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Acadêmico: José Renato Nalini Suas clínicas permitem o suicídio assistido, com indicação
Suicídio assistido: vai chegar aqui? Os suíços são muito pragmáticos. Guardam e garantem recursos financeiros, sem perscrutar sua origem. São adeptos do ensinamento romano: "pecúnia non olet" (dinheiro não tem cheiro). São os melhores produtores de relógios e de chocolates. Sabem ganhar dinheiro. E suas clínicas permitem o suicídio assistido, desde que haja indicação médica. Seus clientes mais famosos são os franceses. Alain Delon, que foi considerado um dos homens mais bonitos do século 20, sonho de consumo de belíssimas mulheres - viveu com Romy Schneider, com quem teve um filho que morreu tragicamente - já anunciou sua intenção. Com oitenta e seis anos, perdeu em 2021 a última das esposas, já foi operado do coração e um AVC prejudicou sua fala e mobilidade. Ainda não se submeteu a essa operação que ainda encontra resistências. Todavia, Jean-Luc Godard, aos noventa e um, escolheu essa saída. No dia 13 de setembro anunciou-se a sua morte. Já afirmara não se dispor a "perseguir a vida com força total". Se fosse acometido de um mal incurável, não gostaria de "ser arrastado em um carrinho de mão de jeito nenhum". O suicídio assistido é a morte escolhida e se efetiva por injeção de uma única dosagem de substância letal prescrita por um médico e é aplicada pelo próprio paciente ou por uma pessoa que o auxilie. Não se confunde com eutanásia, que também é vedada na Suíça e que ocorre quando, por ação ou omissão de um médico, outro profissional da saúde ou qualquer outra pessoa que provoque a morte de um paciente em estágio terminal ou com enorme dependência física. O que mais difere a eutanásia do homicídio assistido é que neste o suicida tem autonomia de escolha. É ele quem opta por se despedir da vida, quando esta já o não consiga atrair. Por enquanto, o suicídio assistido é vedado no Brasil. Mas não se pode presumir, com absoluta convicção, de que tal prática seja proibida para sempre. É só atentar para os costumes que vigoram há algumas décadas. O Brasil nunca teve a formação psicológica do Oriente, em que o idoso é merecedor de todas as atenções, carinhos e cuidados, pois longevidade significa experiência acumulada, uma sabedoria comprovadamente eficaz, tanto que garantiu a subsistência do humano que chegou a idade provecta. Todavia, era comum que as famílias cuidassem de seus idosos. Os chamados "asilos para velhos" eram reservados a quem não tivesse prole ou familiar disposto a acolher o seu membro que atingisse a falaciosa "melhor idade". De uns tempos para cá, surgiram as "casas de repouso", ou "clínicas especializadas na terceira idade", algumas delas, verdadeiros depósitos de seres que já não produzem, nem geram riqueza, nem fruem do amor de seus parentes. Compreende-se que filhos já não tenham condições de hospedar pais muito velhos. Cada geração tem as suas próprias obrigações. A vida contemporânea é muito sacrificada para a maioria da população. Subsistir não é fácil. A presença de um idoso perturba a vida familiar. Que o digam noras e genros, que não têm o chamado do mesmo sangue e não se comovem com a fragilidade do genitor do cônjuge. Outro fator que não pode deixar de ser considerado é o aspecto econômico. Os planos de saúde sabem o custo de uma UTI. O prolongamento de uma vida vegetativa é economicamente questionável. Utiliza-se de um argumento perigoso: enquanto reservo um leito nua dessas unidades para alguém que nunca mais se recuperará, deixo de atender uma pessoa mais jovem, suscetível de viver mais tempo se tratada oportuna e convenientemente. Tudo isso poderá fazer com que aquilo que hoje ainda merece repúdio venha a ser pensado com atenção e praticidade dentro em pouco. Quem viver verá! Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 25 de setembro de 2022 voltar |
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