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Acadêmico: José Renato Nalini O agosto com mais queimadas, desde 2010, foi este de 2022. Foram registrados 33.116 focos.
O pior agosto para a Amazônia Infeliz Brasil que registra mais um recorde no desmatamento da Amazônia e dos demais biomas. A cada mês, mais desgraça. O agosto com mais queimadas, desde 2010, foi este de 2022. Foram registrados 33.116 focos, apurados pelo Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, remanescente dentre os organismos que estão sendo defenestrados nesta lamentável quadra histórica. Os quatro agostos desta gestão registram a marca nefasta de 121.383 focos de queimada na área da qual o Brasil poderia extrair sobrevivência econômica e reassunção da liderança ecológica no planeta. Tudo isso é provocado por uma ganância que rima, não coincidentemente, com ignorância. Enquanto o mundo civilizado calcula o que fazer para combater o aquecimento global, causado pela emissão dos venenosos gases que provocam o efeito estufa, o Brasil insiste em dilapidar um patrimônio que se manteve íntegro durante milênios. Antes que os invasores chegassem e acabassem com os naturais guardiões da terra, os indígenas. Uma visão equivocada e torpe faz com que se multiplique a área devastada. Desmata-se, aguarda-se que o terreno seque e em seguida ateia-se fogo ao resíduo, como tosca forma de “limpá-lo”. A desfaçatez é tamanha, que se programa uma nova série de “dias do fogo”, para que os interessados na exploração agropecuária mais injusta, que acaba com o solo, flora e fauna, possam extrair o imediatismo de uma renda assassina. Sim, mata-se a natureza, e com ela extingue-se a vida. Os ignorantes não percebem que a extinção do solo, da flora e da fauna antecipa a eliminação de qualquer espécie de vida sobre a Terra. A mais frágil dentre as várias experiências vitais que aqui se desenvolvem é a existência humana. Mikhail Gorbatchev, recentemente falecido e cujos necrológios indicam a sua importância para a abertura da URSS para um contato ocidental mais profícuo para as nações que a compunham e também para o restante do mundo, foi profético ao visitar o Brasil durante a Eco-92. Ele disse que os humanos teriam trinta anos para mudar seus hábitos de consumo. Se não se convertessem para uma espécie de ascese – algo inimaginável numa era em que o egoísmo, o narcisismo e o consumismo imperam e cegam os animais racionais, a Terra poderia continuar a existir, como astro inferior, numa galáxia de menor importância. Mas prescindiria da vida dos homens para persistir em sua rota infinita, rumo ao desconhecido. Já se venceram esses trinta anos. Não mudamos nosso comportamento. Ao contrário, reincidimos em práticas as mais nocivas, as mais selvagens, sem ofensa aos que assim chamamos. O maior atestado da estupidez da espécie que se autointitula “racional”, é a destruição do único habitat de que dispõe. Não existe a mínima possibilidade de migração de todos os bilhões de habitantes da Terra para outro planeta com as mesmas condições deste. É totalmente surreal que a espécie assassina também pratique suicídio. Quem mata a mata se mata, gosto de repetir! O que se sabe é que a ciência cansou de advertir a humanidade sobre os riscos que ela corre. Antigamente, quando se falava nas consequências da emissão de gás carbônico e outros gases pestilentos, a resposta era: “Daqui a cem anos não estarei aqui… Quem vier que se vire…”. Mas a profunda mutação climática ocorre já e agora. E em todos os lugares. Não há ponto do globo imune à ação do aquecimento global. Ninguém se comove com os deslizamentos de terra, as inundações, as precipitações cruéis, os furacões, a seca a obrigar acelerada migração de refugiados ambientais? Só pode ser demência deixar de obter os trilhões de dólares disponíveis para o urgente processo de descarbonização da Terra, para extinguir o tesouro que o homem invasor recebeu gratuitamente quando chegou a esta nação continental. Num período de economia combalida, de fome que atinge mais de trinta e três milhões de semelhantes, de falta de educação de qualidade, de saúde, moradia e emprego, joga-se fora a oportunidade de receber investimento estrangeiro. Resta invocar a piada maldosa que explica o povinho que iria habitar o Brasil, quando comparada esta terra com outras em que tsunamis, terremotos, vulcões e outras manifestações da natureza são frequentes. A benção da Providência em relação ao nosso chão é compensada com a desgraça de governos inclementes e de uma população que não tem capacidade de se indignar ante os desmandos. Uns e outra sofrerão as consequências do desatino. Infelizmente, as crianças serão as mais sensíveis dentre as vítimas. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 08 de setembro de 2022 voltar |
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