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PENSANDO O IMPENSÁVEL
Acadêmico: José Renato Nalini
Esse o título de um livro escrito por Gil Giardelli e recentemente lançado. O subtítulo é “Como sobreviver a um presente caótico e preparar-se para um futuro promissor”.

Pensando o impensável

Esse o título de um livro escrito por Gil Giardelli e recentemente lançado. O subtítulo é “Como sobreviver a um presente caótico e preparar-se para um futuro promissor”. É bom que no catastrofismo resultante de outros “ismos”, encontre-se uma âncora preservadora do equilíbrio e da estabilidade emocional, sem o que o desalento impera e não conseguimos evitar uma acelerada corrida rumo ao caos.

Os dez capítulos têm conteúdo instigante: o futuro não é como pensávamos, nada será novamente do modo como já foi, forças que pulverizaram o mundo, composição e não contraposição, estratégias e visões para um amanhã diferente, como criar um futuro promissor, nunca pare de aprender, as próximas fronteiras, pandemia, um acelerador de tendências e, finalmente: E o Brasil nesse cenário.

Esta parte do livro tem por epígrafe uma frase que Victor Hugo pronunciou na Assembleia Constituinte da França em 10 de novembro de 1848: “Qual é o perigo da situação atual? A ignorância. A ignorância, muito mais que a miséria… É num momento semelhante, diante de um perigo como esse, que se pensa em atacar, em mutilar, em sucatear todas essas instituições que têm como objetivo específico perseguir, combater e destruir a ignorância!”.

Gil Giardelli reconhece que “o povo brasileiro é, sabidamente, muito criativo, mas a verdade é que é pouco inovador, e há algumas razões para isso. Para uma nação ser inovadora, é preciso do suporte que chamamos de tríplice hélice da inovação, composto de iniciativa privada, políticas governamentais e academia, ou seja, universidades e centros de estudo. Com essas três frentes trabalhando juntas e em coordenação, é possível aproveitar o potencial criativo de um povo e transformá-lo em iniciativas realmente inovadoras”.

Aqui o obstáculo que foi enfatizado nos últimos anos: a falta de projetos na área educacional, entregue a pessoas despreparadas e, ao que consta, mal-intencionadas. O desmanche das estruturas lentamente edificadas, sua entrega e aparelhamento a cultores do obscurantismo, negacionismo e teorias conspiratórias. A malversação de dinheiro suado de um contribuinte que trabalha mais da metade do ano para pagar tributos e recebe miserável contraprestação por parte de um Estado perdulário. Um Estado que se devota a criar despesas que fraudam a responsabilidade fiscal, superam – irresponsavelmente – o teto de gastos, atendem a interesses menores e eleiçoeiros. Como explicar às novas gerações, que em pleno 2022, o Parlamento brasileiro se entregava a orçamentos secretos e ao incremento irracional de Fundos Partidário e Eleitoral? Tudo com vistas a pretensões menores e egoístas, para alimentar a matriz da pestilência chamada reeleição?

Tudo passa pela educação. Chega-se a acreditar que é premeditada a oposição à preparação de novas gerações, pois estas – se tivessem formação adequada, seriam força crítica e reivindicativa que solaparia malfeitos de qualquer governo. Gil Giardelli toca na ferida: “Se no mundo a questão da educação está complicada, no Brasil ela é crítica, e isso é bastante preocupante quando se pensa em termos de futuro, desenvolvimento e inovação. Temos um sistema educacional obsoleto, preso ao modelo acadêmico estabelecido em 1971, há mais de cinquenta anos, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que definia o formato da educação geral do país, da básica até a superior. De modo muito triste, a educação deixa o Brasil na lanterna da nova era. Não bastassem os problemas crônicos da educação em comum com outros países, aqui há outros ainda mais graves, com a total desvalorização dos professores – e até a demonização da categoria por determinados segmentos da sociedade – , despreparo dos profissionais, salários indecentes, falta de incentivo e de interesse público em melhorar o ensino, desdém dos governantes – eles próprios despreparados em termos de educação -, pouca seriedade com a área, precarização e falta de espaços escolares públicos e alta evasão escolar, entre outros fatores, que compõem um cenário obscuro. Só 1,4 dos jovens querem ser professores no Brasil, e pouco reconhecimento e baixos salários estão entre os motivos para esse desinteresse, que aumentou muito na última década”.

Ainda assim, no epílogo Giardelli novamente invoca Victor Hugo: “Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as ideias” e Albert Einstein: “Tornou-se aterradoramente claro que nossa tecnologia ultrapassou nossa humanidade”.

A mensagem final é de esperança: “Precisamos ser humanos, antes e acima de tudo. Não podemos ser e agir como máquinas”. Que isso nos inspire a acreditar na humanidade e na sua capacidade de regenerar valores, hoje em lamentável declínio.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 31 07 2022



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