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Acadêmico: José Renato Nalini Seria melhor ler “O Pêndulo de Foucault” antes de ler “O complô no Poder”. Pois o livro de Eco mostra o que é paranoia em várias dimensões.
O complô no Poder Faria bem aos brasileiros de boa vontade e abertos a uma reflexão, a leitura do livro “O complô no Poder”, da professora de filosofia italiana Donatella Di Cesare, publicado pela editora Ayiné. Ela mostra como alguns governos criam a teoria da conspiração para se fortalecerem no comando das políticas públicas e na fanatização do povo. Isso tem ocorrido em várias partes do mundo e os exemplos são abundantes. A seita paranoica QAnon, o incrível fenômeno antivacina, que leva médicos a dizerem que os fabricantes querem dominar outros povos e subjugar as nações que se vacinarem, a invasão de notícias falsas, que sempre existiram sob a forma de boatos, mas que as redes sociais elevaram à enésima potência. Donatella recorre a Umberto Eco, não aquele de “O Nome da Rosa”, mas o autor de “O Pêndulo de Foucault”, o mesmo pensador que afirmou que antes da internet o imbecil falava sozinho ou a poucos dispostos a ouvi-lo em um botequim. Agora, as redes sociais deram voz à imbecilidade galopante, aos catastrofistas, aos que enxergam o comunismo em todas as falas, os negacionistas, os terraplanistas, os armamentistas e outros exotismos muito perigosos. Seria melhor ler “O Pêndulo de Foucault” antes de ler “O complô no Poder”. Pois o livro de Eco mostra o que é paranoia em várias dimensões. Ou fazer a leitura simultânea de Karl Popper, no seu clássico livro “A Sociedade Aberta e seus inimigos”, de 1948, mas ainda atualíssimo. A conclusão é a de que o pensamento conspiratório está sempre arquitetando fazer mal aos outros. Ou como diz Richard Landes, no livro “Céu e Terra”, que o paranoico pretende fazer crer que “nós somos os bons – os bem-intencionados, as vítimas inocentes, necessitados de eterna proteção contra as agressões exteriores – enquanto “eles são os malvados – maliciosos, implacáveis e que jamais pararão para ter o poder absoluto e assim prejudicar o resto do mundo”. Como diz Martim Vasques da Cunha, a quem recorri para esta reflexão, “ao projetarem o mal nos seus semelhantes, os crentes conspiratórios se eximem de qualquer culpa e responsabilidade, surgindo daí a ausência de autocrítica em tal tipo de raciocínio”. Você tem acreditado em alguma versão conspiratória dentre as que não param de chegar em seu celular ou smartphone? Publicado no jornal Diário do Litoral Em 15 08 2022 voltar |
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