor da Revista “Arcádia” e Presidente da Academia de Letras da Faculdade. Foram seu contemporâneos nessa época, futuros confrades da Academia Paulista de Letras: Israel Dias Novaes, Lygia Fagundes Teles, Leonardo Arroyo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Rubens Teixeira Scavone, Célio Salomão Debes, Paulo Bomfim e José Altino Machado.

Presidiu a APL em dois mandatos. Dirigiu por sete anos a Revista da Academia. Representou a Academia em colóquios no Brasil e em Portugal. Atuou ao lado de Antonio Houaiss para os estudos pela unificação do idioma, assim como era autoridade sempre chamada a opinar em assuntos de lusofonia. Foi editor da Melhoramentos, um dos fundadores da Câmara Brasileira do Livro, a qual também presidiu. Lutou pela aprovação de projetos que auxiliavam o desenvolvimento da indústria editorial, a divulgação do livro através das Bienais. Estimulou a criação de bibliotecas. Foi integrante do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo, da Fundação Padre Anchieta-TV Cultura.

Em 1984, fundou em Botucatu, sua terra natal, o “Convivium”, espaço cultural que acolhia a Academia Botucatuense de Letras e o Grupo Convivência. Formou estupenda biblioteca destinada a estudiosos e amplo documentário histórico sobre a região. Criou o Clubinho Taquara-Póca no Vale do Sol, destinado a incentivar a defesa da natureza, dos animais e do ecossistema.

Tem uma bibliografia muito rica, a partir de seus romances “Saga do café” e “O homem e a terra”. Seus livros infanto-juvenis foram adotados como obras obrigatórias em currículos do ensino fundamental e médio da rede pública e das escolas particulares. Dentre eles, a série “Taquara-Póca” e “Roteiro dos Martírios”.

São três nomes estelares, que merecem releitura e o respeito das novas gerações. Provam que São Paulo ainda tem muito do que se orgulhar.


Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 11 10 2022



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