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Acadêmico: José Renato Nalini É uma questão de bom senso. Não é normal que alguém queira morar na rua. Quando isso parece ocorrer, a questão é de saúde mental.
São Paulo e seu centro vivo Todas as maiores cidades do planeta procuram manter seu centro histórico habitado, iluminado, limpo e atraente. São Paulo já foi assim. Mas há décadas, verifica-se uma grave deterioração dessa região que tem encantos cada vez mais escondidos. A aprovação do PIU central – Projeto de Intervenção Urbana para o centro expandido, reacende as esperanças dos paulistanos em relação ao seu miolo mais visado. Sonha-se com espaços arborizados, com iluminação que impeça a desenvoltura dos trombadões que abordam as pessoas e levam seus celulares, com passeios limpos. Com edifícios sem pichação, que recebam moradores de todos os segmentos. Veja-se Barcelona. As “ramblas” sempre repletas de transeuntes, os bares, os restaurantes, as lanchonetes, as lojas de souvenirs, as livrarias. É impossível não se sentir feliz numa cidade como aquela. Não é diferente a Roma de trânsito caótico, mas que leva a sério a preservação de monumentos históricos e arquitetônicos imemoriais. O turismo é uma indústria que nutre a economia espanhola, italiana e francesa, as mais próximas e mais frequentadas cidades, que sabem se valer de seus encantos. Espera-se que a intervenção urbana no centro de São Paulo ponha cobro e freio ao esvaziamento que se constata nas últimas décadas. Os jovens são expulsos para periferias cada vez mais longínquas. As moradias centrais são unipessoais. Essa migração para longe do centro acarreta custos econômicos, sociais e ambientais muito evidentes. Um indivíduo que mora longe e tem de viajar durante horas para chegar ao seu local de trabalho, já chega cansado e desalentado. Há queda manifesta da produtividade. O deslocamento faz com que se abuse na utilização dos combustíveis fósseis, causadores do efeito-estufa que é o principal motor do aquecimento global, gerador das mudanças climáticas. É uma insensatez deixar o centro que tem toda a infraestrutura disponível e potencialmente apta a receber adensamento, permanecer congelado. É antieconômico e antissocial ampliar o raio longínquo de ocupação desta inadministrável conurbação chamada São Paulo. Quando houver mais população na zona central expandida, haverá incremento ao comércio e aos serviços. Movimentar-se-á a rede cultural integrada por teatros, cinemas, galerias de arte e até restaurantes temáticos, livrarias e outros estabelecimentos. É a alternativa mais adequada a trazer vida útil e digna para o centro paulistano. É preciso coragem da administração para investir em dois outros problemas aparentemente insolúveis. A cracolândia e os moradores de rua. Os usuários de droga precisam de tratamento. A concentração deles atrai o traficante e a penúria empurra para a delinquência. O viciado é tão dependente, que não mede as consequências de um gesto agressivo para obter dinheiro destinado a comprar droga. Uma zona que já foi nobre na capital, os Campos Elíseos, foi contaminada e afugentou moradores, comércio e serviços, diante dessa calamitosa ocupação. Um colégio tradicional, o Liceu Sagrado Coração de Jesus, teve de encerrar suas portas. Meritório o gesto do Prefeito Ricardo Nunes ao aportar recursos municipais para a continuidade do projeto educacional. Mas isso é paliativo. A requalificação urbana da região traria de volta os clientes para a educação cristã ali ministrada. O outro ponto nevrálgico da capital é o aumento expressivo dos seus moradores de rua. Digam o que quiserem, rua não é lugar digno para morar. Essas pessoas precisam de apoio, capacitação e ocupação lícita, moradia com teto e privacidade. Juridicamente, quem invade uma propriedade particular pode ser dela retirado à força, pelo proprietário – o ordenamento não quer que a cidadania seja covarde – ou pelo Estado-juiz. Ora, quem ocupa um bem de uso comum do povo pode permanecer nele – passeios, praças, logradouros públicos – sem que o Estado intervenha? É uma questão de bom senso. Não é normal que alguém queira morar na rua. Quando isso parece ocorrer, a questão é de saúde mental. Espera-se que o PIU da Zona Central mereça o apoio do empresariado e não venha a ser obstaculizado pelo sistema Justiça, pois São Paulo merece um tratamento urbanístico e social compatível com a sua pujança. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 11 de setembro de 2022 voltar |
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