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Acadêmico: José Renato Nalini Quem será o historiador que fará o papel de Heródoto quanto ao relato das verdadeiras “guerras” de inverdades e de meias verdades, de negacionismo e de conspiração, na busca de uma informação correta e segura?
O pai da História autor, a técnica da composição, a Os antigos chamam Heródoto de “Pai da História” e eles não estão errados. Na verdade, a história de Heródoto, pela grandeza desse abundância e a exatidão dos ensinamentos, a altura das ideias, a arte do estilo, é a primeira obra histórica digna desse nome. Mas todo homem de gênio tem seus precursores. Isto é verdadeiro para Heródoto, como o é para Homero e para Ésquilo. A história, na Grécia, extrai suas origens da epopeia. A epopeia helênica, produziu a genealogia dos reis e dos guerreiros ilustres e celebrou suas conquistas, assim como as de seus ancestrais. Os Gregos levaram a sério as lendas poéticas. Durante muito tempo, as narrativas da Ilíada foi o livro de ouro das cidades helênicas. Os poemas de Hesíodo e de sua escola oferecem uma tendência histórica muito mais firme do que os poemas homéricos. Tentam por ordem cronológica e genealógica na confusa variedade de lendas históricas e divinas. Daí porque, a poesia presidiu o nascimento da história na Grécia e a acompanhou, desde seu berço. Nada obstante, é com a prose que aparece verdadeiramente a história. A prosa, que é o órgão da razão, sucedeu à poesia, que é o órgão da imaginação. Duas condições eram necessárias à eclosão e ao desenvolvimento da prosa: de início, o uso racional da escrita alfabética e, em seguida, a descoberta de uma matéria flexível, comodamente transportável e menos custosa do que as placas de mármore ou de bronze, os tabletes de madeira, a pele de cabra ou de gado. Os papiros eram ideais para receber os caracteres escritos. Isso veio a oferecer condições para que Heródoto passasse a escrever história. Ele nasceu em Helicarnasso, por volta do ano 480 a.C. Era uma colônia Doriana fundada pelos colonos de Epidaure e fazia parte da confederação das seis colônias dorianas da Ásia Menor, cujo centro religioso era o santuário de Apolo Triópico. O primeiro historiador da Grécia não tem história. Não se possui, de sua vida, senão textos esparsos e incertos. Ele pertencia a uma família notável. Seu pai se chamava Lyxés. Seu tio Panyasis, compusera um poema épico e, por esse motivo, a família toda foi perseguida. Ele teve de se refugiar em Samos, colônia jônica. Ali ele descreveu os monumentos e conta em detalhe a história em sua obra. Também ali, em concerto com outros banidos, ele forma um complô para livrar Helicarnasso da tirania de Lygdamis. Eles o conseguem e retornam à pátria. Mas o triunfo não teve longa duração. Uma reviravolta política, de cujas causas e eventos pouco sabemos, o exilaram de novo e, desta vez, para sempre. Mas foi isso que o tornou verdadeiro historiador. Seu projeto era não permitir fossem esquecidos os homens que o precederam, o prazer de contar as coisas maravilhosas e de celebrar as ações memoráveis, a necessidade de procurar as causas, também os motivos das viagens e das pesquisas que ele realizou durante sua vida. Vai às origens da inimizade entre gregos e persas, mas não se atém às lendas poéticas. Entra plenamente na realidade histórica e resgata a vida de Créso, rei da Lídia, que é o primeiro bárbaro a subjugar os gregos da Ásia e cujo reino foi incorporado ao império persa. Heródoto, como todos os gregos, divide a humanidade conhecida em seu tempo em duas partes: de um lado os gregos e de outro os bárbaros. Ele chama bárbaros todos os homens que não são de raça e língua helênica. Cabem todos nesta última enorme divisão. Toda esta reflexão se faz para dizer que, de certa forma, a polarização em que o Brasil mergulhou conduz a uma espécie de banimento ou de “cancelamento”, a palavra da moda, de todos aqueles que não pensam de maneira idêntica aos fanáticos. Na Grécia antiga, o mundo bárbaro reunido sob a dominação do Império persa, causou um grande choque. Este é chamado na História por “Guerras Medas”. No mundo contemporâneo, principalmente no Brasil, quem são os gregos e quem são os bárbaros? Quem será o historiador que fará o papel de Heródoto quanto ao relato das verdadeiras “guerras” de inverdades e de meias verdades, de negacionismo e de conspiração, na busca de uma informação correta e segura? As narrações e descrições de Heródoto dão vida aos personagens. Ele reproduz diálogos, faz questão da autenticidade da linguagem daqueles cuja vida e obra ele retrata. Hoje tudo isso é mais fácil. As TICs – Tecnologias da Informação e da Comunicação permitem se grave e se perpetue imagem, som e movimento. A holografia permitirá restaurar episódios em terceira dimensão. Dizem que o 5G e a internet das coisas, além do metaverso, farão com que duvidemos do que é real e do que é virtual. Há muito material, portanto, em busca de um historiador. Que o exemplo de Heródoto frutifique. Precisamos de boa história, fidedigna e, se couber, com ao menos um pouco de poesia. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 29 07 2022 voltar |
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