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Acadêmico: José Renato Nalini É justificado o temor de que o irascível grupo dos que se sentem perseguidos pelo Judiciário queiram mostrar seu poderio armamentista em 7 de setembro.
Festejar, não provocar A celebração da Independência do Brasil em 2022 deveria ter sido programada há muitos anos. Que vexame! Em 1922, a presidência da República fez uma Exposição Universal que atraiu centenas de milhares de turistas de todo o mundo. As nações construíram sólidos locais para apresentar seus êxitos, tanto que o chamado “Petit Trianon”, que serviu para a França, converteu-se na sede da Academia Brasileira de Letras. Nesta comemoração com dois zeros – duzentos anos – nada existe para mostrar a pujança do Brasil. A polêmica viagem que o coração de Pedro I, imerso em formol, fez da Igreja da Lapa no Porto até Brasília, não reveste a simbologia pretendida. Qual o sentido de se trazer esse músculo sofrido, daquele que praticamente foi expulso do Brasil em 1831, cujo pai o seria em 1889? Além disso, conclama-se a população para mostrar valentia. A campanha pelo armamento convenceu parcela bem considerável, alguns na ingênua crença de que andar armado significa segurança. É exatamente o contrário. As armas, instrumentos letais, sequer deveriam ser fabricadas, se estivéssemos num estágio civilizatório racional. É que a humanidade parece regredir e voltar à barbárie. Com divisão odiosa, com deboche, com sarcasmo, com a divulgação de inverdades, com o bombardeio das redes sociais disseminando a cizânia entre os brasileiros. É justificado o temor de que o irascível grupo dos que se sentem perseguidos pelo Judiciário queiram mostrar seu poderio armamentista nas concentrações de 7 de setembro. Não é isso que o Brasil quer, nem o que o Brasil precisa. O momento é propício a uma reflexão serena e atenta. Pode-se falar em “independência” no século 21? O que restou da soberania? Hoje o que existe é uma interdependência tensional, com o poder estatal disputando espaço com o poder real, exercido pelo dinheiro e pelos grandes conglomerados corporativos. Independência só pode ser concebida como sentimento personalíssimo: alguém que dependa de pouco para viver dignamente. Que não se apegue à matéria, que não faça conta de dinheiro. Que viva asceticamente. Mas será que esse exemplar humano existe nesta Terra de Santa Cruz? Publicado no jornal Diário do Litoral Em 05 de setembro de 2022 voltar |
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