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Acadêmico: José Renato Nalini Grande empreendedor, talvez mais conhecido como homem de ação, mas de uma profunda sensibilidade.
Presença de Roberto Simonsen Não tive o privilégio de conhecer Roberto Simonsen. Ele faleceu em 1948, enquanto discursava na Academia Brasileira de Letras (era também biacadêmico: pertencia à Academia Paulista e à Brasileira de Letras). Em 1948, eu não havia ainda completado três anos. Mas convivi com um de seus filhos: Victor Geraldo. Fui um dos beneficiados frequentadores da “Fazenda Campo Verde”, experiência cultural e antropológica irrepetível. Dulce e Victor fizeram daquele espaço um território de devoção à natureza e ao belo. O meio ambiente foi preservado e aprimorado. Incentivo à proliferação de pássaros e de outros animais silvestres. Quando alertado de que os frutos eram consumidos pelos passarinhos, livres e soltos, a recomendação era a de que se deveria então plantar mais exemplares. Os empregados eram tratados com a mesma distinção dos que trabalhavam na Cerâmica São Caetano, empresa da família. Os filhos recebiam educação idêntica à da prole do casal. As primeiras-comunhões congregavam todos juntos ao mesmo altar. Tudo era minuciosamente objeto de atenção contínua do casal. Edificações foram se espalhando pelos cem alqueires, no limite entre Jundiaí e Jarinu. Pavilhão de música, a acolher a maior coleção de discos e onde tocavam Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Anna Stela Schic, Yara Bernet, Antonieta Rudge e outras pianistas. Cinema com os mesmos filmes exibidos na capital. Biblioteca da natureza. Recanto do fauno, com iluminação e música na floresta. O lago aumentado recebia o Igapó, iate que transportava amigos por um passeio paradisíaco. Piscina no ponto mais alto da fazenda, com a imensa torre medieval. Inacreditável o que se fez ali. Mereceria um alentado volume, que esperei fosse escrito por Guilherme de Almeida ou Menotti del Picchia, dois dos famosos habitués do casal. Mas pela proximidade afetiva com Dulce e Victor – foram meus padrinhos de casamento em 1976 e depois retribuí, pois se casaram em 1977 – recebi preciosidades intangíveis e outras tangíveis. Como uma carta manuscrita de Magda Tagliaferro, fornecendo à Dulce um depoimento sobre Roberto Simonsen. Esse documento me foi confiado por Dulce, que escreveria uma biografia do sogro. Não chegou a fazê-lo. Guardo com carinho e partilho com meus eventuais leitores: “Considero um grande privilégio ter convivido com a incomparável personalidade do Dr. Roberto Simonsen. Tenho recordação indelével do meu primeiro encontro com essa bela figura cujos olhos verdes exerciam verdadeira fascinação. Grande empreendedor, talvez mais conhecido como homem de ação, posso, todavia, adiantar um fato comovente que assinala, atrás dessa feição altiva, uma profunda sensibilidade. Quando de uma visita com a qual o Dr. Roberto me honrou na minha casa de outrora, em Campos do Jordão, ele me pediu que tocasse, alegando, no entanto, não entender de música. Toquei um noturno de Chopin e, quando terminado, nos viramos, o seu filho Victor, presente e eu mesma, nos demos então com lágrimas brotando nos olhos do Dr. Roberto... É esta uma das recordações que conservo no coração. (a) Magda Tagliaferro, São Paulo, setembro de 1971”. Somos desmemoriados e já não falamos de Roberto Simonsen, nem de Victor Geraldo Simonsen, nem de Dulce Ribeiro Simonsen. Mas eles existiram e fizeram do mundo um lugar melhor. voltar |
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