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O MENINO ARAKEN
Acadêmico: José Renato Nalini
Que coisa boa ouvir o Araken partilhar de suas concepções voltadas à construção de uma cidade e de um convívio melhor.

O menino Araken

Pouco depois do meu nascimento, meus pais foram residir à rua Quinze de Novembro, nº 1485, onde passei minha infância e adolescência e permaneci até os trinta anos. Ouvia continuamente de meu pai, que um de nossos vizinhos era um garoto brilhante. O Araken, filho de D. Nenê e do Sr. Ulysses Martinho. Era uma família especial. Os filhos tinham nomes autenticamente brasileiros. Não haveria risco de sinonímia.

Desde cedo Araken mostrava os seus pendores. Não só como aluno exemplar, mas como alma criativa, pioneira, corajosa, empreendedora. Éramos admiradores do núcleo familiar dos Martinho. Seu Ulysses fez o projeto de reforma de nossa casa, pois a família crescia. Nós os tínhamos em alta conta. Era uma família de primeiríssima qualidade. Gente íntegra, proba, séria e confiável. Tanto que sua prole era o nosso exemplo de devoção aos estudos.

Durante essa fase, não convivi com o Araken. Embora poucos anos nos separassem, na infância e adolescência fazia diferença. Hoje, estamos na mesma faixa etária. Algo muito diferente do que era então. Lamentei não ser eleitor para votar nele para Prefeito, pois era o candidato ideal. Mas mantive, durante toda a minha já longa existência, a admiração herdada de meu pai. E hoje me orgulho do privilégio de ser seu amigo.

Que coisa boa ouvir o Araken partilhar de suas concepções voltadas à construção de uma cidade e de um convívio melhor. Poder fruir de seu inquebrantável idealismo.

Acompanhei, sempre louvando, o êxito de sua profissão, em gradual e constante ascendência. Notável por seus projetos arquitetônicos, é claro. Mas mais significativo é o seu espírito cidadão, típico de um patriota que se empenha em tornar o Brasil melhor.

Tem uma visão muito lúcida do papel da arquitetura na transformação da sociedade. Sua estética é profundamente ética. Preocupa-se com a saúde das cidades, com a missão do arquiteto em produzir ambiente urbano suscetível de permitir o pleno desenvolvimento das potencialidades individuais e de favorecer o convívio social. É um excelente profissional, um artista talentoso, um cidadão prestante. Concilia um conjunto de atributos que poucos conseguem amealhar.

Acompanhei com fervor entusiástico, embora discreto, a sua caminhada por nossa Jundiaí, terra que produziu Ariosto Mila, Antonio Fernandes Panizza, a quem perdemos recentemente, Mário Augusto de Oliveira Bocchino, Eduardo Carlos Pereira, Ademar Fernandes e tantos outros. Time de qualidade, que teria tornado nosso chão ainda mais aprazível e acolhedor.

Foi Campinas, na gestão do Prefeito Toninho, do PT, o Antonio da Costa Santos, assassinado há vinte anos, quando estava havia apenas oito meses no comando daquela encantadora metrópole, que reservou a Araken Martinho um cargo compatível com o seu talento e com os seus méritos. Pode-se recordar que "profeta não faz milagre em sua terra"...

Ali, naquela metrópole que equivale a uma verdadeira capital, ele projetou a Capela da PUC, de cuja Faculdade de Arquitetura chegou a ser diretor, para orgulho nosso. A PUC, de onde saímos tantos jundiaienses, cuja "colônia universitária" se destacou em todos os campos e continua a se destacar, qual nicho de excelência reconhecidamente bem sucedido.

É gratificante constatar que Jundiaí reverenciará Araken Martinho, esse menino que chega aos noventa anos com a alma infantil guarnecida por experiências, sucessos e sofrimentos. É uma glória merecida, não tardia, nem fria, como costumam ser as homenagens humanas.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 28 de agosto de 2022




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