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Acadêmico: José Renato Nalini As aulas de gratidão de Ramos de Azevedo precisariam ser resgatadas
Modelo de virtudes Em tempos sombrios, quando a humanidade se apega à matéria e despreza o espírito, cumpre aos que ainda não perderam o discernimento mostrar à juventude exemplos a serem seguidos. Parece incrível, mas já tivemos paradigmas em todas as áreas, antes da decomposição da moral e do enterro da ética. Um deles é Francisco de Paula Ramos de Azevedo, nascido a 8.12.1851 em São Paulo, por mero acaso. Sua mãe, Ana Carolina de Azevedo, fora acudir à irmã, enferma, e chegou o tempo de dar à luz ao filho do Major João Martins de Azevedo. Só por isso Ramos de Azevedo não nasceu em Campinas, mas se considerava campineiro de coração. O nascimento é um acaso. A geração é que vale. E ele foi gerado em Campinas. Gente religiosa, consagrou o menino à Imaculada Conceição, cujo templo na "cidade das andorinhas" ele concluiu, entre 1879 e 1883. Antes, fizera os seus estudos na cidade natal e aos quinze anos, cursou a Escola Militar da Corte, dirigida pelo General Polidoro. Voltando a Campinas, trabalhou na construção da nossa Companhia Paulista de Estradas de Ferro e na Mogiana. Ali ficou amigo de Antônio de Queiroz Telles, barão e mais tarde Visconde de Parnaíba, gente de Jundiaí. Seu talento logo foi percebido pelos chefes, que recomendaram fosse especializar-se em arquitetura na Bélgica, na Escola Politécnica da Universidade de Gand. Voltou consagrado e consolidou bela carreira como responsável pelo Teatro Municipal de São Paulo, o Palácio da Justiça, o Mercado Municipal, a restauração da Igreja Matriz, hoje Catedral de Nossa Senhora do Desterro em Jundiaí. Queiroz Telles tornou-se Presidente da Província de São Paulo, substituindo o Barão de Jaguara e foi ele quem chamou Ramos de Azevedo para a capital, onde realizou obras incomparáveis e que hoje ornamentam a maior conurbação da América Latina. Ramos de Azevedo reconhecia os méritos alheios. Agregador, chamava todos os que tinham condições a também trabalharem com ele e lutava por sua remuneração condigna. Outra característica desse homem é ter cultivado, no mais profundo de sua alma, essa flor humana tão rara do reconhecimento a favores recebidos: a flor hoje ressequida da gratidão. Nunca se locupletou na edificação de obras públicas de grande orçamento. Embora festejado e chamado a projetar em outros países, permaneceu em São Paulo e completava os seus ganhos como Vice-Presidente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. No prédio hoje chamado "Ramos de Azevedo", mantinha seu escritório e estava diariamente à testa de seus projetos. Mantinha atrás de sua mesa um grande retrato a óleo do Visconde de Parnaíba, bememérito jundiaiense. Chamava-o o "anjo bom" daquela casa. Foi fiel ao vaticínio de Francisco Glicério que, conhecendo-o desde a infância, dele dizia ser "homem de boa estrela". Sobre o Visconde de Parnaíba, dizia: "foi esse homem quem me deu a mão no princípio da minha vida; quem me pôs na primeira turma de construção da estrada...". E narrava, carinhosamente, todos os benefícios que Antônio de Queiroz Telles havia gerado para São Paulo. Ramos de Azevedo levava vida simples e modesta. Sua casa à rua Pirapitingui contava com jardim de rosas, era terno com a mulher Eugênia e seus filhos. Sua mobília de sala de jantar, obra do Liceu de Artes e Ofícios, hoje está em casa de Sylvia e Francisco Vicente Rossi, em Helvetia. As aulas de gratidão de Ramos de Azevedo precisariam ser resgatadas, para inspirar a mocidade contemporânea. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 04 08 2022 voltar |
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