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O QUE SE ESPERA DE UM CANDIDATO?
Acadêmico: José Renato Nalini
Hora de fazer uma reflexão a respeito dos duzentos anos de Independência.

O que se espera de um candidato?

2022 é um ano muito especial para o Brasil. Hora de fazer uma reflexão a respeito dos duzentos anos de Independência. Ela vigora ou o mundo é hoje uma total interdependência, cada Estado nacional dependendo geopoliticamente dos demais?

Também é hora de revisitar a Semana de Arte Moderna, em seu centenário. Cada vez mais instigante como anseio de resgate do genuinamente nacional, sem xenofobia, mas com orgulho daquilo que é nosso e que é tão legítimo quanto o melhor produzido em outras plagas.

Mais relevante ainda, repensar a Revolução Constitucionalista de 1932. A saga paulista, manifestação ímpar de cooperação, solidariedade, desprendimento, fervor patriótico e destemor, que nunca mais se viu neste chão. Será que a existência formal de uma Constituição é suficiente para confortar o civismo bandeirante? Não precisaríamos de uma renovação na crença no constitucionalismo, implementar de fato aquela “sociedade aberta dos intérpretes da Constituição”, para que ela não fosse mais vilipendiada, desprezada e desobedecida?

Tudo isso vem à mente do eleitor esclarecido, quando fica a aguardar que os candidatos enfrentem os problemas brasileiros e explicitem suas políticas estatais para solucioná-los ou, pelo menos, encaminhá-los.

Sem a veleidade de abarcar toda a gama de questões impostas a um projeto consequente e consistente, penso que as propostas deveriam se deter em: a) redução real das desigualdades. Não prospera um país que tem trinta e três milhões de famintos e mais de cento e cinquenta milhões de viventes em insegurança alimentar; b) tutela da natureza. A inclemente destruição da floresta – em todos os biomas, não só na emblemática Amazônia – é uma âncora levando o Brasil para as profundezas catastróficas do caos; c) educação de qualidade. Levar a sério, com responsabilidade, a chave que implicará na verdadeira transformação pela qual o país deverá passar. Não mais esse mantra do decoreba, mas investir nas competências socioemocionais, fazer com que o educando se valha de todo o conhecimento disponível e acessível a um clique no mundo web, selecionando aquilo que lhe será útil vida afora. Chamar a família e a sociedade a assumir o seu papel no dever de educar, conforme o constituinte já explicitou no artigo 205 da Constituição da República. Educação é algo muito complexo para se deixar exclusivamente sob a responsabilidade do governo.

Não vejo propostas viáveis para o d) desemprego. Inúmeras profissões já desapareceram, outras ainda vão ser eliminadas pela irreversível automação. O empreendedorismo é uma política a ser incentivada com vigor, pois uma das tendências contemporâneas é a mobilidade profissional. Diplomas pouco significam hoje para fazer com que seus portadores sejam felizes e produtivos. A adaptabilidade parece constituir-se no atributo mais desejável para as novas gerações. Tudo indica que os jovens de hoje passarão por várias atividades no decorrer de sua existência. Nunca mais o emprego definitivo e a estabilidade absoluta.

e) enxugar o Estado. Tudo o que o Estado faz e que poderia ser feito de melhor forma pela iniciativa privada, é suscetível de ser transferido para o particular. Pois a atuação do Estado, salvo raríssimas exceções, é sempre mais lenta, menos eficiente, mais dispendiosa e menos confiável do que a prestação que a iniciativa privada oferece à sociedade.

Um Estado mínimo enfatizaria o papel das agências reguladoras, que não podem ser esvaziadas, nem cooptadas para apaniguados, mas precisam ser eficientes controles fiscalizatórios e orientadores daquilo que o governo transferiu para os particulares.

f) desarmamento geral. Sei que é polêmico, mas a indústria bélica sequer deveria existir. Fabricar um instrumento que mata? É irracional. É primitivo. E é burro. Pois a tecnologia já oferece equipamento que neutraliza sem letalidade. Armar indiscriminadamente, sob pretexto de aumentar a segurança individual, gera episódios tristes como aqueles que os Estados Unidos nos oferecem recorrentemente.

O desarmamento também deveria ser dos espíritos. Ódio, intolerância, preconceito, crueldade, ira, tudo isso em nada contribui para elevar o nível civilizatório do Brasil.

Infelizmente, não vejo mensagens aos eleitores que foquem os temas que realmente preocupam os brasileiros neste 2022. Que a Providência nos ilumine e nos faça acertar em outubro.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 03 07 2022



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