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QUEM NÃO CONHECE SUA TERRA...
Acadêmico: José Renato Nalini
A falta de apreço pela história da cidade faz parecer que é desprovida de tradição

Quem não conhece sua terra...

Criança! Ama com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Quem se comove hoje com tal exortação? Parece que não há mais bairrismo. As pessoas se vinculam a outros valores. A terra natal é circunstância que se não leva mais em consideração.

Nem sempre foi assim. Jundiaí foi berço de famílias ilustres, importantes para a Província de São Paulo no período imperial. Mais antiga do que Campinas, cujo nome era "Nossa Senhora da Conceição do Mato Grosso de Jundiaí", aos poucos a filha, denominada a "Princesa d'Oeste", foi ficando mais importante do que a mãe.

Por isso é que, mais ou menos em 1880, uma família jundiaiense foi se radicar em Campinas. Eram os Pereira Bueno, integrantes de velhos troncos paulistanos. Francisco de Paula Pereira Bueno e D. Ana Joaquina Gonçalves Pereira Bueno tinham oito filhos, dos quais seis homens. O filho José foi telegrafista na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a cobiçada ferrovia inaugurada com grandes pompas em 1872.

Esse jovem jundiaiense era considerado um exemplo de pessoa. Ponderação e equilíbrio, destemor quanto ao que entendia ser certo ou errado. Rijo nas decisões, mas compassivo e solícito para com os humildes.

A aproximação de tempos conflituosos para o Império coincidia com a pregação pela eliminação da escravatura. José Maximiano Pereira Bueno - era esse o seu nome -se indignava com os "lotes" de escravos comercializados qual mercadoria no Largo da Matriz Nova.

Viu que havia uma jovem escrava com filho pequeno ao colo e um rapaz que era o pai da criança. O negreiro ofereceu à venda mãe e filho e, em separado, o cabeça do casal. O comprador quis ver os dentes do escravo e como ele não abrisse a boca, bateu-lhe com o cabo do relho e abriu-lhe uma fenda nos lábios.

Fremente de indignação pelo quadro nefando, José Maximiano foi procurar abolicionistas em casa de Bento Quirino e com eles foi buscar a família separada, nas fazendas de seus proprietários. Destinou-os a propriedades rurais que mantinham libertos os seus negros.

Além de abolicionista, era homem de ação. Ajudou a administração campineira antes e depois da proclamação da República. Amigo de Campos Sales, quando Ministro da Justiça do governo provisório, escreveu sugerindo nova legislação municipal e criação de juntas comerciais. Propôs que as repartições administrativas fossem dirigidas por negociantes - diga-se empresários - em lugar de distribuídas a bel prazer pelos políticos profissionais, que então já existiam.

Essa praxe ainda vigora e é a razão pela qual as gestões municipais se perdem nas futricas, no nepotismo, na locupletação das curriolas e pouco em geral oferecem ao povo que paga por tudo isso.

Este episódio é apenas um, dentre os muitos que ocorreram naquela Jundiaí que existia desde o século XVII e que fora residência dos Queiroz Telles, de tamanha influência na vida política brasileira imperial.

A falta de apreço pela história da cidade faz com que ela pareça desprovida de tradição, de heróis emblemáticos, cuja trajetória possa animar a estudantada de hoje. Como faz falta o cultivo da História local, das façanhas de seus maiores, de tudo o que produziria o milagre de fazer a mocidade se orgulhar de Jundiaí. Ela não tem culpa! Não a ensinam a conhecer sua terra e, por esse motivo, podem até desgostar dela.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 14 08 2022



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