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Acadêmico: José Renato Nalini A represa de Guarapiranga tem tudo para se tornar uma atração turística de infinitas potencialidades de lucro. Para isso, precisaria ser tratada como patrimônio ambiental.
O sonho da Guarapiranga limpa A represa de Guarapiranga tem tudo para se tornar uma atração turística de infinitas potencialidades de lucro. Para isso, precisaria ser tratada como patrimônio ambiental. A falência do governo em preservá-la e ao seu entorno a transformaram num grande espaço líquido poluído. Ocupações ilícitas incentivadas por agentes inescrupulosos condena a uma vida indecente uma legião de semelhantes. Por isso é com gáudio e discreta esperança que se recebe a notícia de que a Prefeitura de São Paulo quer revitalizar sua orla. Promove consulta pública a respeito de dois grandes projetos: o primeiro para a concessão de sete parques na região para a gestão privada. Seguir o modelo do Ibirapuera. Quem visita esse Parque pode constatar os benefícios da concessão: limpeza, cuidados com a vegetação já existente, ampliação de espaços verdes, higiene dos sanitários, pessoal de limpeza e vigilância em permanente atuação. O segundo projeto é no sentido de uma PPP – Parceria Público-Privada, para instalar um complexo multiuso no Santa Paula Iate Clube, que está sem funcionar há algumas décadas. Será muito bom para São Paulo – não só para a capital, mas para o interior também – se isso der certo. A conurbação paulistana é uma insensatez. Há mais concreto do que verde em toda a área densamente ocupada e em acelerado estágio de maior densificação, com a construção de inúmeros edifícios e de lançamentos que ocorrem a cada momento. Esse fenômeno precisa de derivativos, de espaços para descontração e de mitigação do estresse, além de recomposição de áreas subtraídas à natureza para uma desordenada ocupação por sub-moradias. Sempre pensei que as grandes empresas da construção civil poderiam se encarregar da destinação sustentável da orla. Elas têm sido beneficiadas pelo boom desenvolvimentista que alavanca a edificação de inúmeros novos prédios. Uma contraprestação poderia ser o compromisso de revitalizar uma parte da represa. Mediante providências que revertessem o comprometimento da higidez da água com a emissão de resíduos poluentes, construção de estações de tratamento de esgoto, restauração das espécies arbóreas garantidoras da vida dos cursos d’água e da oxigenação da represa. Isso se faria simultaneamente à preparação da população local para as novas atividades próprias a um lugar turístico. Os frequentadores precisarão de bares e restaurantes, de aluguel de barcos ou de aparelhos para esportes aquáticos, de cozinheiros, de garçons, de bartenders, de guias turísticos. Enfim, haveria uma sedutora opção para aqueles que, ali residindo, somente inflam a estatística dos desempregados ou dos informais sem garantia alguma de subsistência segura e digna. Segundo a municipalidade, já existem seis parques ao norte da represa: Guarapiranga, Barragem da Guarapiranga, Praia do Sol, Linear-Castelo, Linear Nove de Julho e Linear São José. Consta que juntos, recebem cerca de 830 mil pessoas por ano. Aprovado o plano que se anunciou, essa população de frequentadores ao menos dobrará. O município tem legitimidade para conclamar aqueles que estão bem na cena, que estão lucrando com a situação global e que têm recursos suficientes para devolver, à sociedade, uma parcela daquilo que ela destinou a eles. Bancos, instituições financeiras, empresas de telecomunicação, os conglomerados gigantes Google, Amazon, Microsoft, são alguns dos que podem e devem ajudar a revitalização da Guarapiranga. Parece que a salvação do Pinheiros se tornou possível, pois houve vontade política e investimento consistente e sério. A salvação da Guarapiranga é algo ainda maior. Sua água nos abastece e se continuar a ser poluída, cada vez mais o governo gastará com substâncias químicas utilizadas para torná-la consumível. Além do dispêndio, ninguém poderá assegurar que água assim tratada não conterá ainda algum resquício do veneno que a ignorância e a cupidez conseguem arremessar, continuamente, nessa represa. São Paulo precisa de boas notícias, depois de tanto sofrimento causado pela pandemia, tanta fome, tanto desemprego, tanto desalento. E a requalificação, revitalização, restauração ou recuperação da Guarapiranga é, de fato, uma boa nova. Alvíssaras e que a municipalidade leve a termo esses projetos e assuma a postura de uma entidade federativa amiga da ciência e pronta a mitigar os efeitos das mudanças climáticas geradas pelo aquecimento global. Consequência da insanidade humana, que parece ter superado qualquer limite. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 28 07 2022 voltar |
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