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BRASIL: A ‘GENI’ DO PESTICIDA
Acadêmico: José Renato Nalini
Triste sina em ser a “Geni” dos pesticidas, quando poderia continuar, altiva e pioneira, como a promissora promessa verde da década de setenta.

Brasil: a ‘Geni’ do pesticida

Engenheiros ambientais e biólogos advertem para o surreal: o Brasil aprovou uma lei que flexibiliza o uso de agrotóxicos. Mais uma consequência da nefasta cultura de “soltar a boiada” e entregar a Nação aos dendroclastas e aos inimigos da natureza.

Ibama e Anvisa, agências que têm sido nocauteadas nestes anos, ficam fora da análise dos venenos. Aprovou-se lei retroativa: aquilo que se proibiu antes, volta a ser liberado por esta opção pela terra arrasada.

Os professores Laís Carneiro, Larissa Faria, Natali Müller, André Cavalcante, Afonso Murata e Jean Vitule noticiam que em 2021, o governo brasileiro autorizou o uso de 562 novos agrotóxicos no país. Muitos deles foram proibidos nos países em que foram produzidos. Só que o Brasil é a cloaca do planeta. Aqui tudo pode entrar, aqui há mercado – ganância e ignorância atuantes – para o lixo venenoso que o mundo civilizado não quer.

Não é uma questão levantada por fundamentalistas ecológicos. É um tema da maior relevância, pois afeta a saúde pública. Nesta última década, intoxicações e mortes ocasionadas por agrotóxicos nocivos aumentaram quase cem por cento no Brasil. Para ficar no número exato, foi um acréscimo de 94.

Até o leite materno resta contaminado. O perigo é tamanho, que mais de 2.300 municípios brasileiros já possuem água destinada ao consumo humano – para beber, cozinhar e para a higiene pessoal – imprópria e envenenada por pesticidas utilizados na lavoura. A ciência apurou que são quase trinta substâncias resistentes ao tratamento convencional da água. Quando combinadas, atingem cem por cento do valor máximo tolerado pela legislação brasileira. E que legislação é essa: já oferecemos a saúde de todos e a vida – toda ela, inclusive a humana – à desgraça. Nossa lei ultrapassa em 2.706 vezes o limite dos países europeus. Impressionante o Brasil pretender chegar à OCDE com esta folha corrida de nação que envenena o seu povo!

Tudo fica pior, diante da cupidez burra de quem não enxerga que isso é verdadeiro suicídio. Estamos perdendo nossa biodiversidade. O exemplo das abelhas é talvez o mais emblemático: em nossa Pátria, as abelhas atuam em 132 diferentes cultivos. São polinizadoras exclusivas de 74 desses cultivos. Um serviço ecossistêmico gratuito, do qual nos servimos e que, se fosse pago, orçaria por volta de R$ 43 bilhões por ano. Matamos as abelhas e vamos sacrificar também o setor agrícola.

Um Parlamento envolvido com orçamentos secretos, capaz de turbinar os “Fundões” eleitoral e partidário, que elimina o teto de gastos, que compromete a Democracia representativa, pois ninguém mais se sente efetivamente representado, foi capaz dessa façanha.

A única esperança virá de fora. O mundo civilizado enxerga o Brasil como “pária ambiental”, pois é o país que destrói seus biomas, notadamente a Amazônia, sem pensar nas consequências que disso advirão. Essa opção pelo premeditado envenenamento consolida essa posição da qual um integrante do governo chegou a se orgulhar.

Ora, o mundo presta atenção naquilo que os países exportadores fazem com sua produção. Bloquearão os grãos aqui cultivados, pois sequer o gado das grandes nações poderá ser alimentado com o que resulta de uma lavoura contaminada por herbicidas proibidos.

O Brasil insiste em negar a ciência, que já oferece a agroecologia, da qual poderíamos extrair a solução para os nossos problemas econômicos. Os engenheiros ambientais que fazem a denúncia sobre os pesticidas mencionam uma proposta alternativa, contida no PL 6670/2016. É impossível que nosso país continue a caminhar na contramão, sem levar em consideração que o ambiente é a grande alavanca do possível progresso nos próximos anos.

O maior perigo que a humanidade corre não é guerra nuclear, nem outras pandemias. É o aquecimento global. Nós, que poderíamos faturar alto com a venda de créditos de carbono, preferimos regredir, embora nossa Constituição contemple o princípio da vedação do retrocesso.

Triste sina em ser a “Geni” dos pesticidas, quando poderia continuar, altiva e pioneira, como a promissora promessa verde da década de setenta.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadãp
Em 22 09 2022



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