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Acadêmico: José Renato Nalini O Brasil tem duas carências crônicas: sente imensa falta de ética e, igualmente, sofre de ausência de amor.
Quem mais amou o Brasil? O Brasil tem duas carências crônicas: sente imensa falta de ética e, igualmente, sofre de ausência de amor. Ética, tenho reiterado, é a matéria-prima de que nos ressentimos. Nada obstante o valioso patrimônio natural, a exuberante biodiversidade, foi a falta de ética a responsável pela destruição do verde e comprometimento da imagem reputacional do país no exterior. A Ética estava na UTI, mas veio a óbito quando o Parlamento se lançou à volúpia dos orçamentos secretos, da expropriação das competências do Executivo e da intensificação dos Fundos Eleitoral e Partidário. Essa morte mais do que prevista e anunciada se espraia por todos os setores e contamina a fragmentada e complexa sociedade brasileira. Quanto ao amor, se todos amassem o Brasil, não o tratariam com tamanho menosprezo. Em todas as áreas, em todos os setores. Verifica-se o desamor em várias nuances. Foi o desamor que nos levou à condição de “pária ambiental”. Desde o descompromisso com o zelo pelo ambiente, a produção de um inacreditável lixo, o desperdício próprio à ignorância, o desapreço pela educação, a única chave para a redenção nacional. Ausência de amor está na irresponsabilidade com que se elegem pessoas despreparadas, muitas delas apenas interessadas no próprio enriquecimento. Omissão no trato de questões urgentes, como a fome, o iletramento, o desemprego, a desigualdade e a exclusão. Até na cultura de inferioridade, a desconsiderar os valores tupiniquins e a se encantar com tudo o que é estrangeiro. Nem sempre foi assim. Neste ano em que se celebram duzentos anos da independência, cumpre resgatar seus heróis, notadamente o Imperador Pedro I. Ele, realmente, amou o Brasil. Proclamou-o, sem constrangimentos. E o fez até por escrito. Em 28 de setembro de 1832, escrevia ao filho, o menino aqui deixado aos cuidados de José Bonifácio de Andrada e Silva, exacerbado de saudades do Brasil. Abria o seu coração para com seu herdeiro: “Deus permita que, ao receberes esta, te aches de saúde; e que o Brasil goze de tranquilidade, união e liberdade, que tão necessárias lhe são, para que em breve possa ser admirado e respeitado das mais nações, do Velho Mundo. Eu faço ardentes votos aos céus, para que a minha adotiva Pátria seja feliz, estou com ela. Não permitirá Deus que nos vejamos ainda um dia, nesse abençoado país, quando tu imperares em pessoa, e que não possam haver suspeitas de que desejo, o que nunca desejei? Ah! Que meus olhos se me enchem de lágrimas, quando penso que um dia ainda poderei ver-te, e morrer naquele mesmo país, em que tu imperas; em que estão minhas filhas; daquele país ao qual jamais o meu coração deixou de pertencer, apesar de tanto que sofri, pelo amar, como se fosse nele nascido!”. Em 2 de dezembro de 1832, aniversário de Pedro II, ele escrevia: “O ano passado tive o gosto de te escrever de Paris, neste mesmo dia, para te dar os parabéns dos teus anos; hoje, igualmente, o faço desta heroica cidade, (estava no Porto), para o mesmo fim, bem como para te certificar do interesse que tenho por ti. Todos os b nos brasileiros que desejam de coração (como eu), ver feliz a Terra de Santa Cruz, não poderão deixar de celebrar, com todo o entusiasmo, este dia, como o de maior interesse para o Império Brasileiro: da tua conservação dependerá a futura felicidade, do hoje, desgraçadamente anarquizado Brasil; a ti está reservada a glória de o fazer chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz; e de fazer agrilhoar a anarquia apagando, para sempre, o facho da discórdia e firmando a Constituição”. Pedro I, embora abdicatário, nunca deixou de amar o Brasil. Nessa mesma carta, o ex-Imperador dizia: “Eu faria uma grande injustiça aos meus concidadãos se não estivesse persuadido de que eles se acham penetrados destas verdades, e de que à porfia se desvelam por sustentar-te no trono, convencido de que se não seguirem a Constituição e D. Pedro Segundo, a mesma sorte da infeliz América (outrora espanhola) os espera. Posto que dedicasse esta carta, unicamente, aos parabéns deste, para todos os brasileiros, fausto dia, não posso, contudo, deixar de te pedir que cuides muito de te instruíres; de te fazeres digno do amor dos teus súditos, desde já, e da admiração de todos, para o futuro”. Raros os exemplos de verdadeiro amor à Pátria registrados em nossa história. Principalmente no período republicano, que começou com um golpe e com a infame ingratidão perpetrada contra o magnânimo estadista, que nunca teve similar em termos de estatura ética, o Imperador Pedro II. Exatamente o filho daquele que talvez tenha sido o governante que mais amou o Brasil. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 20 07 2022 voltar |
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