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CONHECI MELHOR QUEM JÁ CONHECIA
Acadêmico: José Renato Nalini
Viver bastante é usufruir do privilégio de conhecer muita gente

Conheci melhor quem já conhecia

Viver bastante representa usufruir do privilégio de conhecer e de conviver com muita gente. Sempre aprendi com as pessoas que surgiram em minha vida, muitas delas inesquecíveis e insubstituíveis.

Mas nada como ter a oportunidade de mergulhar no passado e resgatar páginas pouco exploradas, que nos fazem conhecer melhor vultos com os quais nos encontramos quando eles já se aproximavam do fim da jornada.

Foi o que aconteceu ao ler o livro "A Faculdade de Direito de São Paulo e a resistência anti-Vargas", de John W.F. Dulles. Encontrei tanta gente com quem estabeleci relações de amizade e de convivência e cujos pormenores da vida acadêmica só vim a descobrir agora.

O primeiro deles é Adriano Marrey, que foi meu examinador quando me submeti ao 144º concurso de Ingresso à Magistratura. Depois o visitei em sua casa, junto com Ovídio Rocha Barros Sandoval, para motivá-lo a liderar um pleito em favor do Judiciário. Foi ele quem, a 11 de agosto de 1930, redigiu a resolução que tornou a praça e o pátio das Arcadas no "território livre do Largo de São Francisco".

Em seguida aparece Herbert Levy, herói da Coluna Invicta de 1932 que, na formatura da Escola Livre de Sociologia e Política, fez um discurso clamando abertamente por liberdade e democracia e prevenindo contra estadistas que se convertiam em instrumentos das próprias ambições. Genro do Professor Waldemar Ferreira, encontrava-me em reuniões familiares, pois aparentado com meu sogro.

Vejo que Auro Soares de Moura Andrade foi primeiro orador e bucheiro do Largo. Também frequentou Jundiaí, pois sua esposa Beatriz era irmã de Cecilia Nogueira Prado.

Antônio Sylvio da Cunha Bueno era um parlamentar interessado nas coisas da Justiça e me tornei seu amigo, assim como de seus filhos, Dora Sylvia e Antonio Henrique. Foi ele quem, na condição de Secretário da Cultura, veio implementar o tombamento do Solar do Barão de Jundiaí.

Roberto Costa de Abreu Sodré e Paulo Nogueira Neto aparecem depois, como personagens do livro. Paulo, com quem convivi na Academia Paulista de Letras, escreveu: "para nós, a bandeira paulista, que foi desfraldada a 23 de maio de 1932, é um símbolo de liberdade e autonomia; ela continua, altiva, dominando a mente de milhões de bandeirantes!".

Vejo que em 1939 meu Mestre na Pós-graduação, Joaquim Canuto Mendes de Almeida tornou-se catedrático em Processo Penal. Como aluno, ali já estava Gilberto Quintanilha Ribeiro, meu amigo do MP e colega de classe de meu sogro Francisco Glycério de Freitas Filho. Fiquei sabendo do papel corajoso exercido por Luís Gonzaga Bandeira de Melo Arrobas Martins, católico praticante, que depois foi membro da APL e com quem convivi um pouco na Fazenda Campo Verde, de Dulce e Victor Simonsen.

Geraldo de Camargo Vidigal, que foi também meu professor de Direito Econômico na pós-graduação e era marido da Mariazinha, de quem fui padrinho de casamento, foi um dos acadêmicos mais prestigiados das Arcadas. Perseguido por Getúlio, lutou na Itália pela FEB e voltou promovido.

Mas aparecem ainda Paulo Zingg, que foi Diretor de Pessoal da Fepasa, ex-Cia. Paulista de Estradas de Ferro, onde trabalhei, e que me aconselhou a me exonerar da ferrovia e permanecer ao lado de Walmor, na Prefeitura. Hiram Mayr Cerqueira, que conheci quando se casou com Rosana Dall'Acqua, Juca Santana, desembargador poeta do TJ, o jusfilósofo Miguel Reale, que votou em mim nas duas candidaturas à APL e Israel Dias Novaes, que me achava muito novo para me tornar "imortal" bandeirante.

Foi bom me reencontrar com eles. Hoje, todos no etéreo.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 31 07 2022



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