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Acadêmico: José Renato Nalini Se não existe um curso que ensine a envelhecer, há pensadores que se devotam a isso
Curso de envelhecer Ainda não existe oferta de cursos que ensinem a envelhecer. Assim como quase tudo na vida, aprende-se no caminho. Atingir a ancianidade pode ser uma dádiva, comparada à alternativa: morrer prematuramente. Não critico ninguém. Compreendo quem queira retardar a velhice e recorra a plásticas, lipoaspirações, passe a frequentar geriatras e outros profissionais de acompanhamento ao longo dos anos. Nem concordo com eufemismos tais como "a melhor idade". Sabemos que não é. Sentimos a chegada dos achaques, das falhas, do retardamento nos gestos, nos passos, o cansaço mais presente e tudo aquilo que nos faz lembrar: "já não tenho vinte anos!". Fica-se mais saudosista. Como o mundo parecia melhor antigamente! Como tudo era mais colorido, mais bonito, mais ingênuo, mais feliz! Lamenta-se pelos jovens de hoje, aturdidos com excesso de requisição, ouvindo sons roucos e metálicos, os golpes em síncopes que parecem máquinas de construção e reverberam na caixa toráxica... Mas é o tempo deles. Gostam disso, vão continuar por aí. Com o problema da coluna vertebral, pois a cabeça está sempre inclinada em manuseio dos mobiles. E serão, inevitavelmente, surdos! Se não existe ainda um curso que procure ensinar as pessoas a envelhecerem com saúde e dignidade, há muitos pensadores que se devotam a fornecer livros a respeito. Não gosto da categoria "autoajuda". Para mim, todos os livros são, necessariamente, de autoajuda. Se um livro não acrescenta nada ao seu conhecimento, por que lê-lo? Um dos livros recomendados é "Mente Afiada", de Sanjay Gupta, um neurocirurgião que assegura ser possível preservar, em qualquer idade, um cérebro saudável e ativo. Dentre as receitas que ele fornece, estão a certeza de que perda de memória não é problema. Diz que "a combinação da memória com a possibilidade de gerar novos neurônios significa que continuamos a mudar as informações, a capacidade e a potência de aprendizagem do cérebro". O que é preciso é manter o treinamento. Interessar-se por coisas novas. Ler bastante. Ler qualquer coisa. Revistas em quadrinhos. Pequenos textos. Poesia! Tentar declamar as poesias já conhecidas e nunca mais recitadas. O essencial é mexer-se. Movimentar a mente, mas também movimentar o corpo. Para Gupta, o exercício físico "é a única atividade comportamental cientificamente comprovada que provoca efeitos biológicos benéficos para o cérebro". Caminhar é o mínimo que se pode fazer. Trocar o elevador por escadas, sempre que possível. Abaixar-se. Por que não tentar recolher as sementes que as árvores que ainda restam nas vias públicas deixam cair e vão ser desperdiçadas, quando poderiam se converter em mudas e novas árvores? Não importa que você talvez não tenha a oportunidade de vê-las crescidas. Alguém plantou aquelas que nos encantam e que são sumariamente cortadas e não substituídas pela ignorância predominante. Pensar no outro é outro caminho. O egoísmo isola e angustia. Quem só pensa em si vai se tornando amargo, à medida em que o tempo passa. Vai colecionando perdas, sente possuir mais gente "do lado de lá do que de cá". Perde amigos, familiares, referências e parâmetros. Sente-se também perdido, por falta de ambiente. Mas se tiver um propósito de se interessar por outros, pelos que precisam de amparo, apoio, uma palavra amiga, tudo será diferente. Experimente o voluntariado! Quando se olha para trás, vê-se a dimensão de nossa ventura. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 17 07 2022 voltar |
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