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Acadêmico: José Renato Nalini Amar e sentir-se amado é a experiência mais saborosa que se oferece
Namorar é preciso O ser humano é um ser amorável. No fundo, todas as pessoas são carentes de carinho e necessitam cultivar afetos. Uma vida só faz sentido quando se relaciona com outra. Como é inexplicável aquela sensação de que alguém completa o seu eu! Aguardar um telefonema, ouvir aquela voz, recordar o primeiro encontro, a música escolhida para ser o hino de entrelaçamento entre duas almas... Ninguém é feliz sozinho. Muitas vezes, a solidão se impõe por causas que não contaram com a participação de quem se vê obrigado a ficar só. A morte leva o ser amado. Outras vezes, ocorre o cansaço do material afetivo. Quantas são as ocasiões em que deixamos de buscar a reconciliação, por mesquinhos sentimentos de equivocada autoestima! O acaso - ou seria a lógica de Deus, como queria Georges Bernanos - coloca em nossa existência um ser cuja existência ignorávamos. De repente, não mais do que de repente, essa figura passa a ocupar por completo a nossa mente. Pensa-se constantemente nela. Quando distante, a mente se aflige, acreditando que ela possa se interessar por outro. Tudo se desanuvia quando ocorre o reencontro. Então esquece-se a aflição, a preocupação, a angústia, a dúvida. Tudo se esvai, perante aquela presença arrebatadora. "Não é bom que o homem fique só!", verdade evangélica. A busca do ser amado não pode consistir num exercício planejado, como se fora uma empreitada a ser obtida mediante percurso de várias etapas. Não acredito nessas invectivas artificiais, baseadas até em alguns fundamentos ponderáveis: procurar alguém com idade compatível, com alguns valores em comum, com a possível identidade de gostos, de cultura, de formação. Com a mesma religião e igual concepção da vida. Pode ser que os "arranjos" funcionem como espécie de compensação a quem não soube detectar as oportunidades surgidas na rotina. Mas nada se iguala ao encantamento da descoberta. Aquela voz, aquele perfume, aquele olhar, quando se consegue dar conta, o laço já não se desfaz. Aquilo mudará sua vida. Não se vive mais sem a pessoa amada. Conheço casais que continuam enamorados, décadas depois do primeiro encontro. Constituem a prova de que é possível manter um relacionamento amoroso com carinho e respeito mútuo. Mas também conheço com aqueles que parecem beija-flores. Vão de néctar em néctar, sem se deter e sem se deixar aprisionar. Quem está certo, quem está errado? Não é uma questão a ser apreciada sob tal ótica. Os humanos são heterogêneos. São singulares. Todos os seres dessa espécie são irrepetíveis. A homogeneidade é própria de outros conjuntos gregários: colmeias, formigueiros, bandos, matilhas, alcateias. O principal é ter em vista que nossa peregrinação por este planeta maltratado e frágil é efêmera. Temos algumas décadas, não mais. Temos de fazê-las valer. Como? Aceitando o convívio com os outros. Cada pessoa é um acervo inconfundível de experiências, de talentos, de dons e de particularidades. Todos aprendemos com todos. Sempre haverá o que descobrir numa outra alma. Não existe termo final para a cessação do milagre do amor. Namoro é um exercício atemporal. Amar e sentir-se amado é a experiência mais saborosa que se oferece a estas criaturas frágeis, carentes, necessitadas de ternura. Quando se consegue enxergar um brilho diferente nas pupilas de qualquer pessoa, quando ela ri à toa, pode apostar: ela está namorando! Feliz dia dos namorados para todos! Publicado no Jornal de Jundiaí, em 12 06 2022 voltar |
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